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domingo, 24 de abril de 2022

BILL FRISELL – VALENTINE (Blue Note Records)

Em uma extraordinariamente variada carreira, Bill Frisell tem feito apenas um punhado de gravações como líder de trio, que sejam talvez surpreendentes dada a forma como ele frequentemente atua em tais trabalho. Em anos recente, o guitarrista nascido em Baltimore, criado em Denver, tem excursionado com dois dos seus trios mais empáticos, com Kenny Wollesen e Tony Scherr e, ultimamente, com Rudy Royston e Thomas Morgan mas, até agora, sem se aventurar pelo estúdio. “Valentine” marca a estreia em estúdio do trio de Frisell, Royston e Morgan, embora o baterista e o baixista sejam parte do quinteto de Frisell em “When You Wish Upon A Star (Okeh, 2015) ”. “Valentine” vem após a excursão internacional de dois anos atrás e foi gravado direto após duas semanas de apresentação no Village Vanguard. Não é por nada que estas treze faixas transpiram algo muito próximo de uma energia ao vivo.

Como Thelonious Monk e Duke Ellington, Frisell tem sempre revisitado velhas composições com novas formações, religando o circuito e explorando um vocabulário novo. A maioria das canções são retrabalhos a partir de um material mais antigo. Embora Frisell tenha visitado muitas das músicas de Monk sobre os anos, é o espírito de Monk que ele endereça na faixa título composta por ele, seu blues divertidamente angular impulsionado pelo passeio do baixo de Morgan. A exploração dobrada do trio é ouvida no grande efeito em "A Flower Is A Lovesome Thing" de Billy Strayhorn, onde as escovinhas de Royston deslizam e o contraponto melódico de Morgan combinam-se intuitivamente em torno das invenções intricadas de Frisell.

Deve ser atraente, com este prato, comparar as velhas e novas versões, mas isto seria um cenário comparativo entre maçãs e laranjas. "Baba Drame" do cantor-compositor/guitarrista malinense, Boubacar Traoré— do maravilhoso The Intercontinentals de Frisell (Elektra Nonesuch, 2003) —é mais um esqueleto comparado ao original, porém ainda hipnótica. Frisell pouco abandona as contagiantes melodias de Traoré com Morgan e Royston preparando ritmos crescentemente dinâmicos. E do blues malinense para uma espécie derivada daquele do Delta com "Levees" da trilha sonora de Frisell para o documentário de Bill Morrison, “The Great Flood (Icarus Films, 2014) ”. Aqui, o baixo investigativo de Morgan e os ritmos agitados de Royston providenciam o perfeito combustível para o curso agitado, ainda que gracioso, de Frisell.

A anteriormente não gravada, "Electricity"—composta para outro filme de Morrison—tem uma face mais contemporânea, com o guitarrista e o baixista esculpindo uma peculiar trajetória melódica em uníssono sobre propulsivos balanços de Royston. Também, conseguindo seu primeiro acompanhamento improvisado em "Hour Glass", uma peça curiosamente evocativa de Frisell para a produção Kaddish de Hal Willner [vê a entrevista de Frisell a Ludovico Granvassu em 2020], baseado em um poema de Allen Ginsberg; som anasalado com zumbido suporte para Frisell e efeitos de pedal, com baixo e baquetas ribombando em inquietas parcerias na dramaturgia. A arquitetura concede melancolia em "Winter Always Turns to Spring" com simples conjuração da destreza dos pontos altos de Frisell, ainda que com melodias e harmonias assombrosas. Contraponto fixadores de Morgan e as escovinhas vibrantes profundamente coloridas de Royston nesta tomada em tom escuro a partir de “Ghost Town (Elektra Nonesuch, 2000)”.

O trio explora o folclórico pastoral na acústica "Where Do We Go", sapateado da música tradicional americana no velho hino de Billy Hill/Pete de Rose, "Wagon Wheel", e o balanço animado em "Keep It Down" dentro de um modelo de rompimento de Frisell em “Nashville (Elektra Nonesuch, 1997) ”. A maioria afeta, entretanto, sua reimaginação para "What the World Needs Now Is Love" de Hal David & Burt Bacharach, onde a liberdade individual tentadoramente expande os saltos da forma coletiva. Uma maravilhosa interpretação gospel, transformada em canção de protesto "We Shall Overcome", um perene cartão de visita de Frisell, soa como uma nota bucólica de esperança nestes tempos turbulentos.

Com “Valentine”, Frisell, Royston e Morgan revela uma interação firme, mas solta, que é uma marca dos melhores grupos, navegando em um curso tão profundamente lírico quanto ousado. Sente-se como o início de uma grande aventura.

Faixas: Baba Drame; Hour Glass; Valentine; Levees; Winter Always Turns To Spring; Keep Your Eyes Open; A Flower Is A Lovesome Thing; Electricity; Wagon Wheels; Aunt Mary; What The World Needs Now Is Love; Where Do We Go; We Shall Overcome.

Músicos: Bill Frisell: guitarra; Rudy Royston: bateria; Thomas Morgan: baixo acústico.

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=5S-4eZtTCGQ

Fonte: Ian Patterson (AllAboutJazz) 

 

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