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sábado, 15 de janeiro de 2022

JAMES FRANCIES - PUREST FORM (Blue Note)

 Com sua estreia, em 2018, “Flight”, o pianista James Francies assinalou uma moderna, contemporânea e, potencialmente, visão importante para a próxima geração do jazz. A sequência, “Purest Form”, encontra esta visão florescendo. Muito será, provavelmente, feito com o seu uso das texturas eletrônicas e efeitos, e a bateria natural (sob a forma de Jeremy Dutton, que forma o núcleo do trio do álbum ao lado do baixista Burniss Travis) para tocar batidas tipo EDM (Electronic Dance Music). A real excitação, entretanto, reside no ouvido de Francies para deslocar.

Pelo deslocamento, eu pretendo que ele tenha uma habilidade para colocar espaços e giros harmônicos e rítmicos em locais inesperados. A proximidade do giro é óbvia —como em “Levitate” ou em “Where We Stand”, onde melodia e balanço são construídos em torno de batidas resplandecentes e passagens acentuadas—e sutil, como com os singulares acordes que dão a paragem final das linhas vocais de Bilal em “Eyes Wide Shut”, ou a gravação na estática do vinil, que vem a ser uma regular, mas fora do comum, camada percussiva em “713”.

Tudo pode ser desorientador, sobretudo porque a velocidade, frequentemente, deslumbra Francies. Quando o vibrafonista Joel Ross se junta a ele (“My Favorite Things”, “Where We Stand”), a música pode evocar o período Synclavier de Frank Zappa: o material que ele pensou é bastante rápido e complexo para humanos tocarem. Ainda com repetidas audições, ritmos disruptivos como aqueles em “Transfiguration”, enfim, sentem-se orgânicos, mesmo satisfatório quando se estabelecem contra o solo do alto de Immanuel Wilkins. Estes detalhes chocantes, mais passagens superficiais —por exemplo, os arranjos do quarteto de cordas (“Stratus”, “Still Here”) — são facilmente absorvidas.

Que nenhuma destas subversões distraem os fundamentais talentos de Francies. Seus ultarrápidos movimentos podem às vezes soar como glissandi baratos (NT: São passagens suaves de uma altura a outra. É uma expressão originada da língua italiana utilizada na terminologia da música), que, de fato, eles contêm profundidade, informados pacotes cuidadosos da linguagem de jazz de Hancock, Kirkland e Glasper. Atrás das distorções eletrônicas conscientes de “Melting” está uma das composições mais assombrosas de memória recente. Francies é muito bom, ele tem que dissimular apenas quanto bom ele é.

Faixas: Adoration; Levitate; Transfiguration; Blown Away; Rose Water; My Favorite Things; Stratus; 713; Melting; Where We Stand; Freedmen’s Town; Eyes Wide Shut; Still Here; Oasis. (55:42)

Músicos: James Francies, teclados, piano, vocal, recitação; Immanuel Wilkins, saxofone alto; Joel Ross, vibrafone; Mike Moreno, guitarra; Burniss Travis III, baixo; Jeremy Dutton, bateria; Tia Allen, viola; Marta Bagratuni, cello; Francesca Dardani, Sulamit Gorski, violino; DJ Dahi, programação de bateria; Peyton Booker, Elliott Skinner, Bilal Oliver, vocais; Brenda Francies, James Francies Sr., Shawana Francies, recitação.

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=q1i_fpNf5Ig

Nota: Este álbum foi considerado, pela JazzTimes, um dos 40 melhores lançados em 2021 e, pela DownBeat, como um dos melhores com a classificação 4 estrelas.

Fonte: MICHAEL J. WEST (JazzTimes)

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