A estreia da líder e produtora inglesa é uma fascinante
mistura de spiritual jazz e banda de
metais, que pode soar completamente psicodélica, enquanto se mantem assentada
em arranjos espertos.
No mundo de utilidade musical, é incrivelmente satisfatório
vir através de um álbum tão predominantemente não prático quanto “Yellow”, a
estreia em tamanho natural da líder inglesa e produtora Emma-Jean Thackray. É
tão deliciosamente tortuoso, que desenvolve seu próprio esforço gravitacional. O
álbum se inspira em fontes da moda, incluindo a batida vacilante da magia de Flying Lotus, o jazz místico de Alice
Coltrane, o funk encharcado de luz solar de Roy Ayers e a sobrecarga cósmica de
Sun Ra. Às vezes, o resultado não está distante do imponente To Pimp a Butterfly de Kendrick ou da
sombra jazzística de Tyler, Creator, conforme
presenciado em Flower Boy.
Porém, “Yellow” se divide em seu próprio caminho, graças, em
parte, ao êxtase lisérgico abrangente de Thackray. Ela diz abordar na gravação
“a tentativa de simular uma experiência psicodélica transformadora”, que esclarece
um pouco: “Yellow” é fascinante e profundamente atordoante, uma viagem profunda
em nenhuma parte em particular. Apenas quando você alcança seus propósitos—quando
você tem “Sun” atrelada como uma espécie
de número disco, por exemplo—Thackray lança uma progressão de acordes
impetuosos ou tartamudeia para impulsionar o chão abaixo do seus pés.
Outras características distintas do álbum vêm do uso baixo
dos metais e, em particular, o emprego liberal do sousafone. Sua sonoridade vem
através da tradição do jazz, satirizando a obsessão dos modernos produtores com
subgraves da eletrônica. Como um adolescente em Yorkshire, Thackray foi o
principal trompetista na banda de metais da sua área, uma tradição musical frequentemente
associada com o norte da Inglaterra. O uso dos metais aqui, com o sousafone unido
ao trombone, trompete e saxofone, parece chamar de volta aquela era, dando ao
jazz uma fascinante tintura do Norte da Inglaterra (e New Orleans). Thackray tem
previamente perguntado se “alguma garota branca de Yorkshire” deveria participar
da tradição do jazz da música negra estadunidense. Esta, talvez, seja sua
resposta, com o tremor dos metais fazendo “Yellow” algo mais que uma cópia
direta de uma inovação musical de alguém.
Thackray claramente tem uma habilidade endiabrada para a
composição e arranjo. Fabulosas melodias vocais ancoram este álbum, do comando cadenciado
para “sobressair sua língua” em “Say Something” para uma lânguida ode de
“Golden Green” para extirpar. É uma medida do perfil de Thackray como
arranjadora e líder, que uma canção como “Third Eye” gerencie o som épico e
conciso, com um crescente arranjo de cordas, coro vocal jubilante e uma melodia
que salta em torno como uma rã, todos despachados em três estimulantes minutos,
uma abundância de ideias usadas muito espertamente. É um testamento para a
visão que Thackary colocou em cada momento da sua estreia: Poucas pessoas
sonhariam com um álbum carinhosamente obtuso e alegremente disfuncional como “Yellow”,
e necessita apenas habilidade para realizá-lo.
Faixas : Mercury;
Say Something; About That; Venus; Green Funk; Third Eye; May There Be Peace;
Sun; Golden Green; Spectre; Rahu & Ketu; Yellow; Our People; Mercury (In
Retrograde)
Músicos: Emma-Jean Thackray: multi-instrumentista; Dougal
Taylor: bateria; Lyle Barton: teclados; Ben Kelly: sousafone.
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=kvh2OSrghEA
Fonte: Ben
Cardew (Pitchfork)
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