Bem, alguém não parece bastante feliz com o mundo digital. Porém, isto não é nada novo para Maria Schneider. A compositora vencedora do Grammy e líder de orquestra tem sido uma crítica sincera de abusos de direitos autorais no mundo digital e de streaming da música na maior parte da última década. Em seu mais novo trabalho, ela estabelece suas justificadas disputas com a indústria da música com justaposição da guerra fria de um e zero, compreendido no primeiro CD intitulado "The Digital World" em oposição com a natureza do segundo CD "Our Natural World". Quais dos dois ela prefere é inconfundível e pode ser deduzido da escolha de pronome no respectivo subtítulo do CD “ Data Lords”. Porém, o humor capturado nos dois discos apenas conta a mesma estória.
A música na gravação pode ser interpretada e analisada de
acordo com o tema subordinado. Progressões de acordes melancólicos e define
paisagens sonoras agourentas em "The Digital World", enquanto
"Our Natural World" irradia um senso de naturalidade através de ágil
interação e uma barulheira de compassos em tom maior. No CD 1, o zumbido da
guitarra de Ben Monder soa através de inamistosos crescendos e arranjos febris
dos instrumentos de sopro, que constantemente sopra nas margens da dissonância,
considerando o CD2, este é agraciado por um som de uma banda acústica, que
constrói brisas em vibrante acordeón, habilidosamente interpretado por Gary
Versace, e prazerosos solos hipnotizantes de saxofone por Steve Wilson dentro
de seções com pequenos espaços nos grupos. Um dos dois mundos respira, o outro
nem tanto.
Além de serem meticulosamente arranjadas até o ultimo
detalhe, as composições de Schneider são tratadas como as mais sonoramente
transparentes produções de orquestra de jazz em memória recente. Cada
regularidade de cada instrumento vem através do exato impulso conforme
pretendido. Fragmentos melódicos essenciais são dinamicamente envolvidos por um
amplo e aprofundado espaço composto de complexos amálgamas sonoros e cor.
"Look Up" é um excelente exemplo do campo no qual a orquestra é capaz
de criar. Alguém escuta Marshall Gilkes no trombone solando sobre um fluxo de
mudanças providenciadas, constantemente, por tamanhos alternativos da banda. A
partir de formações exuberantes de quarteto construídas com piano, baixo e
bateria sobre seções compostas por instrumentos de sopro para sutis
intercâmbios entre guitarra em stacatto e acordeón, as linhas inventivas do trombone
adaptam e mudam para acessíveis, ainda que espirituosas, vias, deixando cada nuance
do instrumento brilhar.
Muitos outros exemplos de êxtase solista, dentro de
instrumentações ornamentais, são espalhados através dos dois mundos, não por
mérito solista apenas, mas para relaxar as estruturas e trazer uma camada
textual para a música. Ao possibilitar conversações musicais, os temas
subjacentes às respectivas composições— inspirações de Schneider para cada peça
—são trazidas à frente em expressivas formas. Há uma razão para a monotonia
rítmica e indolência e há muito de sombrio no primeiro CD. O passo arrastado de
"A World Lost" pode ser baseado em torno da ideia de desejos de
tempos mais conectados com a terra e com cada outro, considerando as constantes
passagens explosivas de "CQ CQ Is Anybody There?", a natureza textural
pode ser traçada por trás dos ritmos explicitados por várias mensagens em
código Morse. "Sanzenin" inicia o segundo CD, estabelecendo um humor
mais brilhante. A peça chama a inspiração a partir de um templo nos jardins ao
norte de Kyoto, enquanto o encerramento, "The Sun Waited for Me",
exibe linhas calorosas e encrespadas do tenor de Donny McCaslin, que é embasada
em um poema de Ted Kooser (a segunda peça baseada em um poema de Kooser após
"Braided Together"), lembrando a expansibilidade do mundo em torno de
nós como um reservatório de harmonias positivamente flutuantes.
A obscuridade e confusão desafiam atmosferas para aceitá-las
e deixá-las. O segundo CD é mais leve, indiscutivelmente, uma audição mais
acessível. Porém, não se questiona a musicalidade de ambos, que está no mesmo
alto e notável nível. Poucos líderes de banda e compositores compartilham este
nível musical de ambição artística no jazz, e ninguém soa como Maria Schneider.
Sua capacidade para empacotar uma ampla variedade de conceitos musicais e
ideias dentro de um conjunto coeso, sem ônus para qualquer intimidade e sem a
pompa dramática, sem paralelo, como seu singular vigor. Esta força está
concentrada por aqui, fazendo “Data Lords” indiscutivelmente o mais
impressionante acréscimo para sua obra até o momento.
CD 1: A
World Lost; Don’t Be Evil; CQ CQ, Is Anybody There?; Sputnik; Data Lords.
CD 2: Sanzenin;
Stone Song; Look Up; Braided Together; Bluebird; The Sun Waited for Me.
Músicos : Maria
Schneider: compositor/maestrina; Steve Wilson: saxofone alto; Dave Pietro: saxofone
alto; Rich Perry: saxofone tenor; Donny McCaslin: saxofone tenor; Scott
Robinson: saxofone barítono; Tony Kadleck: trompete; Nadje Noordhuis: trompete;
Mike Rodriguez: trompete; Keith O'Quinn: trombone; Ryan Keberle: trombone;
Marshall Gilkes: trombone; George Flynn: trombone; Gary Versace: acordeón; Ben
Monder: guitarra; Frank Kimbrough: piano; Jay Anderson: baixo; Johnathan Blake:
bateria; Greg Gisbert: trompete, fluegelhorn;Steve Wilson: saxofone soprano;
Dave Pietro: clarinete, flauta,
piccolo; Donny McCaslin: flauta; Scott Robinson: clarinete em Si Bemol, clarinete baixo; Tony
Kadleck: fluegelhorn; Nadje Noordhuis: fluegelhorn; Mike Rodriguez: fluegelhorn; George Flynn: trombone
baixo.
Fonte: Friedrich
Kunzmann (AllAboutJazz)
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