Em “The People I Love”, o saxofonista alto Steve Lehman, como
Janus, olha para trás, enquanto, simultaneamente, olha para frente. Ele recruta
o celebrado pianista Craig Taborn para suportar seu antigo trio formado pelo
baixista Matt Brewer e pelo baterista Damion Reid. Foi uma vez mais dito que Taborn
estava fadado a tocar melhor nas gravações de outros artistas do que em suas
próprias. Felizmente, já não é o caso, mas seu permanente compromisso dá a ele
seu status de MVP (NT: Jogador Mais Valioso) deste time, e isto diz alguma
coisa. Lehman alista sua ajuda não abordando uma extensão moderna de
reinterpretações, mas também revisitando originais que ele gravou antes.
Esta vigorosa banda, capturada ao vivo em Astoria, Nova
York, em 2019, diverte-se nas complexidades feéricas do jazz matemático de Lehman
derivado do post-bop. Com sua entonação picante e seguindo o ritmo, Lehman evoca
um legado de Charlie Parker, Ornette Coleman e Anthony Braxton (o último, um
dos seus professores), mas com um sentimento todo seu. A inclinação natural de Lehman
para forçar as notas, frequentemente, cria uma justaposição notável com o piano
ou baixo nos tempos com mais tempos, resultando em sentimento ambíguo emocional.
Este é o caso de "Ih Calam & Ynnus", que
inicia com Taborn apresentando sua fabulosa destreza na forma como ele segura
um tempo diferente em cada mão. Quando o baixo e a bateria saltam em um recorte
mais rápido, mas não sincronizado, uma tensão palpável eleva-se a partir de
quatro distintos modelos, que não é aliviada pela linha certeira urgente por
parte de Lehman. Eles tiram a habilidade oposta na eletrônica de Autechre em "qPlay",
onde as longas entonações de Lehman unidas a frases curtas saltam contra um funkeado
hiphop com batidas flexíveis. Lehman mantém interesse pela variedade da
instrumentação e disposição. Os três duetos improvisados entre o saxofonista e Taborn,
dois suportes do disco, em "Prelude", reflexiva, e em "Postlude"
mercurial, enquanto em "Interlude", que age como um bálsamo suave no
meio do programa, Lehman microtonalmente muda de curso em torno de imponentes
arremessos de Taborn. O próximo passo aumenta o anterior outra vez. Em uma
interpretação de "A Shifting Design" de Kurt Rosenwinkel, a única
faixa da sessão em estúdio, gravada oitos meses antes, o eriçado boogaloo de
Reid estabelece a lei para o que vem de uma confrontação clássica de um trio de
free jazz, com a sinuosidade nervosa do
líder cortando através da barragem, quando Brewer se une após o tema vigoroso.
Eles todos combinam-se em calorosa interpretação de
"Chance" de Kenny Kirkland, onde o sentimento de balada predomina,
enfatizado pelo solo rapsódico de Taborn. Porém, alguns dos melhores momentos
chegam quando os principais correm solto, notavelmente em "Beyond All
Limits", onde o baixista Brewer brilha em uma introdução desacompanhada. Posteriormente,
Lehman flutua, corre e precipita sobre um vago toque latino, antes de Taborn girar
heróicas estórias com sua mão direita com ocasionais golpes da esquerda, antes
de lançamento por voos audaciosos, quando Lehman retorna para outra cereja do
bolo.
Em “The People I Love”, Lehman confirma a si mesmo como um
implacável modernizador, mesmo dentro dos formatos tradicionais, e ele poderia
fazer feio se Taborn não tivesse fornecido a ajuda das suas mãos para projetos
futuros.
Faixas - Prelude; Ih Calam & Ynnus; Curse Fraction;
qPlay; Interlude; A Shifting Design; Beyond All Limits; Echoes/The Impaler;
Chance; Postlude.
Músicos: Steve Lehman: saxofone alto; Craig Taborn: piano;
Matt Brewer: baixo acústico; Damion Reid: bateria.
Nota: Este álbum foi relacionado entre os 40 melhores de 2019 por críticos da JazzTimes.
Nota: Este álbum foi relacionado entre os 40 melhores de 2019 por críticos da JazzTimes.
Fonte: JOHN SHARPE (AllAboutJazz)
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