Tipicamente, quando nós pensamos sobre
música ecoconsciente, nós imaginamos uma construção em torno de instrumentos
acústicos. Para alguma amplitude, nós podemos creditar a álbuns de “Earth
Music” de Paul Winter Consort no final dos anos 60 e início dos 70, que usou o saxofone,
flauta, English horn e cello para
articular o intento do compositor. Estes instrumentos foram considerados mais “naturais”
que guitarras elétricas ou sintetizadores, não obstante o saxofone ser um
produto mais da revolução industrial, enquanto o processo de gravação em si é tecnologicamente
intensivo e distante da ecologia.
Tudo isto vem à mente, enquanto ouvimos
“Earth” do The Dave Liebman Group, um
álbum que encerra o projeto Four Elements
do saxofonista (anterioremente o registro inclui Water, com Pat Metheny, Cecil McBee e Billy Hart; Air, com Walter Quintus e Fire, com Kenny Werner, Dave Holland e
Jack DeJohnette). Aqui, Liebman toma uma abordagem oposta para expressar
naturais maravilhas do mundo, enfatizando as possibilidades texturais do som digital
e eletrônico sobre tradicionais sonoridades do sopro e cordas. “Eu sou o único
instrumento acústico justapondo o velho e novo (com a bateria na mesma zona de
tempo) ” ele escreve nas notas para o disco.
Não é uma estratégia óbvia, mas funciona,
não porque a música evoca específicas paisagens ou temporadas. Antes de adotar
uma abordagem programática como dito em “Grand Canyon Suite” de Ferde Grofé, a
banda de Liebman opta por usar a amplitude da sua paleta sonora para refletir a
enorme variedade da nossa terra. “Earth Theme”, então, transmite seu senso de
erudição pelo contraste do soprano de Liebman contra o peso do baixo elétrico
de Tony Marino, enquanto o fino piano Bobby Avey sintetiza com ruídos brancos como
uma névoa etérea sobre a banda. “Volcano/Avalanche” usa eletrônica para obscurecer
o centro tonal da brisa do sintetizador de Matt Vashlishan e as teclas de Avey,
enquanto um efeito diferente mistura-se com o som do baixo de Marino, fazendo-o,
às vezes, expressar a partir do baixo a harmonia. E o ponto alto de “Concrete
Jungle” vem em um improvisado intercâmbio entre Liebman e Vashlishan, na qual o
saxofonista reage não apenas às notas emitidas pelo sintetizador, mas também às
texturas mutantes do instrumento.
O Jazz certamente se beneficiaria de uso
mais criativo dos instrumentos digitais e eletrônicos.
Faixas
1 Earth Theme (Dave Liebman)
3:26
2 Bass Interlude (Tony Marino)
1:29
3 Volcano/Avalanche (Dave
Liebman) 5:25
4 Percussion/Flute Interlude
(Alex Ritz) 2:11
5 The Sahara (Dave Liebman)
6:39
6 Soprano Saxophone Interlude
(Dave Liebman) 0:59
7 Grand Canyon/Mt. Everest
(Dave Liebman) 3:56
8 Drum Interlude (Alex Ritz)
2:18
9 Concrete Jungle (Dave Liebman)
5:17
10 Piano Interlude (Bobby
Avey) 2:10
11 Dust To Dust (Dave Liebman)
4:20
12 Wind Synthesizer Interlude
(Matt Vashlishan) 2:05
13 Galaxy (Dave Liebman) 5:55
14 Earth Theme (Reprise) (Dave
Liebman) 1:19
Músicos: Alex Ritz (bateria, kanjira); Tony
Marino (baixo elétrico); Bobby Avey (piano); Dave Liebman (saxofone soprano;
flauta de madeira); Matt Vashlishan (sintetizador)
Fonte: J.D.
Considine (DownBeat)
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