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domingo, 25 de outubro de 2020

MARIA SCHNEIDER – DATA LORDS (Artist Share)

Bem, alguém não parece bastante feliz com o mundo digital. Porém, isto não é nada novo para Maria Schneider. A compositora vencedora do Grammy e líder de orquestra tem sido uma crítica sincera de abusos de direitos autorais no mundo digital e de streaming da música na maior parte da última década. Em seu mais novo trabalho, ela estabelece suas justificadas disputas com a indústria da música com justaposição da guerra fria de um e zero, compreendido no primeiro CD intitulado "The Digital World" em oposição com a natureza do segundo CD "Our Natural World". Quais dos dois ela prefere é inconfundível e pode ser deduzido da escolha de pronome no respectivo subtítulo do CD “ Data Lords”. Porém, o humor capturado nos dois discos apenas conta a mesma estória.

A música na gravação pode ser interpretada e analisada de acordo com o tema subordinado. Progressões de acordes melancólicos e define paisagens sonoras agourentas em "The Digital World", enquanto "Our Natural World" irradia um senso de naturalidade através de ágil interação e uma barulheira de compassos em tom maior. No CD 1, o zumbido da guitarra de Ben Monder soa através de inamistosos crescendos e arranjos febris dos instrumentos de sopro, que constantemente sopra nas margens da dissonância, considerando o CD2, este é agraciado por um som de uma banda acústica, que constrói brisas em vibrante acordeón, habilidosamente interpretado por Gary Versace, e prazerosos solos hipnotizantes de saxofone por Steve Wilson dentro de seções com pequenos espaços nos grupos. Um dos dois mundos respira, o outro nem tanto.

Além de serem meticulosamente arranjadas até o ultimo detalhe, as composições de Schneider são tratadas como as mais sonoramente transparentes produções de orquestra de jazz em memória recente. Cada regularidade de cada instrumento vem através do exato impulso conforme pretendido. Fragmentos melódicos essenciais são dinamicamente envolvidos por um amplo e aprofundado espaço composto de complexos amálgamas sonoros e cor. "Look Up" é um excelente exemplo do campo no qual a orquestra é capaz de criar. Alguém escuta Marshall Gilkes no trombone solando sobre um fluxo de mudanças providenciadas, constantemente, por tamanhos alternativos da banda. A partir de formações exuberantes de quarteto construídas com piano, baixo e bateria sobre seções compostas por instrumentos de sopro para sutis intercâmbios entre guitarra em stacatto e acordeón, as linhas inventivas do trombone adaptam e mudam para acessíveis, ainda que espirituosas, vias, deixando cada nuance do instrumento brilhar.

Muitos outros exemplos de êxtase solista, dentro de instrumentações ornamentais, são espalhados através dos dois mundos, não por mérito solista apenas, mas para relaxar as estruturas e trazer uma camada textual para a música. Ao possibilitar conversações musicais, os temas subjacentes às respectivas composições— inspirações de Schneider para cada peça —são trazidas à frente em expressivas formas. Há uma razão para a monotonia rítmica e indolência e há muito de sombrio no primeiro CD. O passo arrastado de "A World Lost" pode ser baseado em torno da ideia de desejos de tempos mais conectados com a terra e com cada outro, considerando as constantes passagens explosivas de "CQ CQ Is Anybody There?", a natureza textural pode ser traçada por trás dos ritmos explicitados por várias mensagens em código Morse. "Sanzenin" inicia o segundo CD, estabelecendo um humor mais brilhante. A peça chama a inspiração a partir de um templo nos jardins ao norte de Kyoto, enquanto o encerramento, "The Sun Waited for Me", exibe linhas calorosas e encrespadas do tenor de Donny McCaslin, que é embasada em um poema de Ted Kooser (a segunda peça baseada em um poema de Kooser após "Braided Together"), lembrando a expansibilidade do mundo em torno de nós como um reservatório de harmonias positivamente flutuantes.

A obscuridade e confusão desafiam atmosferas para aceitá-las e deixá-las. O segundo CD é mais leve, indiscutivelmente, uma audição mais acessível. Porém, não se questiona a musicalidade de ambos, que está no mesmo alto e notável nível. Poucos líderes de banda e compositores compartilham este nível musical de ambição artística no jazz, e ninguém soa como Maria Schneider. Sua capacidade para empacotar uma ampla variedade de conceitos musicais e ideias dentro de um conjunto coeso, sem ônus para qualquer intimidade e sem a pompa dramática, sem paralelo, como seu singular vigor. Esta força está concentrada por aqui, fazendo “Data Lords” indiscutivelmente o mais impressionante acréscimo para sua obra até o momento.

CD 1: A World Lost; Don’t Be Evil; CQ CQ, Is Anybody There?; Sputnik; Data Lords.

CD 2: Sanzenin; Stone Song; Look Up; Braided Together; Bluebird; The Sun Waited for Me.

Músicos : Maria Schneider: compositor/maestrina; Steve Wilson: saxofone alto; Dave Pietro: saxofone alto; Rich Perry: saxofone tenor; Donny McCaslin: saxofone tenor; Scott Robinson: saxofone barítono; Tony Kadleck: trompete; Nadje Noordhuis: trompete; Mike Rodriguez: trompete; Keith O'Quinn: trombone; Ryan Keberle: trombone; Marshall Gilkes: trombone; George Flynn: trombone; Gary Versace: acordeón; Ben Monder: guitarra; Frank Kimbrough: piano; Jay Anderson: baixo; Johnathan Blake: bateria; Greg Gisbert: trompete, fluegelhorn;Steve Wilson: saxofone soprano; Dave Pietro: clarinete, auta, piccolo; Donny McCaslin: auta; Scott Robinson: clarinete em Si Bemol, clarinete baixo; Tony Kadleck: fluegelhorn; Nadje Noordhuis: uegelhorn; Mike Rodriguez: uegelhorn; George Flynn: trombone baixo.

Fonte: Friedrich Kunzmann (AllAboutJazz)

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