
A técnica de violão é muito complexa e lida com dificuldades
físicas do instrumento e da mão humana. Muito se trasteja, muito se antecipa,
muito se “suja”. Cordas são indóceis e o braço do violão é um cavalo selvagem,
com seus trastes arredios. Toda essa dinâmica faz parte da cultura do
violonismo. Raphael Rabello, gênio, tinha essa característica.
Al di Meola, Segóvia, Dilermando Reis, Paco de Lucia, John
McLaughlin, Django Reinhardt e gerações inteiras de violonistas deixaram suas
marcas geniais pelo mundo das cordas no interior de uma estética da “violência”
do toque (com toda a delicadeza embutida nos momentos de contenção). Eles
literalmente “feriam” as cordas.
Yamandu superou esse desafio da física. Como ele foi
criticado injustamente quando de seu “surgimento”, ele deve ter incorporado a
missão de tocar o mais “limpo” possível, tanto no que diz respeito ao tempo,
quando no que diz respeito ao timbre. Ele conseguiu.
Yamandu simplesmente não “erra”, não suprime notas, não
acelera para terminar movimentos ou submovimentos. Não inventa, não conserta
tempos descompassados, não faz gambiarra. É impressionante. É inumano.
Mais do que tudo isso, do que essa técnica absolutamente
insuperável, ele tem um sentimento e uma dicção arrebatadores. A “sujeira” dele
é emocional, não técnica.
Eu me dei conta disso recentemente, porque acreditava ainda
no tecido crítico que marcou o início de sua carreira, há uns 15 anos atrás.
Mas, essas críticas viraram pó.
Curioso. Talvez tenha sido esse conjunto de críticas que
possibilitou o surgimento de um violonista tão singular. E, é claro, a
obstinação – espontânea de tão verdadeira e bem-sucedida – desse que para mim é
o maior violonista do planeta.
Veja Yamandu Costa executando o tango 'El Choclo'
Fonte: Gustavo Conde (Publicado no Jornal GGN)
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