O vocalista e compositor brasileiro, Milton Nascimento, tem
concedido ao pop, ao jazz, aos mundos contemporâneos e do rock uma amazônia de
música, que é quase impossível compreendê-la em sua inteireza. Com “BruMa”, o
pianista-compositor Antônio Adolfo e um conjunto de músicos brasileiros notáveis,
com o qual ele providencia uma altamente estilizada, exótica e completamente
valiosa e brilhante exploração do trabalho de Nascimento. Este álbum é
acolhedor e as performances são bastante sedutoras e o álbum inteiro berra para
ser consumido em saborosos pedaços conceituais.
"Fé Cega, Faca Amolada" ("Blind Faith, Sharp
Knife") dá primeiro uma tacada com um entusiasmado tema modal de chamada-resposta
e desenvolve extensamente, de forma furiosa, com o sax solo de Marcelo Martins e
com um suave passeio da guitarra de Cláudio Spiewak. Após uma segura e esperta
"Nada Será Como Antes" ("Nothing Will Be As It Was") a
natureza percussiva das coisas expande-se através da sessão. "Outubro"
("October") uma balada magnífica, demonstra a habilidade do grupo
para expressar a emoção profunda e grande beleza. É uma faixa hipnótica que
apresenta o solo deslumbrante do flugelhorn de Jessé Sadoc e o profundo suporte
da banda.
O sentimento do conceito acima mencionado é apresentado pelo
grupo emparelhando profundamente Nascimento a Adolfo, ainda que em uma música
acessível, apresentando temas memoráveis, texturas sublimes ("Encontros E
Despedidas", "Encounters and Farewells"), complexidade, mesmo
assim alcançável, e polirritmos. Estes ritmos são apresentados na capturadora,
"Canção Da Sal" ("Salt Song"). "Três Pontes" oferece
um quadro mais suave e contemporâneo com o piano de Adolfo, o trompete de Sadoc
e os solos saborosos do baixo de Helder sobre o passeio de Barata.
"Tristesse" (Sadness) encerra o trabalho com uma nota melancólica com
o soberbo solo da guitarra de Leo Amuedo.
Uma palavra sobre Antônio Adolfo e outros solistas aqui: eles
todos brilham, como faz a banda em sua inteireza. O toque de Adolfo ao longo do
trabalho é brilhante, elegante e inspirado. Seus arranjos são soberbos e eles
refletem a influência que o jazz teve para ele. "Cais"
("Harbor"), por exemplo, é uma paisagem sonora melancólica e modal,
que reverbera uma clássica vibração de Gil Evans e Miles Davis como faz na
exoticamente percussiva "Caxangá" com texturas à la Oliver Nelson.
“BruMa” é uma brincadeira jubilosa. É uma ajustada saudação
e certamente é um dos álbuns mais finos de 2020.
Faixas: Fé Cega, Faca Amolada; Nada Será Como Antes;
Outubro; Canção Do Sal; Encontros E Despedidas; Três Pontas; Cais; Caxangá;
Tristesse.
Músicos: Antônio Adolfo: piano; Jessé Sadoc: trompete;
Marcelo Martins: palhetas; Rafael Rocha: trombone; Danilo Sinna: saxofone alto;
Jorge Helder: baixo acústico; André Vasconcellos: baixo acústico; Rafael
Barata: bateria; Cláudio Spiewak: guitarra; Lula Galvão: guitarra; Leonardo
Amuedo: guitarra; Dada Costa: percussão.
Fonte: Nicholas
F. Mondello (AllAboutJazz)
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