Alguns álbuns chegam sem precedentes, em um mundo deles. Embora
trazendo à mente os sofisticados compositores brasileiros pós-Tropicália, com
infusão do jazz, como Guinga, Milton Nascimento e Marcos Valle, um invulgar
álbum do duo Natalie Cressman e Ian Faquini, “Setting Rays of Summer”, soa tão
renovado e revigorante como um córrego em uma montanha clara.
Um guitarrista, vocalista e compositor nascido em Brasília e
criado desde a infância em Berkeley, Califórnia, Faquini é responsável pelas
composições modeladas de forma voluptuosamente ágeis, além do trabalho
orquestral da guitarra. Ele também possui uma voz agradavelmente nodosa que se mistura
artisticamente com o brilho de Cressman, um canto translúcido. Ela é uma
trombonista de alto nível que trabalhou com artistas diversos como Peter
Apfelbaum e Phish’s Trey Anastasio, e
está absolutamente em casa na MPB (música popular brasileira), o movimento
onívoro brasileiro que surgiu a partir da bossa nova e Tropicália no final dos
anos 1960.
Cressman contribui com letras para três das peças, uma em português
e duas em Inglês, incluindo a melancólica faixa título que condensa a evocação
do álbum de breves epifanias, prazeres fugazes e memórias permanentes. Iara
Ferreira providencia as letras em português para cada canção, incluindo a
balada flutuante, “Debandada”, interpretada delicadamente em dueto entrelaçado,
e o samba ondulante, “Mandingueira”. Rogério Santos escreveu as letras para
“Lenga Lenga”, que tem uma valiosa e contagiante frase melódica de um standard, e a sonhadora “Uirapuru”, um
adorável suspiro de uma canção. A melodia da peça instrumental de Faquini, “Museu
Nacional”, ecoa a delicada melancolia de “O Amor em Paz” de Jobim, apresentada
com intensidade polida pelo trombone de Cressman.
Faquini fez uma vívida primeira impressão com sua estreia,
em 2016, “Metal na Madeira”, apresentando a vocalista residente no Rio, Paula
Santoro. Este álbum apresentou suas inéditas numa matriz de ritmos nordestinos.
As espertas elaborações das canções em exibição através de “Setting Rays” são
mais que impressionante, mas chama atenção a forma como trombone, guitarra e
duas vozes invocam um completo domínio.
Faixas
1 Terê 4:29
2 L'aube 2:05
3 Lenga Lenga 3:06
4
Debandada 4:35
5 Setting
Rays of Summer 3:32
6 Mandingueira
3:56
7 My
Heart Again Will Rise 3:30
8 Uirapuru 2:53
9 Museu Nacional 4:14
10 Sereia 5:22
Fonte: ANDREW GILBERT (JazzTimes)
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