Dave Liebman e Richie Beirach conheceram-se por meio século
e o álbum duplo deles é uma celebração desta amizade. Eles gravaram juntos
durante este período em variadas configurações. Houve um grupo de rock, de
curta duração, mas prazeroso, de Liebman, Lookout
Farm, formado em 1974 e houve nos anos 80 o Quest. Porém, defensavelmente, seus álbuns em dueto resultaram em
mais afirmações intrigantes e musicalmente sem tempo. Houve, relativamente um
pouco, também, um começo em “Omerta (Trio/Storyville, 1978) ” e foi sucedido
por “Double Edge (Storyville, 1985) ”, “Chant (CMP, 1990) ”, “The Duo Live
(Advance, 1991 “), “Unspoken (Outnote, 2011) “ e , mais recentemente, uma coletânea
de baladas apropriadamente intitulada “Balladscapes (Intuition, 2016) ”.
Gravado em Dezembro de 2016 e em Agosto de 2017, esta
coletânea de peças, principalmente, clássicas deve ser mal interpretada como
"meramente" jazz de câmara, mas isto venderia a gravação mais do que
o atual empreendimento. Liebman é um consumado improvisador, e para um
instrumentista que atuou com Elvin Jones e, posteriormente, com Miles Davis em
uma das suas fases mais aventurosas, isto é firmemente surpreendente. Companheiro
do nova-iorquino, Bierach é um tecladista supremamente premiado que começou tocando
piano clássico antes de descobrir o jazz. Tendo treinamento formal em ambos os
gêneros, ele, aqui, é o perfeito apoio para Liebman. Além disto, Beirach iniciou
acompanhando um dos maiores saxofonistas de jazz, Stan Getz. Ele também tem dois
álbuns com o extraordinário trompetista e vocalista Chet Baker.
A maioria das peças no CD1, começando com a elegante
"Piano Concerto No. 23", de Mozart, envolve Liebman optando pelo
saxofone soprano como seu instrumento de escolha. O modus operandi na maioria
das peças é seguir a melodia, usualmente repetida ao final, com exteriorização
entre elas. Embora este seja o padrão normal no jazz, há uma tendência com
estas músicas, como a deliciosa "Little Prelude No. 4", de J.S. Bach,
por uma melodia de abertura para brincar com o ouvinte dentro da crença deste
que são recitais puramente clássicos, e que eles não são. Interessantemente, a
seleção de peças pelos compositores modernos, tais como a romântica
"Impressiones Intimas" de Mompou, a mais angular "Prelude" de
Scriabin, explorando "Bagatelles" de Bartok e a hesitante "Colours"
de Schoenberg são todos marcantemente compatível com músicas iniciais clássicas
tais como a rapsódica "Piano Sonata No. 30” de Beethoven.
As duas peças estranhas, no álbum, aparecem no CD1, são
inéditas. A primeira é "For Ernst", composta por Beirach para Ernst
Bucher. Aqui Liebman abandona o saxofone em favor da flauta com a qual ele
propicia à música um delicado charme. A segunda peça nova, "For
Walter", foi composta por Liebman e dedicada a Walter Quintus. Liebman toca
um pesaroso saxofone tenor nesta ode ao falecido amigo. Essas peças tomam forma
musical de um passacaglia, na qual a
canção é enraizada em uma repetida e ascendente linha do baixo, mas, fundamentalmente,
elas ajustam-se perfeitamente dentro do contexto de diferentes seleções de
números clássicos.
O conteúdo inteiro do CD2 é devotado aos seis movimentos
lentos de "String Quartet" de Bartok. Beirach revela em suas notas
que muito da linguagem de um piano moderno de jazz é atribuível ao compositor
húngaro. Sem dúvida, esta seleção é incrivelmente excitante e agitada em igual
medida, impulsionada, alternativamente, por suas diferentes dinâmicas, com o
saxofone tenor de Liebman, às vezes, lamentando aos céus. Beirach parece
desfrutar o desafio que a música oferece a ele, dando ampla oportunidade para
providenciar coloridas intervenções. Na abertura de "String Quartet No.
4", o solo de Liebman aparece para sintonizar Coltrane em modo completo de
A Love Supreme. A abordagem de Beirach
em "String Quartet No. 5", em sua mais estrondosa dramaticidade, encontrou-se
com uma incursão de similaridade fulgurante do tenor de Liebman.
“Eternal Voices” representa um apogeu mais criativo deste
antigo duo pela combinação dos restritos trabalhos clássicos com a liberdade do
jazz. O puro e delicado lirismo do primeiro grupo de peças, complementado pela
energia turbulenta e visceral gerada pela suíte de Bartok. Mesmo assim, é de
rara e excepcional beleza.
Faixas: CD1: W. A. Mozart – Piano Concerto No. 23; L. v.
Beethoven – Piano Sonata No. 30; J. S. Bach – Little Prelude No. 4; G. Faure –
Pavanne; F. Mompou – Impressiones Intimas; For Ernst (Beirach); For Walter
(Liebman); A. Khatchaturian – Childrens Song No. 1; A. Scriabin – Prelude; B.
Bartok – Bagatelles; A. Schoenberg – Colors. CD2: Bartok String Quartet No. 1; Bartok String Quartet No. 2; Bartok
String Quartet No. 3; Bartok String Quartet No. 4; Bartok String Quartet No. 5;
Bartok String Quartet No. 6.
Músicos: Dave Liebman: saxofone soprano e tenor, flauta em
dó; Richie Beirach: piano.
Fonte: Roger Farbey (AllAbouJazz)
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