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terça-feira, 16 de julho de 2019

THUMBSCREW - OURS/THEIRS (Cuneiform)


A abordagem de Mary Halvorson no toque da guitarra dá um sentimento de que ela está tentando desvendar algum grande mistério, buscando a correta combinação de notas e entonações, que devem destrancar um segredo de câmara dentro do seu instrumento. E nos últimos álbuns do Thumbscrew— um associado par de lançamentos, apresentando um grupo de material inédito e outro de reinterpretações – ela parece está chegando mais próximo de quebrar o código.

Halvorson atua com seus mais impressionantes cálculos em “Theirs”, a coletânea que encontra a guitarrista, o baterista Tomas Fujiwara e o baixista Michael Formanek interpretando o trabalho de Wayne Shorter, Stanley Cowell e Jacob do Bandolim, dentre outros. O trio mantém o núcleo melódico destes frequentemente heterodoxos standards, mas claramente encanta ampliando as partituras, até voltar a serem repetidas.

A tomada do trio em diferente e bamboleante balada de Brooks Bowman, “East Of The Sun”, é caótica, com cada instrumentista jorrando frases e notas deformadas em amontoadas desintegrações. Um suave embaralhamento de escalas através de “Scarlet Ribbons (For Her Hair)” de Evelyn Danzig em 1949, vem a ser líquido e alucinógeno através do judicioso uso de efeitos por parte de Halvorson e uma suingante utilização de vassourinhas de Fujiwara. Mesmo as mais francas de interpretações, como sua versão brilhante para “Benzinho” de Jacob do Bandolim, são picadas com poucos momentos, que rompem o foco ou explora a explosão súbita, que eriça e surpreende.

O associado ao álbum, “Ours”, encontra a exploração do trio emparelhada ao mais variado território. As nove composições—com cada músico contribuindo com três peças—percorrem de forma impressionante a escala musical, do lançamentos das passagens de Formanek, como grunge em “Cruel Heartless Bastards” para a maior austeridade do trabalho de Fujiwara, que faz grande uso do silêncio e a ressonância deslumbrante dos seus pratos.

As peças de Halvorson em “Ours” apontam para uma pacífica complexidade. “Thumbprint” é construída humildemente com um ritmo bamboleante e uma cativante frase melódica, que lentamente são explodidos e rearranjados. O tempo levanta e os três deslizam ao redor como animais amedrontados, procurando escapar de uma ameaça percebida. “Smoketree” segue uma fórmula a similar, apenas com um pouco de energia maníaca.

Como um parceria conceitual, faz sentido ter estas duas gravações chegarem juntos ao mundo. Mais que isto, “Theirs and Ours” perfeitamente resume a rara química que estes instrumentistas encontraram juntos, e as conflagrações musicais que podem emergir quando astistas encontram-se como almas gêmeas com quem colaborar.

Faixas: Snarling Joys; Saturn Way; Cruel Heartless Bastards; Smoketree; Thumbprint; One Day; Rising Snow; Words That Rhyme With Spangle (Angle Bangle Dangle Jangle Mangel Mangle Strangle Tangle Wangle wrangle); Unconditional. (55:54). Theirs: Stablemates; Benzinho; House Party Starting; The Peacocks; East Of The Sun; Scarlet Ribbons (For Her Hair); Buen Amigo; Dance Cadaverous; Effi; Weer Is Een Dag Voorbij. (45:57)

Músicos: Mary Halvorson, guitarra; Michael Formanek, baixo; Tomas Fujiwara, bateria.

Fonte: Robert Ham (DownBeat) 

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