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sábado, 21 de março de 2020

MILTON NASCIMENTO – MARIA MARIA / ÚLTIMO TREM (Far Out)


A serenidade do vocalista e compositor brasileiro, Milton Nascimento, é uma das mais confiáveis virtudes em toda a música. Estas duas trilhas sonoras para balé —originalmente gravadas no início da sua carreira, lançados em CD décadas atrás, e agora disponível em vinil pela primeira vez— utiliza a assinatura do som de Nascimento como um despite para criar a mais envolvente música, politicamente carregada, que ele já fez.

Maria Maria é uma saga sobre o legado da escravidão no Brasil, apresentada primeiro em 1976, poucos anos depois do sucesso do disco de Nascimento, “Clube da Esquina”. A canção título é estruturada como uma clássica canção folk, com Nascimento liderando ricas harmonias vocais sobre a guitarra de Toninho Horta, um dos muitos jovens músicos, nas duas trilhas sonoras, que seriam estrelas nacionais (outros são o percussionista Naná Vasconcelos e o saxofonista Paulo Moura). Porém, a persistentemente suave cortina é brevemente dominada pela representação pungente da história do Brasil, com vozes angustiadas sobre o som de chicotes sobre a pele, simulado com uma dureza sem amplificação, que providencia “Trabalhos” e “Lilia” com duro poder emocional. Isto lidera “A Chamada”, que prospera na tensão entre vocais beatíficos e o choro exaltado e tumultuoso de pássaros e percussão africana (com um punhado de canções dos balés, “A Chamada” passou a ser parte do repertório de Nascimento).

Apresentado cinco anos depois, em 1981, “Último Trem (Last Train) ” lida com o encerramento de uma linha férrea, que conectava comunidades de mineradoras dentro de Minas Gerais, Estado onde Nascimento cresceu, mas viveu em centro urbanos do Rio e São Paulo. Os temas desta trilha sonora são menos ambiciosos, mas musicalmente mais ricos e mais acessíveis aos fãs dos seus trabalhos posteriores. A benvinda adição dos pianistas Wagner Tiso e João Donato é imediatamente aparente em “Minas”, e a vocalista Naná Caymmi está maravilhosa em “Ponta de Areia”, o nome da última parada da linha de trem. Há um punhado de efeitos de apitos de trem e algumas palavras narrativas, mas, majoritariamente, “Último Trem” é um cortejo de vocais deslumbrantes e melodias folk. Lamentos lacrimosos de solidão e dias passados (um suplemento de cordas em “Olho d’Água”, um canto em prece de “Oração”) são deliciosamente contrapostos por canções mais felizes como o robusto coral “Bicho Homem”; a divertida, com inflexão do órgão, “Roupa Nova” (“New Clothes”) e a inundação de raios de júbilo com assobios, guitarras e marimbas caindo em “Bola de Meia, Bola de Gude” (“Stickball and Marbles”).

Apesar de tudo, mesmo entre os espancamentos nos escravos e o apito dos trens, estende-se a serenidade, que é a marca de Nascimento, na mistura, como lençol de água ou baixo cantarolado em um assento do coro. É constante sua persistência suave na trilha sonora do espírito humano.

Fonte: BRITT ROBSON (JazzTimes)

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