Há um interesse geracional que divide a percepção quando chega
a música de Wynton Marsalis. Enquanto muitos saúdam seu trabalho na Lincoln
Center como um jazz elevado para seu lugar legítimo nas belas artes, outros
lamentam a separação do seu icônico trabalho quarteto e o quinteto como alguma
espécie de traição dos anos 1980.
O que é inquestionável é seu virtuosismo e eloquência,
expressando cada nota com beleza com clara prioridade para seu toque como
trompetista, e seu papel como líder. De certa forma, seu trabalho com a Jazz at Lincoln Center Orchestra completa,
e o hepteto incluso, providencia sua musical força no púlpito do qual fala, dinamicamente,
a linguagem do jazz para os ouvidos, que seria de outra forma ouvido em outra
parte. Ele tem continuamente nos lembrado da força da unidade, da beleza e
poder de contribuições de divergências culturais para a estrutura da vida
estadunidense, expressada através de sua mais original forma de arte. Com o último
lançamento digital do seu hepteto, “The Democracy! Suite”, Marsalis oferece
oito composições que objetiva expressar as realidades de nossa corrente
situação global, a luta pela justiça social e racial, e o assalto da nossa
democracia, que tem caracterizado o ano passado na América.
A abertura, "Be Present", é inspirada por aqueles
trabalhadores na linha de frente durante a pandemia, se por escolha ou
necessidade. Isto tão bem reconhece tudo que fortalece a justiça social no meio
desta tragédia global. Como é geralmente o padrão do trabalho de Marsalis, o
toque é sublime, mas há claramente um elemento emotivo no toque aqui, ao longo
do álbum, que traz luz ao mais importante trabalho composicional de Marsalis em
muito tempo. A música é atual, sacode a ferrugem do ano épico de 2020, e rapidamente
carrega o futuro com uma coletânea de bem inspiradas vozes.
"Ballot Box Bounce" é uma animada e suingante ode para
a premissa fundamental da democracia, o voto. Enquanto um partido trabalha duro
para sair do voto, e outros clamam por fraude dos votantes, a peça salta
alegremente a despeito das travessuras. Marsalis sublinha com esta peça, que a
proibição criou mais bebedores, conforme esforços para cortar privilégios de
eleitores para mais eleitores. Ted Nash adiciona um toque de melodia prazerosa
na flauta, enquanto o baterista Obed Calvaire impulsiona a peça com suas hábeis
vassourinhas. O baixista Carlos Henriquez trabalha lado a lado com Calvaire com
elegante fluência, como é o caso de alto a baixo nestas oito músicas.
Se nós estamos experimentando, atualmente, uma mudança, ou
apenas outro fracasso, a recuperação é examinada com uma peça inspirada por uma
linha frequentemente usada para responder esta e várias questões. Pessoas mais
velhas em nossa comunidade devem observar, "Eu lembro quando isto e aquilo
aconteceu —e veio uma rodada de gin". A melodia elegante de Marsalis é
expressa belamente pela linha de frente estelar— o saxofonista tenor Walter
Blanding, o altoísta Ted Nash, o trombonista Elliot Mason, e claro, o próprio Marsalis.
O pianista Dan Nimmer está no modo “herói não reconhecido” da gravação, na
maior parte estabelecendo vozes estilísticas para incrementar o trabalho de
seus companheiros de banda, oferecendo, ainda, deliciosos e dignos solos.
"That's When All Will See" apresenta Marsalis aprofundando
suas raízes de New Orleans, falando como as tribos vêm juntas em tempo de
tragédia, como foi o caso do 11 de setembro e do Katrina nos tempos modernos. A
pandemia ilustra em termos amplos, que nós estamos profundamente conectados de
várias formas. Nossas ações, claramente, impactam toda a humanidade.
Como o músico de jazz desenvolveu-se sobre séculos, há
certas características que são comunicadas em rancor mesmo nas passagens
musicais mais variáveis. Por exemplo, improvisação coletiva é empregada na
música Dixieland, tão bem quanto o coletivismo modal do free jazz. Apenas como as instituições de nossa democracia
resistiram aos testes do tempo através de gerações e passagens culturais, o jazz
sempre ilustrou a luta do povo estadunidense e seu questionamento sobre a
perfeita democracia em termos de justiça para todos. A mais verdadeira e
original forma de arte estadunidense pode ser melhor expressa na condição dos Estados
Unidos, neste caso, todas as coisas que nós como uma comunidade global
experimentamos em 2020. Jazz é, e sempre tem sido, democracia em ação. Com “The
Democracy! Suite” Marsalis e seu soberbo hepteto, apresenta um instântaneo
emocionante disto.
Faixas: Be
Present; Sloganize, Patronize, Realize, Revolutionize (Black Lives Matter);
Ballot Box Bounce; That Dance That We Do; Deeper Than Dreams; Out Amongst the
People (For J Bat); It Come 'Round 'Gin; Tjat's When All Will See.
Músicos: Jazz
at Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis: trompete; Walter Blanding:
saxofone; Ted Nash: saxofone alto; Carlos Henriquez: baixo; Obed Calvaire: bateria;
Dan Nimmer: piano; Elliot Mason: trombone.
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=5wbUHNJY97Q
Fonte: Paul
Rauch (AllAboutJazz)
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