Há um tipo de
improvisação que parece quase mística para o observador. É um completo livre fluir com intensadade narrativa, o
arco do qual apenas é estabelecido conforme a atuação dos instrumentistas, e nós
ouvimos, tentando acompanhar. É a essência do trabalho conjunto do baterista Tyshawn
Sorey e da pianista Marilyn Crispell.
“The
Adornment Of Time”—que segue uma colaboração inicial de 2014—é uma única e
ininterrupta improvisação gravada ao vivo no The Kitchen de Nova York. Na superfície do álbum, parece seguir uma
progressão típica de improvisação free:
um sussurrado ato, primeiro melodicamente, escasso do balanço suave de Crispell,
delicado movimento dos dedos dentro de uma meia seção com pratos pesados, ondulando
como ondas batendo na face de um rochedo, antes de encerrar com a dissolução
melancólica dentro do silêncio. Ainda, há um revigorante igualitarismo.
Os artistas
são camaleônicos em seus instrumentos. Sorey usa uma variedade de sinos tocados
e vassourinhas texturais para evocar suaves melodias do reverberante piano, enquanto
Crispell martela uma complexidade rítmica e firmemente suingante no meio da
sessão, densamente embalando as notas e exibindo visões de seus trabalhos
iniciais como parte de um quarteto “clássico” de Anthony Braxton.
Enquanto mais
dinâmicas explodem, podem se sentir algo avassalador em suas feéricas
interações, eles providenciam um necessário contraponto para a abertura
reflexiva e seções conclusivas, com as últimas sendo dominadas por frases lânguidas.
Um trabalho deste, instintiva e eminentemente, no tempo presente, pode parecer
difícil de embalar dentro da perspectiva da gravação, ainda que dentro do
estabelecimento da chave da forma jazzística: as sinápticas corridas dos
músicos comunicando puramente dento do momento.
Personnel:
Tyshawn Sorey, bateria, percussão; Marilyn Crispell, piano.
Nota: Este álbum está entre os 40 melhores de 2019 escolhidos
pelos críticos da JazzTimes.
Fonte: Ammar
Kalia (DownBeat)
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