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terça-feira, 30 de junho de 2020

MICHAEL EATON - DIALOGICAL (Destiny)

“Serious play - NT: Toque sério” deve ser um cliché neste momento, mas exemplifica o espírito que baila através deste trabalho.  A propósito do título, a ênfase está na reciprocidade: linhas melódicas em uníssono, dissolvendo-se dentro de uma interação contrapontual (improvisada e diferente), passagens de tempo marcadas (frequentemente justapostas umas contra as outras) e abruptas alterações nas apresentações. A dialética entre a coesão do grupo e os resultados das expressões individuais em uma tensão, apropriadamente, paradoxal entre continuidade temática e fluidez.

Às vezes, uma adicional tensão criativa— entre harmonia e dissonância— faz sentido em si mesmo. “Thanatos and Eros” inicia com um diálogo entre a flauta de Cheryl Pyle e o sax soprano de Eaton, e suas interações—às vezes com fluxo fácil e livre, às vezes em aparente polos opostos—que refletem a firmeza implicada no título (as forças da morte e renovação, encerradas em eterno abraço). Após um breve interlúdio, o resto da banda pondera uma mutante característica, ritmicamente com tema diversificado, apresentando um trabalho ondulante e exploratório ao piano a partir de Brad Whiteley e alguma leveza no trabalho encorpado do sax de Eaton (“Machinic Eros”, um breve dueto de sax-flauta, soa quase como uma introdução reimaginada de “Thanatos and Eros”, mas desta vez as duas vozes resolvem a si mesmo dentro de uma rica e harmoniosa mistura). 

“I and Thou”, que está entre as mais ambiciosas ofertas aqui, inicia com um compenetrado solo de gimbri de Daniel Ori, segue-se uma banda com uma dança de toque oriental, e então dissolve interlúdios de reflexiva quietude, durante o qual os saxofonistas convidados James Brandon Lewis e Sean Sonderegger ponderam com solos, que alternam entre o melodioso e nuances fortalecidas com agressiva forma livre. O toque passa a ser um pouco mais sombrio em quatro partes “Temporalities”, que conclui o trabalho —  colisões harmônicas, entonações estridentes, repetições claustrofobicamente circulares, um sentimento completo de urgência impulsionadas por uma militância firme —uma inquietante, mas efetiva fusão com a excentricidade, iconoclastia e veneração.

Faixas : Juno; Anthropocene; Aphoristic; Thanatos and Eros; Cipher; Dialogical; Machinic Eros; I and Thou; Temporalities (Parts I-IV).

Músicos : Michael Eaton: saxofones tenor e soprano; Brad Whiteley: piano; Daniel Ori: baixo, gimbri; Shareef Taher: bateria; Lionel Loueke: guitarra (1-3, 5); Brittany Anjou: vibrafone (2, 6, 9-12), gyil (6); Cheryl Pyle: flauta (4, 7, 9-12); Enrique Haneine: udu (1, 6); James Brandon Lewis: saxofone tenor (8); Sean Sonderegger: saxofone tenor (8); Jon Crowley: trompete (9-12); Dorian Wallace: piano e piano preparado (9-12); Sarah Mullins: marimba e triângulos (9-12).

Fonte: DAVID WHITEIS (JazzTimes)

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