O quinto lançamento do pianista cubano Aruán Ortiz pelo selo
suíço Intakt situa-se a meio caminho
entre seu disco solo “Cub(an)ism (2017)” e trabalhos com o seu trio, tais como “Live In
Zurich (2018)”. A despeito do título, enquanto há um maior impulso rítmico que
em uma seção desacompanhada, a interação largamente puxa para trás a partir de
uma inebriante força viva final. A presença do baterista, mestre veterano, Andrew
Cyrille assegura um certo degrau de uma aventura métrica. Porém, mesmo com a
adição do seu companheiro percussionista Mauricio Herrera, a concepção global
mantém uma reflexiva distancia da pulsação do coração do pianista.
Duas peças, predominantemente vocal, suportam um programa de
dez composições inéditas, inspirado pela música, literatura e arte da terra
nativa de Ortiz, e uma reinterpretação. A abertura "Lucero Mundo" compreende
sobreposição de recitações de palavras entrelaçadas de Ortiz com acentos da percussão/bateria,
que ganha densidade com vozes adicionais, que gradualmente se unem, enquanto o
encerramento "Para Ti Nengón" apresenta o refrão encantador de uma
canção popular, enquanto a fantasia do pianista sugere um eco tristonho da vida
da ilha.
De fato, o álbum completo evoca a herança cubana de Ortiz,
embora em forma abstrata com uma nova sensibilidade musical, que rivaliza com
seu imperativo percussivo. Em "Conversation with the Oaks" que,
lateralmente, inicia a contemplação sob o disfarce de um acompanhamento
improvisado, fragmentado e entalhado, manipulado por batidas da bateria, que
retorna em sintonia ao final do golpe. Entre tempos, rolando o registro do
baixo e insistente ataque da mão direita e a bateria melodiosa de Cyrille conduzem
um diálogo que relembra o Cecil Taylor inicial.
Herrera não é sempre tão óbvio na combinação quanto ele é em
"Marímbula's Mood", onde usa o titular do instrumento como uma kalimba para estabelecer desanimadora
sedução sobre a qual Ortiz e Cyrille intercambiam gestos reflexivos. Herrera e
Cyrille configuram uma cadência balbuciante em "Argelier's Disciple" ,
que dá uma subcorrente de inquietação meditativa e majestosa de Ortiz, como se
contemplando vívidas memórias, antes dele sucumbir em reflexões mais embebidas
no blues.
Outros destaques incluem: um caso de desconstrução
reconstruída em um fraseado bop desarticulado em "Golden Voice
(Changüi)", onde a interação sugere, mas não explicita o estado do tema, antes
que uma linha afluente surja no final, com Ortiz emulando Craig Taborn em
modelos interligados e também a estrondosa "Inside Rhythmic Falls Part II
(Echoes)", onde uma exuberância mal dissimulada vem carregada com um matiz
lamentoso.
Ortiz consegue ofertar um retrato cativante e afetuoso da
sua terra natal, mas faz de forma que engaja a mente mais que o corpo.
Faixas : Lucero
Mundo; Conversation with the Oaks; Marímbula's Mood; Golden Voice (Changüi); De
Cantos y Ñáñigos; Inside Rhythmic Falls. Part I (Sacred Codes); Argelier's Disciple;
Inside Rhythmic Falls. Part II (Echoes); El Ashé de la Palabra; Para ti Nengón.
Músicos: Aruán Ortiz: piano; Andrew Cyrille: bateria;
Mauricio Herrera: percussão.
Fonte: JOHN SHARPE (AllAboutJazz)
Nenhum comentário:
Postar um comentário