A dor da repentina morte de Frank Kimbrough em 30 de Dezembro
de 2020 ainda parece recente. Seu álbum póstumo “Ancestors”, gravado em Junho
de 2017, é maravilhoso para termos a dimensão do que o jazz perdeu. Kimbrough foi
um artista especial, em seus próprios projetos (tais como seu trabalho monumental,
em seis CDs, sobre Monk, “Monk’s Dreams”) e de outros (tais como seu papel
essencial na orquestra de Maria Schneider).
A instrumentação aqui é invulgar: Kimbrough ao piano, Kirk
Knuffke no cornet e Masa Kamaguchi no baixo. Knuffke é mais associado com a
centro-esquerda do jazz do que Kimbrough, mas eles são significantes entre si.
Kamaguchi é menos conhecido, mas sua mentalidade também se ajusta à premissa
desta ocasião, que estabelece três intuitivos improvisadores abnegados, livres
no espaço aberto (sem bateria), e os deixa fluir. As composições de Kimbrough como
“November” e “Jimmy G” soam como se estivessem pensando em si mesmo e em voz
alta, e respondendo aos outros. Knuffke toca linhas de lirismo enigmático, que
parece florescer a partir das formas cristalinas do piano de Kimbrough.
Kimbrough foi um artista que foi leal ao momento. Este trio nunca
tocou uma nota antes da gravação desta sessão. Em “Waiting in Santander”, o
momento clama por suspense e Kimbrough circunda Knuffke com densos e dramáticos
tremolos. Em “Air”, amanhece, e Kimbrough traça brilhantes correntes de simples
notas de piano todas através de pulsações melancólicas de Kamaguchi. O pianista
criou arte a partir das notas, mas também desde os silêncios entre eles.
Talvez a retrospectiva que dá a este álbum seu aspecto de finalidade,
de despedida de soma. Porém, sua atmosfera de arrebatadora contemplação culmina
em uma atual elegia, “All These Years” da esposa de Kimbrough, Maryanne de
Prophetis. Ela compôs para seu pai, mas é perfeita como o último movimento de “Ancestors”,
um belo presente que Frank Kimbrough deixou para trás.
Faixas
1.
Waiting in Santander
2. Air
3.
November
4. Ancestors
5. Eyes
6. Jimmy
G
7.
Beginning
8. Union
Square
9. Over
10.
Solid
11. All
These Years
Nota: Este álbum foi considerado,
pela DownBeat, um dos melhores lançados em 2021 com a classificação de 4 ½ estrelas
Fonte: THOMAS CONRAD (JazzTimes)
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