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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

MELISSA ALDANA – VISIONS (Motéma Music)

Virtuosismo composicional e instrumental sempre caminha ao longo da borda da navalha entre a autoindulgência e a intencional realização. Em “Visions”, buscado após a saxofonista Melissa Aldana provar que ela não é apenas mestre de balançar nessa borda, mas que ela pode também ir além das complexidades da estrutura, escalas e improvisação e, naturalmente, criar sua própria estética musical. Em interação com um time de estrelas como acompanhantes igualmente dinâmicos—Sam Harris nos teclados, Pablo Menares no baixo, tão bem quanto o baterista Tommy Crane e Joel Ross adicionando alguns embelezamentos no vibrafone—Aldana faz jus a grandes expectativas e mais algumas.

Conforme o oposto do que deve ser esperado dela, devido à sua descendência chilena e o álbum sendo largamente inspirado pelo trabalho da artista mexicana Frida Kahlo, as composições aqui não explodem a partir da influência norte-americana, nem em sua natureza rítmica e melódica, mas apenas sutilmente incorpora alguns destes elementos. De qualquer modo, a faixa título, que faz a abertura, é alguma coisa, exceto sutil, e imediatamente confronta o ouvinte com talentos hard-bop às mãos. Um rumo harmonicamente, tão ritmicamente intricado, é introduzido pelo sax e vibrafone em uníssono, enquanto o piano e a bateria agitadamente empilham modelos para vigorosamente serem golpeados pelo baixo.

Aqui, e ao longo do álbum, o acompanhamento do piano de Harris, tão bem quanto uma improvisação solo, exibe apenas quão distante o seu entendimento harmônico vai e quão profundamente mergulha na tradição dos seus ídolos—mais proeminentemente Thelonious Monk— e o quanto ele é capaz de explorar. As dissonâncias leves que derivam do seu enquadramento harmônico são revoltosamente indeterminadas pela ferocidade da bateria de Tommy Crane.

Mesmo nas tomadas mais tranquilas, tais como nas baladas "Abre Tus Ojos" ou "Never Let Me Go", o único standard neste trabalho, a banda toca com uma urgência que é contagiosa. O lado cromático harmônico de Harris entrando na segunda canção, emula um sorriso que é tão vigoroso quanto os que vêm deste reminiscente contemporâneo de Sullivan Fortner em estilo e temperamento.

Velocidade e quantidade de notas são características que Aldana não quer saber. Seu toque é sutil e elegante e uma natureza altamente melódica, enquanto a entonação do saxofone é contrastantemente enxuta dentro da mistura, assim, não é o centro da atenção, mas parte do todo, como qualquer camuflagem. Contrária à camuflagem, entretanto, a paleta colorida em exibição, aqui, é algo mais importante que imperceptível. Tem cintilantes características de fauvismo misturado com o neon de Warhol e um gracioso final com os ataques das escovinhas.

Faixas: Visions; Acceptance; La Madrina; Perdón; Abre Tus Ojos; Elsewhere; Dos Casas Un Puente; Never Let Me Go; The Search; Su Tragedia; El Castillo de Velenje; Camino al Sol.

Músicos: Melissa Aldana: saxofone; Sam Harris: piano; Joel Ross: vibrafone; Pablo Menares: baixo; Tommy Crane: bateria.

Nota: Este álbum foi relacionado entre os 40 melhores de 2019 conforme escolha dos críticos da JazzTimes.

Fonte: Friedrich Kunzmann (AllAboutJazz)

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