A premiada saxofonista barítono Claire Daly não está apenas soprando
seu instrumento em Rah! Rah! (bem , ela está, porém com mais controle no momento),
ela está saudando uma das suas inspirações musicais, o falecido Rahsaan Roland
Kirk, um daqueles talentos que de vez em quando nos deixa demasiado cedo. Kirk,
que viveu apenas por 42 anos, foi literalmente um multi-instrumentista, frequentemente
tocando dois dos três instrumentos de sopro ao mesmo tempo, alguns dos quais ele
inventou. Mesmo assim, ainda que cego, ele foi parte um prodígio musical, parte
um comediante, parte ativista social e puro gênio, e alguém que mesmo sendo inovador
não recebeu a devida atenção. Acima de tudo, Kirk foi um entendido em jazz com
uma voz retumbante, que gravou mais que trinta álbuns inovadores sob seu nome. Em
outras palavras, ele foi um versátil artista do jazz que poderia realmente
tocar.
Ele certamente impressionou Daly que primeiro ouviu Kirk em seu
álbum “Return of the 5000 Lb. Man”, lançado apenas um ano antes do falecimento
de Kirk em Dezembro de 1977 (ele faria oitenta e cinco anos em Agosto de 2020).
Daly era uma adolescente, uma estudante na Berklee
College of Music em Boston, que não tinha decidido ainda buscar uma
carreira como instrumentista de jazz, isto é, até ela ouvir Kirk tocar. Em vez
de passar seu período de descanso do verão, em Nova York, neste ano, ela
permaneceu em Boston para ver um debilitado Kirk (que tinha tido um derrame) atuar
no Jazz Workshop. Daly frequentou
cada show, sentando tão próximo do mestre quanto possível. "Ele tinha esta
qualidade incomparável", ela relembra. "Ele foi uma força da natureza.
Eu o admirava. Ele me fez feliz, e ainda faz".
Daly renova e amplifica esta felicidade em “Rah! Rah!”, entrelaçando
cinco composições singulares de Kirk com duas composições suas para
complementar a bem formatada "Simone" de Frank Foster, a dinâmica
"Blues for Alice" de Charlie
Parker e um par de bem conhecidos standards,
"Alfie" de Burt Bacharach / Hal David's e "I'll Be Seeing
You" de Sammy Fain / Irving Kahal. Como um aceno à flexibilidade de Kirk,
Daly troca o sax barítono pela flauta em três números ("Serenade to a
Cuckoo", "Simone" e sua "Momentus Brighticus" um
contrafato a "Bright Moments" de Kirk) e canta em duas
("Alfie" e "Everyday People" de Sly Stone, que é associado
a "Volunteered Slavery" de Kirk). Daly também escreveu a abertura
encharcada de balanço, "Blue Lady", e, à la Kirk, adiciona um ou dois
compassos de "gritos britânicos" em "Volunteered Slavery" e
"Simone".
Impressionante a atuação de Daly na flauta (os vocais são
toleráveis, mas não mais que isto), em meia dúzia de números seu barítono
permanece mais balançante que contido nos pontos altos do álbum. Daly que,
meticulosamente, elaborou sua voz no instrumento, alguém que não é apenas
audaz, mas, astutamente, se estabelece a parte do muito do que se está ouvindo
por estes dias (por comparação, pense em Serge Chaloff). Daly empunha o barítono
como um bisturi, fatiando o núcleo de cada número para decorar e animar seu
charme interior. Mesmo assim, ela não pode fazê-lo sozinha. Cada estrela, não
importa qual radiante, necessita de um grupo suporte fervoroso e eficiente, que
Daly encontrou no pianista Eli Yamin, no baixista Dave Hofstra e no baterista
Peter Grant, que não só desempenham seus papeis complementares à perfeição, mas
como solistas, perceptivamente, sempre que a oportunidade surge. Daly e seus
competentes companheiros de banda realizaram um admirável tributo a um
subvalorizado virtuoso do jazz, cuja música marcante e personalidade claramente
merecem uma segunda temporada ao sol.
Faixas: Blue
Lady; Serenade to a Cuckoo; Volunteered Slavery/Everyday People; Simone; Funk
Underneath; Theme for the Eulipions; Alfie; Momentus Brighticus; Blues for
Alice; I'll Be Seeing You
Músicos: Claire Daly: saxofone barítono, flauta; Eli Yamin:
piano; Dave Hofstra: baixo; Peter Grant: bateria.
Fonte: Jack
Bowers (AllAboutJazz)
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