O texto promocional que acompanha o quinto álbum do Fragile Quartet de Michael Moore
estabelece que a música do instrumentista de palhetas para este lançamento é
uma estrutura de “simples miniaturas”. Porém, o caminho em que o grupo se move,
de tema a tema, providencia evidência persuasiva mais do que a química interna
deles— mecanismos comuns, fluxo compartilhado, chame como quiser —e certamente
conhece seu caminho em torno de elaborações astutas também. Talvez, não tão
simples. As duas suítes constituindo os primeiros 27 minutos da gravação cobrem
paisagens tão variadas e vívidas, que eles se sentem como um satisfatório micro
álbum em si.
Claro, amplitude é inexpressiva se não houver razões. Não se
preocupe. Moore fez de Amsterdam seu lar por décadas, e está pleno dela. Sempre
esteve. Uma fileira de gravações que ele realizou para seu selo Ramboy, documenta com habilidade
melodiosa e abstração o seu trabalho com a ICP
Orchestra e o Clusone Trio relembra
que extravagâncias são sempre risonhas. The
Fragile Quartet é um veículo oportuno para a estética de suavidade, que
Moore tem aperfeiçoado por 40 anos. Transitando entre clarinete e sax alto, ele
trabalha com o baterista Michael Vatcher (Gerry Hemingway o substitui neste álbum),
o pianista Haarmen Fraanje e o baixista Clemens van der Feen para afagar as
canções, enquanto sonda as opções da música. A breve “Pussy Willow” inclina-se
para a tranquilidade, atuando em três instrumentos simultaneamente. Um aceno ao
fotógrafo Saul Leiter vem a ser loquaz e agressivo, mas também se sente
gracioso. O trabalho do grupo deve refletir seu nome, mas seu afeto por animado
lado tenso também ergue a cabeça. Quando um desconexo intercâmbio entre piano/clarinete
começa “A Little Box of Jazz”, quase vem como um duo em disco de Braxton/Muhal pela
Arista, que poderia beneficiar a todos a partir do antigo [Duets 1976—Ed.].
Falando de amplitude, “Cretan Dialogues” não é o único
projeto de Moore, que joga diretamente. Ele está, também, celebrando a chegada
de Slips, uma cativante excursão em
livre improvisação com Hemingway e o baixista Barre Phillips. Como suas quatro
peças extensas desdobradas, somos lembrados que a atmosfera pode sempre ser
ajudada pela arquitetura. Os rangidos e sussurros são em tons escuros e
aprazíveis. E se isto não foi o bastante, “Sanctuary”, sua colaboração com a NDR Big Band, exibe que ele tem ideias
valiosas sobre a intensificação também. Ordenhando canções a partir de seu
catálogo anterior (verifique seu trabalho “Available Jelly”), Moore arranja as
peripécias elegantes e provocativas. Peças inspiradas em Dylan e Pascoal,
momentos que se elevam, enquanto ainda tendo tempo para meditar, em uma diversidade
de movimentos propulsivos do baterista Tom Rainey—a combinação de esplendor e
ímpeto deve ter um olhar de Maria Schneider sobre seu ombro. Ao longo da curta
estória, estes são três dos álbuns mais fascinantes de 2020.
Faixas
1. Cretan Dialogues #1 (Lolapalooza/Fenix Blue/the
Meliae) 15:43
2.Cretan Dialogues #2 (Europa/Doldrums/Leaving Paleochora)
11:08
3.Eugenia Uniflora 04:31
4.Pussy
Willow 02:57
5.Content
(for Saul Leiter) 09:28
6.A
Little Box of Jazz 02:46
7.Klee/Rola
Turca 06:34
8.Slowly,
slowly 01:46
Músicos: Michael Moore - sax alto, clarinete, clarinete baixo, melódica, composições, Haarmen Fraanje - piano, Clemens van der Feen - baixo, Gerry Hemingway - bateria, percussão.
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