O novo disco da pianista e compositora Tania Giannouli com
Andreas Polyzogopoulos no trompete e Kyriakos Tapakis no oud tem um conceito
que, não sendo propriamente novo (por cá o mesmo tem feito José Peixoto com uma
abordagem à guitarra que descola do “modus operandi” e da carga geo-histórica
do alaúde médio-oriental e norte-africano acima apontado), tem a
particularidade de, por via do jazz, colocar a cultura musical grega no
contexto mediterrânico. Giannouli reivindica para este projeto uma condição:
aquilo que resultaria se Manfred Eicher tivesse nas suas produções como
referência o Mediterrâneo e não à Escandinávia. A intenção não é apenas
estilística ou estética, chama a atenção para questões iminentemente políticas
e éticas, como as das trágicas migrações das gentes que fogem da guerra nos
países de onde provêm, aventurando-se no mar, para encontrarem na Comunidade
Europeia o contrário daquilo que esta propagandeou como a sua identidade
programática. O certo é que este poderia ser um álbum da ECM – de resto, o
trompetista adota por vezes o tipo de sonoridade de um Arve Henriksen, com o
piano a navegar por terrenos não muito distantes de John Taylor ou Keith
Jarrett, e o oud a lembrar Anouar Brahem. É editado pela Rattle, “selo” de uma das nações da Europa, a
Grécia, em que os campos de refugiados são os campos de concentração dos nossos
dias.
A música que o trio nos entrega é bela, definindo-se por um
melodismo que tem tanto de sofisticado quanto de misterioso, mas tem um caráter
de urgência, aquela de criar música num período pandêmico em que a arte foi
designada como um bem não essencial. Escreve Tania Giannouli nas notas de
apresentação de “In Fading Light”: «Apesar do que está a acontecer
presentemente no mundo, as pessoas precisam de música. Precisam de arte, e esta
não é um luxo. É essencial para a nossa psiquê, para mantermos a saúde e o
equilíbrio, em termos mentais, físicos, emocionais, espirituais e políticos. A
música deste álbum é uma expressão de amor, esperança e compaixão, um apelo à
compreensão, à gentileza e à necessidade de respeitar e abraçar as nossas
conexões». Ou seja, este é um disco de resistência, de afirmação. Suave,
prazenteiro, procurando aproximar-se do sublime e do inefável, algo ingênuo
talvez, pecando pela colagem (ah, a aceitabilidade…) ao modelo eicheriano sem
dúvida, mas interventivo. Estava
a fazer falta.
Faixas:
Labyrinth; When Then; Hinemoa’s Lament; Night Flight; Fallen; Bela’s Dance;
Ingravida; Moth; No Corner; Disquiet; Inland Sea; In Fading Light. (60:25)
Músicos: Tania Giannouli, piano; Andreas Polyzogopoulos, trompete;
Kyriakos Tapakis, oud.
Fonte: Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)
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