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segunda-feira, 23 de maio de 2022

AMARO FREITAS –SANKOFA (Far Out Recordings)

“Uma tempestade está soprando a partir de Paradise (NT: Paraíso) ” escreveu Walter Benjamin, que disse que as rajadas eram tão fortes, que o anjo da História poderia não mais fechar suas asas quando ele voltasse no futuro. A música de Amaro Freitas move-se para o futuro com seus olhos firmemente fechados para o passado místico. “Sankofa” é, claro, o olhar retrospectivo do pássaro, um símbolo onipresente da busca pelas raízes como um progresso criativo, raízes que enveredam pela profunda História do Brasil, que foi a maior nação proprietária de escravos do mundo, mas também o único com a maior e tempestuosa narrativa de rebelião. Isto está por trás da estória de “Baquaqua”, um tributo ao resistente que escapou antes da guerra e ganhou habilidades para contar sua estória singular. Do mesmo modo, a ilusoriamente suave e flutuante “Vila Bela” evoca a rainha Tereza de Benguela, uma rainha tribal brasileira, que resistiu aos traficantes de escravos por uma geração completa.

Um estilo singular ao piano por parte de Freitas — chamá-lo de um híbrido de Abdullah Ibrahim, Thelonious Monk e Chick Corea não faz muito sentido, mas chega perto — está apto a hipnotizar, às vezes até o próximo ponto onde alguém reconhece qualquer coisa mais superior que é a música deste trio e que o baixista Jean Elton e o baterista Hugo Medeiros são tão inerentes ao som, quanto foram os acompanhantes de Bill Evans. Juntos, eles fazem música que podem se mover do pleno prazer de “Ayeye” através do suporte da “cidade encontra a floresta”, de   “Cazumbá” à simples cordialidade do tributo a Milton Nascimento no encerramento.

A primeira das duas gravações de Freitas, “Sangue Negro and Rasif”, teve uma aclamação quase universal, porém Amaro e seus companheiros não estão contente, meramente, em surfar na aprovação crítica. Esta gravação, igual e pacientemente elaborada, voa de costas para a tempestade, com calma inefável, força inconfundível e determinação.

Faixas: Sankofa; Ayeye; Baquaqua; Vila Bela; Cazumbá; Batucada; Malakoff; Nascimento. (56.20)

Músicos: Amaro Freitas, piano; Jean Elton, baixo; Hugo Medeiros, bateria, percussão.

Nota : Este álbum foi considerado, pela DownBeat, como um dos melhores lançados em 2021 com a classificação de 4 estrelas

Fonte: Brian Morton (DownBeat)  

 

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