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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

TANIA GIANNOULI - IN FADING LIGHT (Rattle)

O novo disco da pianista e compositora Tania Giannouli com Andreas Polyzogopoulos no trompete e Kyriakos Tapakis no oud tem um conceito que, não sendo propriamente novo (por cá o mesmo tem feito José Peixoto com uma abordagem à guitarra que descola do “modus operandi” e da carga geo-histórica do alaúde médio-oriental e norte-africano acima apontado), tem a particularidade de, por via do jazz, colocar a cultura musical grega no contexto mediterrânico. Giannouli reivindica para este projeto uma condição: aquilo que resultaria se Manfred Eicher tivesse nas suas produções como referência o Mediterrâneo e não à Escandinávia. A intenção não é apenas estilística ou estética, chama a atenção para questões iminentemente políticas e éticas, como as das trágicas migrações das gentes que fogem da guerra nos países de onde provêm, aventurando-se no mar, para encontrarem na Comunidade Europeia o contrário daquilo que esta propagandeou como a sua identidade programática. O certo é que este poderia ser um álbum da ECM – de resto, o trompetista adota por vezes o tipo de sonoridade de um Arve Henriksen, com o piano a navegar por terrenos não muito distantes de John Taylor ou Keith Jarrett, e o oud a lembrar Anouar Brahem. É editado pela Rattle, “selo” de uma das nações da Europa, a Grécia, em que os campos de refugiados são os campos de concentração dos nossos dias.

A música que o trio nos entrega é bela, definindo-se por um melodismo que tem tanto de sofisticado quanto de misterioso, mas tem um caráter de urgência, aquela de criar música num período pandêmico em que a arte foi designada como um bem não essencial. Escreve Tania Giannouli nas notas de apresentação de “In Fading Light”: «Apesar do que está a acontecer presentemente no mundo, as pessoas precisam de música. Precisam de arte, e esta não é um luxo. É essencial para a nossa psiquê, para mantermos a saúde e o equilíbrio, em termos mentais, físicos, emocionais, espirituais e políticos. A música deste álbum é uma expressão de amor, esperança e compaixão, um apelo à compreensão, à gentileza e à necessidade de respeitar e abraçar as nossas conexões». Ou seja, este é um disco de resistência, de afirmação. Suave, prazenteiro, procurando aproximar-se do sublime e do inefável, algo ingênuo talvez, pecando pela colagem (ah, a aceitabilidade…) ao modelo eicheriano sem dúvida, mas interventivo. Estava a fazer falta.

Faixas: Labyrinth; When Then; Hinemoa’s Lament; Night Flight; Fallen; Bela’s Dance; Ingravida; Moth; No Corner; Disquiet; Inland Sea; In Fading Light. (60:25)

Músicos: Tania Giannouli, piano; Andreas Polyzogopoulos, trompete; Kyriakos Tapakis, oud.

Fonte: Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

 

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