Na vasta história do piano no jazz, tem havido poucos pianistas
que soam como ninguém mais. Um é Benoît Delbecq. Por alguém, ele oferecerá
novos estímulos intrigantes. Por outros, ele apresentará insuperáveis barreira
para entrar. Uma terceira categoria de ouvinte, que inclui seu presente correspondente,
experimentará reações oscilando entre curiosidade e alienação.
Delbecq é um investigador cujas preocupações são intelectuais,
austeras e enigmáticas. A capa do álbum é um desenho de um móbile porque, de
acordo com as notas para imprensa, Delbecq “começou reconhecendo como
pendurando móbiles, que exercem influências sobre seu relacionamento com a
música e … expressão artística”. Ele é também motivado pela matemática e
arquitetura.
Assim, o que faz a música soar como inspirada por tais
fontes, antes que por mais convencionais formatos, digo, amor humano e perdas e
esperanças? Soa como constelações de imagens auriculares, aleatorizadas, sem os
princípios vinculativos de contexto harmônico, lógica melódica e movimento
temporal. Em vez da continuidade há proximidade. Notas nuas grasnam e badalam
no espaço. Delbecq usa piano preparado para criar “loops – NT: laços” de faixas
com ritmos repetidos. É uma decisão audaciosa na música que já arrisca na monotonia
e imobilismo.
Em certos momentos, em peças como “Dripping Stones” e “Au
Fil de la Parole”, Delbecq encontra efeitos análogos a pinturas abstratas. Separada
da representação, a música vem a ser o som em si mesmo, como uma pintura pode
vir a ser cor pura. Porém, para seu, evidentemente, correspondente esforço presente,
a única faixa verdadeiramente exitosa é a final, “Broken World”. “The Weight of
Light” foi gravada em Março de 2020 como se o mundo estivesse sendo desligado. Em
“Broken World”, Delbecq abandona a abstração subjetiva e liga sua música a
eventos externos, em acordes parcialmente melancólicos e melodias fragmentadas,
separadas pelo silêncio. Talvez, apenas operadores independentes como Delbecq sejam
capazes de interpretar a estranheza e a desolação pandêmica.
Faixas : The
Loop of Chicago; Dripping Stones; Family Trees; Chemin sur le crest; Au fil de
la parole; Anamorphoses; Havn en Havre; Pair et impair; Broken World.
Fonte: THOMAS
CONRAD (JazzTimes)
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