A abordagem de Mary Halvorson
no toque da guitarra dá um sentimento de que ela está tentando desvendar algum
grande mistério, buscando a correta combinação de notas e entonações, que devem
destrancar um segredo de câmara dentro do seu instrumento. E nos últimos álbuns
do Thumbscrew— um associado par de
lançamentos, apresentando um grupo de material inédito e outro de
reinterpretações – ela parece está chegando mais próximo de quebrar o código.
Halvorson atua com
seus mais impressionantes cálculos em “Theirs”, a coletânea que encontra a
guitarrista, o baterista Tomas Fujiwara e o baixista Michael Formanek interpretando
o trabalho de Wayne Shorter, Stanley Cowell e Jacob do Bandolim, dentre outros.
O trio mantém o núcleo melódico destes frequentemente heterodoxos standards, mas claramente encanta
ampliando as partituras, até voltar a serem repetidas.
A tomada do trio em
diferente e bamboleante balada de Brooks Bowman, “East Of The Sun”, é caótica,
com cada instrumentista jorrando frases e notas deformadas em amontoadas
desintegrações. Um suave embaralhamento de escalas através de “Scarlet Ribbons
(For Her Hair)” de Evelyn Danzig em 1949, vem a ser líquido e alucinógeno
através do judicioso uso de efeitos por parte de Halvorson e uma suingante
utilização de vassourinhas de Fujiwara. Mesmo as mais francas de interpretações,
como sua versão brilhante para “Benzinho” de Jacob do Bandolim, são picadas com
poucos momentos, que rompem o foco ou explora a explosão súbita, que eriça e
surpreende.
O associado ao álbum,
“Ours”, encontra a exploração do trio emparelhada ao mais variado território. As
nove composições—com cada músico contribuindo com três peças—percorrem de forma
impressionante a escala musical, do lançamentos das passagens de Formanek, como
grunge em “Cruel Heartless Bastards” para
a maior austeridade do trabalho de Fujiwara, que faz grande uso do silêncio e a
ressonância deslumbrante dos seus pratos.
As peças de Halvorson
em “Ours” apontam para uma pacífica complexidade. “Thumbprint” é construída humildemente
com um ritmo bamboleante e uma cativante frase melódica, que lentamente são
explodidos e rearranjados. O tempo levanta e os três deslizam ao redor como animais
amedrontados, procurando escapar de uma ameaça percebida. “Smoketree” segue uma
fórmula a similar, apenas com um pouco de energia maníaca.
Como um parceria
conceitual, faz sentido ter estas duas gravações chegarem juntos ao mundo. Mais
que isto, “Theirs and Ours” perfeitamente resume a rara química que estes
instrumentistas encontraram juntos, e as conflagrações musicais que podem
emergir quando astistas encontram-se como almas gêmeas com quem colaborar.
Faixas: Snarling
Joys; Saturn Way; Cruel Heartless Bastards; Smoketree; Thumbprint; One Day;
Rising Snow; Words That Rhyme With Spangle (Angle Bangle Dangle Jangle Mangel
Mangle Strangle Tangle Wangle wrangle); Unconditional. (55:54). Theirs:
Stablemates; Benzinho; House Party Starting; The Peacocks; East Of The Sun;
Scarlet Ribbons (For Her Hair); Buen Amigo; Dance Cadaverous; Effi; Weer Is Een
Dag Voorbij. (45:57)
Músicos: Mary
Halvorson, guitarra; Michael Formanek, baixo; Tomas Fujiwara, bateria.
Fonte: Robert Ham
(DownBeat)
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