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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A TÉCNICA INUMANA DE YAMANDU COSTA


O que deve ter acontecido para Yamandu Costa se tornar o maior violonista do mundo – na minha chã opinião – foi algo muito singelo. Yamandu foi prodígio, apareceu adolescente na cena, assombrando tudo e a todos. Era fenomenal, mas tinha uma sutileza (que a maioria esmagadora de violonistas virtuoses apresenta): consertava tempos e mastigava notas.

A técnica de violão é muito complexa e lida com dificuldades físicas do instrumento e da mão humana. Muito se trasteja, muito se antecipa, muito se “suja”. Cordas são indóceis e o braço do violão é um cavalo selvagem, com seus trastes arredios. Toda essa dinâmica faz parte da cultura do violonismo. Raphael Rabello, gênio, tinha essa característica.

Al di Meola, Segóvia, Dilermando Reis, Paco de Lucia, John McLaughlin, Django Reinhardt e gerações inteiras de violonistas deixaram suas marcas geniais pelo mundo das cordas no interior de uma estética da “violência” do toque (com toda a delicadeza embutida nos momentos de contenção). Eles literalmente “feriam” as cordas.

Yamandu superou esse desafio da física. Como ele foi criticado injustamente quando de seu “surgimento”, ele deve ter incorporado a missão de tocar o mais “limpo” possível, tanto no que diz respeito ao tempo, quando no que diz respeito ao timbre. Ele conseguiu.

Yamandu simplesmente não “erra”, não suprime notas, não acelera para terminar movimentos ou submovimentos. Não inventa, não conserta tempos descompassados, não faz gambiarra. É impressionante. É inumano.

Mais do que tudo isso, do que essa técnica absolutamente insuperável, ele tem um sentimento e uma dicção arrebatadores. A “sujeira” dele é emocional, não técnica.

Eu me dei conta disso recentemente, porque acreditava ainda no tecido crítico que marcou o início de sua carreira, há uns 15 anos atrás. Mas, essas críticas viraram pó.

Curioso. Talvez tenha sido esse conjunto de críticas que possibilitou o surgimento de um violonista tão singular. E, é claro, a obstinação – espontânea de tão verdadeira e bem-sucedida – desse que para mim é o maior violonista do planeta.

Veja Yamandu Costa executando o tango 'El Choclo'


Fonte: Gustavo Conde (Publicado no Jornal GGN)

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