A educação musical do saxofonista tenor
Wayne Escoffery não iniciou no instrumento, que lhe renderia um Grammy, como
parte da Mingus Big Band. Ele começou no histórico Trinity Choir of Men and Boys em New Haven, Connecticut, uma cria
da Yale University, onde sua mãe trabalhava. O saxofone veio depois, no ensino
médio, finalmente suplantando a voz como seu instrumento de escolha. Porém, Escoffery
nunca esqueceu as emocionantes harmonias vocais dos seus dias de coro. Seu
álbum mais recente, “The Humble Warrior”, está repleto delas.
Escoffery devota quatro das 10 faixas do álbum
para a reconfiguração jazzística do trabalho do coral do compositor Benjamin
Britten, “Missa Brevis In D”, que ele cantou quando criança. Para a seção
“Kyrie”, o líder interpreta o tema vocal de Britten como uma introdução free, às vezes provocantes, às vezes
arranjos tempestuosos da sua banda regular (o pianista David Kikoski, o baixista
Ugonna Okegwo e o baterista Ralph Peterson). Porém, em “Sanctus”, sua
recapitulação, ele se espalha em três partes através de um contigente saxofone,
trompete (Randy Brecker) e guitarra (David Gilmore), mantendo a circularidade
exultante do original, mesmo com os solistas filtrando suas linhas clássicas
através das lentes do moderno jazz. A parte mais encantadora é o dueto de saxofone
e voz em uníssono em “Benedictus” entre Escoffery e seu filho Vaughn, com 11anos
—a idade de Escoffery, quando ele se uniu ao coro Trinity.
Em 2016, Escoffery retornou a New Haven como
professor do departamento de jazz da valorizada Yale School of Music (Coincidentemente, ele agora ensina na mesma
sala onde ele começou seus estudos de saxofone). No ensino sobre as tradições
do jazz, ele ficou curioso com uma canção de blues rústico de Ed Lewis, “I Be
So Glad When The Sun Go Down”, que inspirou sua composição, que veio a ser a
faixa de abertura do álbum, “Chain Gang”. Seu objetivo, aqui, era enfatizar a
conexão entre a canção de trabalho—a espontânea expressão do escravizado— e o jazz.
Neste caso, composição moderna de Escoffery para quarteto invoca o impiedoso frenesi
da vida contemporânea, como todas as canções de trabalho, “Chain Gang” é parte
comentário e parte enfrentando o mecanismo.
Porém, na faixa título, outra inédita, que
é seu mais forte manifesto sobre músicos, cujos trabalhos galvanizaram sua
própria carreira. Os “guerreiros humildes” em sua vida foram mentores como o
saxofonista Jackie McLean e os pianistas Mulgrew Miller e James Williams, músicos
que colocam, ou colocaram, o trabaho artístico e humanidade à frente do
interesse próprio. Seu tributo os centraliza na dinâmica entre o trompete e o
saxofone; Escoffery usa a fusão de harmonias imponentes em duas partes, solos entrelaçados
em uma persuasiva afirmação sobre o poder da sinergia musical. O soberbo toque
dos membros do quarteto — Kikoski, Okegwo e Peterson, guerreiros humildes ao
seu próprio modo—fortalece o claro sucesso dos solistas em seu esforço.
Faixas: Chain
Gang; Kyrie; Sanctus; Benedictus; Sanctus (Reprise); The Humble Warrior;
Quarter Moon; Undefined; AKA Reggie; Back To Square One. (63:04)
Músicos:
Wayne Escoffery, saxofone; David Kikoski, piano; Ugonna Okegwo, baixo; Ralph
Peterson, bateria; Randy Brecker, trompete; David Gilmore, guitarra; Vaughn
Escoffery, vocal.
Para conhecer um pouco deste trabalho,
assistam ao vídeo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=UF196uIsvhs
Fonte:
Suzanne Lorge (DownBeat)
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