Pelo deslocamento, eu pretendo que ele tenha uma habilidade
para colocar espaços e giros harmônicos e rítmicos em locais inesperados. A
proximidade do giro é óbvia —como em “Levitate” ou em “Where We Stand”, onde
melodia e balanço são construídos em torno de batidas resplandecentes e
passagens acentuadas—e sutil, como com os singulares acordes que dão a paragem
final das linhas vocais de Bilal em “Eyes Wide Shut”, ou a gravação na estática
do vinil, que vem a ser uma regular, mas fora do comum, camada percussiva em “713”.
Tudo pode ser desorientador, sobretudo porque a velocidade,
frequentemente, deslumbra Francies. Quando o vibrafonista Joel Ross se junta a
ele (“My Favorite Things”, “Where We Stand”), a música pode evocar o período Synclavier de Frank Zappa: o material
que ele pensou é bastante rápido e complexo para humanos tocarem. Ainda com
repetidas audições, ritmos disruptivos como aqueles em “Transfiguration”, enfim,
sentem-se orgânicos, mesmo satisfatório quando se estabelecem contra o solo do
alto de Immanuel Wilkins. Estes detalhes chocantes, mais passagens superficiais
—por exemplo, os arranjos do quarteto de cordas (“Stratus”, “Still Here”) — são
facilmente absorvidas.
Que nenhuma destas subversões distraem os fundamentais
talentos de Francies. Seus ultarrápidos movimentos podem às vezes soar como glissandi
baratos (NT: São passagens suaves de uma altura a
outra. É uma expressão originada da língua italiana utilizada na terminologia
da música), que, de fato, eles contêm profundidade, informados pacotes cuidadosos
da linguagem de jazz de Hancock, Kirkland e Glasper. Atrás das distorções
eletrônicas conscientes de “Melting” está uma das composições mais assombrosas
de memória recente. Francies é muito bom, ele tem que dissimular apenas quanto
bom ele é.
Faixas:
Adoration; Levitate; Transfiguration; Blown Away; Rose Water; My Favorite
Things; Stratus; 713; Melting; Where We Stand; Freedmen’s Town; Eyes Wide Shut;
Still Here; Oasis. (55:42)
Músicos: James Francies, teclados, piano, vocal, recitação;
Immanuel Wilkins, saxofone alto; Joel Ross, vibrafone; Mike Moreno, guitarra;
Burniss Travis III, baixo; Jeremy Dutton, bateria; Tia Allen, viola; Marta
Bagratuni, cello; Francesca Dardani, Sulamit Gorski, violino; DJ Dahi,
programação de bateria; Peyton Booker, Elliott Skinner, Bilal Oliver, vocais;
Brenda Francies, James Francies Sr., Shawana Francies, recitação.
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=q1i_fpNf5Ig
Nota: Este álbum foi considerado,
pela JazzTimes, um dos 40 melhores lançados em 2021 e, pela DownBeat, como um
dos melhores com a classificação 4 estrelas.
Fonte: MICHAEL
J. WEST (JazzTimes)
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