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sábado, 18 de abril de 2020

GREG WARD PRESENTS ROGUE PARADE – STOMPING OFF FROM GREENWOOD (Greenleaf)


Se, como o crítico Larry Kart tem postulado, jazz é “uma forma de auto promulgação sonora”, então, esta “declaração” deve vir a ser ambígua, mesmo contraditória, como o conceito de “si mesmo” em nossa cultura vem a ser crescentemente fluída e indescritível. No caso em tela: a abertura de “Stomping Off from Greenwood”, “Metropolis”, que mistura influencia e identidades com despreocupação mutante. O toque de bateria de Quin Kirchner mimetiza o mecanizado, imprevisível gatilho de batidas de hip-hop; pontuações da guitarra cibernética (também de Matt Gold ou Dave Miller—os créditos não especificam) acentuam este sentimento. Porém, então, a outra guitarra vem fluindo com acordes vibrantes, relembrando a surf music, e o concêntrico líder Greg Ward, as configurações em rotação do sax alto pós “Spiral” sobre o topo. A melodia em uníssono do sax/guitarra incandesce, então mergulha dentro de um interlúdio bombástico do poder pop, então reemerge (às vezes, as sequências extensas em formas livres do quarteto quase soam selecionadas a partir do segundo segmento do trabalho do Grateful Dead, “Space”).

Emocional, tão bem quanto musicalmente, Ward e seus compatriotas parecem pretender dizimar previsibilidade e imunidade (raramente tem o romantismo sido desconstruído com tal alegre ferocidade como o assalto frontal em “Stardust”). Em relativamente reflexivos lançamentos como “Excerpt 1”, “Pitch Black Promenade” e “The Fourth Reverie” qualquer alusão de bem-aventurada solidão está ameaçada por agourentos encontros de poder e escurecimento da textura. Entretanto, a respiração suave de Ward, entonação amadeirada, sustenta um fundamento de naturalidade mesmo na forma como ele quebra dentro de voos irrestritos, temperados na ocasião por uma pura precisão neoclássica— uma mistura de arrojo, folia, ternura e, talvez, uma medida ou duas de ironia.

Música como esta captura o espírito da época. Nada mais pode ser seguro na jornada ao desconhecido, que revelará a verdade ou beleza, e deixa uma única salvação— se as coisas ficam piores lá, então eles já estão lá, mesmo se nós manobrarmos para chegar em uma determinada peça.

Faixas

1. Metropolis
2. Excerpt 1
3. The Contender
4. The Fourth Reverie
5. Let Him Live
6. Black Woods
7. Pitch Black Promenade
8. Stardust
9. Sundown

Fonte: DAVID WHITEIS (JazzTimes)

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