O guitarrista Michael Musillami e o baixista Rich Syracuse
continuam seu engajamento com os titãs do mundo do jazz com “Dig”, uma
homenagem a Bill Evans. Como os discos que o precederam, “Of The Night
(Playscape, 2016)”, dedicado a Wayne Shorter e “Bird Calls (Playscape, 2017)”, homenagem
deles a Charles Mingus, a abordagem do duo neste repertório apresenta
reverência e imaginação, produzindo tratamentos que evitam, simplesmente, capitulações
nas aberturas geniais das músicas de Evans com criativo escrutínio.
É notável que o álbum lidere com um par de canções não estejam,
decididamente, as composições mais conhecidas de Evans. "C Minor Blues
Chase" nunca foi gravada por Evans e "Twelve Tone Tune" apenas
surgiu em “The Bill Evans Album (Columbia, 1971) ”, indiscutivelmente após seu auge
anos depois. Porém, elas têm a característica da invenção harmônica e sutileza
rítmica, que são capturadas maravilhosamente por Musillami e Syracuse. Os dois
conversam em ávido diálogo, movendo do escrito das partes improvisadas continuamente,
com bastante lirismo para lembrar-nos de Evans, mas ainda mantendo sua
independência artística. A maravilhosa entonação de Musillami é, assim, fácil
para os ouvidos que não devem ser acalentados, desse modo com vista a uma
técnica de primeira classe e virtuosismo, que ele traz para o instrumento. E as
correntes que fluem de Syracuse são vitais nas emocionantes trocas, que compõem
"Twelve Tone Tune", trazendo à mente o original prodígio do baixo de
Evans, Scott LaFaro, em sua habilidade em tocar com tal fluidez rítmica e
liberdade melódica.
As músicas mais bem conhecidas aparecem depois, com
"Blue in Green", "Nardis" e "All Blues" revelando
a profunda reciprocidade entre Evans e Miles Davis, sendo que o último escreveu
todas as três peças (talvez com a coautoria no caso de "Blue in
Green", ao menos como reclamado por Evans). "Nardis" é a mais
impactante das três, tocada inicialmente apenas com as mais tênues referências
para a melodia da canção, conforme Musillami e Syracuse a desconstroem,
maravilhosamente, a peça, o arco do baixo de Syracuse interagindo com as linhas
espartanas de Musillami produzem uma atmosfera reflexiva antes do duo soltar a
peça com algum suingue impetuoso, conforme a melodia plenamente emerge. Porém,
isto não retira qualquer coisa da beleza cristalina de "Blue in
Green" ou o balanço triturante de "All Blues", que é delicioso. Alguém
pode narrar que Musillami, em particular, realmente desfrutou um pouco do
suporte em "All Blues", exibindo um lado mais granuloso em seu toque,
diferente do que encontrado no álbum.
"How My Heart Sings" de Earl Zindars é outra marca
registrada de Evans, com a melodia memorável da canção dando uma fiel aderência
com uma interpretação animada, que dá aos instrumentistas amplo espaço para o
solo, mesmo ainda sob quatro minutos, sendo a faixa mais curta do álbum. E,
finalmente, com "Bill's Hit Tune" nós temos a conclusão com mais uma
música pouco conhecida de Evans, e o rico trabalho do arco de Syracuse,
graciosamente, anuncia o tema carregado de emoção conforme o duo conclui o álbum
com sua devoção calorosa,e sincera, para um dos maiores artistas do jazz.
Faixas: C
Minor Blues Chase; Twelve Tone Tune; Blue in Green; Nardis; All Blues; How My
Heart Sings; Bill’s Hit Tune.
Fonte: Troy
Dostert (AllAboutJazz)
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