playlist Music

quarta-feira, 29 de julho de 2020

DAVID VIRELLES – IGBÓ ALÁKORIN (THE SINGER´S GROVE) VOL. I & II (Pi)


Um dos mais comuns equívocos sobre música clássica é a noção de que há um nível de autoabnegação na deferência do intérprete ao compositor. Nesta visão, se você enfoca sua performance na entrega do que o compositor destinou, você está de algum modo apagando sua própria contribuição para a música. A realidade é, claro, nada além disto. O que verdadeiramente grandes intérpretes fazem é gerenciar o encontro de suas próprias vozes dentro de uma visão de compositor e da tradição do qual descendem. Com imersão vem a transcedência, e isto é precisamente o que David Virelles está à procura aqui.

“Igbó Alákǫrin (The Singer’s Grove) Vol. I & II” é mais uma das series de explorações de Virelles dentro do legado e possibilidades da música cubana. Porém, dessemelhante aos seus trabalhos predecessores, este álbum é mais focado no passado que no futuro—nenhum uso de eletrônica, nenhuma abstração, nenhuma interseção clássica, apenas décadas de sons de Santiago de Cuba. Em nível superficial, o movimento parece calculadamente regressivo, e a tentativa de Virelles ter seu próprio momento Buena Vista Social Club. Ouça atentamente, no entanto, e vem a ser claro que Virelles, atualmente, está realizando a extensão do seu alcance deitando em raízes profundas.

“Igbó Alákǫrin” tem duas partes, uma primeira apresentação de vocalistas e importantes grupos em estilo big band, um pouco, apenas, do piano de Virelles e do guiro de Rafael Ábalos. A atrevida pegada guiada pela percussão da abertura do álbum “Bodas De Oro” alimenta um imediato irrompimento de nostalgia, particularmente dado o amplo vibrato dos saxofones e a batida antiga da bateria. Porém, quando Virelles entra com um dissonante e ritmicamente complexo solo de piano, o efeito é qualquer coisa, exceto retrô. Mesmo assim, encaixam o balanço e o espírito, e o fraseado de Virelles é assim perfeitamente idiomático, é difícil imaginar dançarinos parando após a batida.

Finalmente, esta é a mágica aqui. Tendo crescido denro da tradição da música de Santiago, Virelles compreende não apenas como mantê-la, mas como desenvolvê-la. Mesmo quando permanence dentro das fronteiras harmonicas da canção, como em “El Rayaero” ou “Tres Lindas Cubanas”, seu toque transmite um profundo senso do potencial rítmico da música, um entendimento que similarmente tem animado seus trabalhos mais abstratos. Deste modo, Igbó Alákǫrin deve ser, até agora, o álbum mais radical de Virelles, porque, aqui, a música está se movendo em ambas as direções—para frente e para trás—ao mesmo tempo.

Faixas

1. Bodas de Oro
2. El Rayaero
3. Grato Recuerdo
4. Echa Pa' Allá
5. Canto a Oriente
6. Un Granito de Arena
7. Sube la Loma, Compay
8. Cosas de Mi Cuba
9. Ojos de Sirena
10. Tápame Que Tengo Frío
11. Tira la Cuchara y Rompe El Plato
12. Mojito Criollo
13. Mares y Arenas
14. Tres Lindas Cubanas

Fonte: J.D. Considine (DownBeat)

Nenhum comentário: