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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

STAN GETZ – MOMENTS IN TIME (Resonance Records) / JOÃO GILBERTO / STAN GETZ GETZ/GILBERTO '76 (Resonance Records)



Que semana mágica deve ter ocorrido em Keystone Korner em Maio de 1976. Stan Getz atuou por seis noites no clube de San Francisco, e cada noite foi dividida em duas. A primeira parte do trabalho apresentava o quarteto do saxofonista com a pianista Joanne Brackeen, o baixista Clint Houston e o baterista Billy Hart, e na segunda parte eles tinham a participação do violonista e vocalista brasileiro João Gilberto, com quem Getz fez uma definitiva gravação de bossa nova, em 1964, Getz/Gilberto.

Em 2012, os produtores da Resonance , Zev Feldman e George Klabin, abordaram o proprietário da Keystone , Todd Barkan,  sobre pesquisar sua massiva coleção de gravações realizadas no clube, e veio à tona as fitas de Getz. O resultado, quatro anos depois: dois álbuns essenciais, um apresentando o quarteto e outro exibindo Gilberto.

Cada noite começou com o quarteto, assim começaremos com este disco. “Moments in Time” é um belo e variado programa que não representa nenhuma dúvida sobre um típico trabalho daquela semana. Getz está no apogeu aqui, seu tenor exsudando calor emocional e a frieza da West Coast. Após uma adorável introdução, o quarteto interpreta “Summer Night” de Harry Warren como um hard bop em tempo médio; os solos de Getz com vigor para vários minutos e Brackeen assume uma extensa e incansável travessura no meio da seção dos nove minutos da música. Como se fosse uma preparação para a aparição de Gilberto, o grupo oferece uma versão jovial do samba de Antônio Carlos Jobim, “O Grande Amor”, apresentando as dóceis linhas de Getz e a manutenção da cadência rítmica com Hart. Getz introduz seu sóbrio sopro com sussurro em vibrato na balada de Wayne Shorter, “Infant Eye”, suportada pelo empático complemento de Brackeen e econômico tanger das cordas de Houston.

O programa apresenta o soul-jazz (“The Cry of the Wild Goose” de Kenny Wheeler com Hart gotejando batidas funk ) , balada (“Peace” de Horace Silver) e bop latino (12 minutos de “Con Alma” de Dizzy Gillespie) antes terminando com belas tomadas de “Prelude to a Kiss”  de Duke Ellington e “Morning Star” de Jimmy Rowles. 

O quarteto, sem emenda, passa para o samba quando Gilberto se junta. Gilberto, cujo belo vocal sem relevo e livre forçam a força ativa para o êxito da esposa Astrud nos sucessos “Corcovado (Quiet Nights of Quiet Stars)” e “The Girl From Ipanema” não perdeu qualquer dos seus toques nos interpostos 12 anos. Este é mais o palco para Gilberto do que para Getz; o saxofonista não toca em várias canções, o quarteto passa para os bastidores e o violão de Gilberto, simplesmente dedilhado, é o instrumento apresentado, às vezes, como em “Rosa Morena”, é o único instrumento, salvo notas de baixo por medida.

Porém, nesta simplicidade— os acordes sem adornos, o vocal não exagerado em português— a beleza é estabelecida. O disco inicia e termina com “É Preciso Perdoar”, que contrasta simples e repetidos acordes com a adorável melodia soprada por Getz. Estão entre eles mais de pequenos sambas e bossa novas, em variações jubilosas e pesarosas, incluindo a bem batida “Aguas de Março” (“Waters of March”) e “Doralice” e belezas menos conhecidas. As composições e performance devem ser descomplicadas, mas as melodias e o canto melancólico tocará seu coração.

Fonte: Steve Greenlee (JazzTimes)

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