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domingo, 1 de abril de 2018

BOB DeVOS – SIX STRING SOLOS (American Showplace Music)



Não será surpresa se alguém familiarizado com o trabalho de Bob DeVos como líder, na ausência de uma banda, observe que as virtudes do guitarrista permaneçam intactas e brilhem mais. As pessoas assistem aos trabalhos de DeVos —a maioria no Norte de New Jersey ou em torno dele, usualmente em formatos de trios e quartetos— com alta expectativa. Abarcando o emprego simultâneo de um número de habilidades, que lhe conferiram um estilo franco e simples, e nessas   ocasiões DeVos sempre apresenta suas armas. Uma distinta e bem encorpada entonação excita e conforta. Seu corajoso, persistente e fluido estilo requer meticulosamente o desenvolvimento de ideias sobre o curso da improvisação. Todas as coisas que DeVos executa são instruídas por um intelecto agudo e refinada sensibilidade artística. Uma genuína dose de blues segue através de sua música em formas que vão do sutil ao palpável, sem os clichês encontrados em alguns instrumentistas. Durante seus solos uma firme e suingante força viva—resoluta, profunda, calma—penetra de forma que DeVos não necessita alcançar o clímax para se instalar abaixo de sua pele.

Todos estes fatores são evidentes ao longo de “Six String Solos”, primeira gravação sozinho de DeVos, e sexta como líder. DeVos prova estar em cada partícula com um trabalho desembaraçado sem uma rede de segurança com ele, quando ele está suportado por acompanhantes antigos, o organista Dan Kostelnik e o baterista Steve Johns. O programa consiste em oito grandes favoritos do cancioneiro norte-americano, uma de Kenny Burrell e uma original de DeVos. Suas interpretações são profundamente estruturadas, as melodias reconhecidamente enfileiradas através de uma miscelânea de acordes e notas simples. A maioria dos impulsos desdobram-se em um paciente e vagaroso modo, sem se afligir com o tempo estrito. "Come Rain or Come Shine", "Yesterdays", "Have You Met Miss Jones", "Some Other Time" e "While We're Young" são os principais exemplos da abordagem de DeVos. Há certa densidade em sua execução, embora as melodias sejam embelezadas só no ponto. Ele não as sobrecarrega ou as oprime. Mais importante, DeVos apresenta uma genuína ternura para as canções. Ele nunca dá a impressão que elas são obrigações a serem encontradas antes do trabalho essencial de improvisação iniciar.

Não dissimilar às suas interpretações das canções, a função das improvisações de DeVos em níveis diferentes tão bem se aglutinam dentro de um todo. As linhas do solo são vigorosas, desembaraçadas, e não tão apartadas do material de origem. O guitarrista não necessita de uma seção rítmica para suingar e gerar um robusto e franco momento de força viva. Você pode sempre sentir a batida base, mesmo sem a presença de um baixo e uma bateria. Breves silêncios não estão ausentes, mas antes contribuem para impulsionar a música. DeVos frequentemente gera um impacto emocional, às vezes apenas executando uma frase ou duas, ainda que nunca soe como se ele tivesse tensionando para impressionar. Não obstante exemplos de sua capacidade artística sejam evidentes em cada faixa, observe com atenção o solo em "How Deep Is The Ocean", onde ele se move de estribilho a estribilho, gradualmente incrementando força e passando a ser mais animado.

Observe as formas nas quais DeVos utiliza combinações de notas simples e acordes em todos os seus solos em quantidade para uma espécie de fricção criativa. As notas simples são granulosas, expressivas e focadas -  os sons de um homem indo a algum lugar com um genuíno senso de propósito. Parte do prazer da audição de passagens mais longas com notas simples é o elemento de suspense — quando e onde estará o próximo acorde (s)? . Os acordes frequentemente induzem um pouco de turbulência em relação às notas simples. Elas vão de     um som mais sussurrado a uma onda tempestuosa. O peso e a ênfase dos acordes variam bem. No meio desta diversidade, os solos em sua inteireza são convincentes, bem como comoventes e arrojados.

No atual estágio de sua carreira alguém deveria esperar que DeVos—não diferente de muitos outros veteranos músicos de jazz— retornasse ao conforto de suas associações profissionais anteriores. Ele poderia escolher tocar em segurança e focar em projetos que homenageiam Richard "Groove" Holmes ou Charles Earland, duas das lendárias figuras do jazz no Hammond B-3 órgão. Embora “Six String Solos” certamente inclui elementos do trabalho de DeVos nas bandas dos seus mestres, a gravação fala para o presente mais do que para o passado. Estou apostando que DeVos será enfim reconhecido por suas habilidades no novo milênio, que enfatizam sua música movendo-se para adiante, em vez de consistentemente revisitar triunfos anteriores.

Faixas: Come Rain Or Come Shine; Yesterdays; Speech Without Words; Have You Met Miss Jones; Chitlins Con Carne; How Deep Is The Ocean; Some Other Time; Beautiful Love; Summertime; While We're Young

Fonte: DAVID A. ORTHMANN (AllAboutJazz)

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