“Uma tempestade está soprando a partir de Paradise (NT: Paraíso) ” escreveu Walter
Benjamin, que disse que as rajadas eram tão fortes, que o anjo da História
poderia não mais fechar suas asas quando ele voltasse no futuro. A música de
Amaro Freitas move-se para o futuro com seus olhos firmemente fechados para o
passado místico. “Sankofa” é, claro, o olhar retrospectivo do pássaro, um
símbolo onipresente da busca pelas raízes como um progresso criativo, raízes
que enveredam pela profunda História do Brasil, que foi a maior nação proprietária
de escravos do mundo, mas também o único com a maior e tempestuosa narrativa de
rebelião. Isto está por trás da estória de “Baquaqua”, um tributo ao resistente
que escapou antes da guerra e ganhou habilidades para contar sua estória
singular. Do mesmo modo, a ilusoriamente suave e flutuante “Vila Bela” evoca a
rainha Tereza de Benguela, uma rainha tribal brasileira, que resistiu aos
traficantes de escravos por uma geração completa.
Um estilo singular ao piano por parte de Freitas
— chamá-lo de um híbrido de Abdullah Ibrahim, Thelonious Monk e Chick Corea não
faz muito sentido, mas chega perto — está apto a hipnotizar, às vezes até o próximo
ponto onde alguém reconhece qualquer coisa mais superior que é a música deste
trio e que o baixista Jean Elton e o baterista Hugo Medeiros são tão inerentes
ao som, quanto foram os acompanhantes de Bill Evans. Juntos, eles fazem música
que podem se mover do pleno prazer de “Ayeye” através do suporte da “cidade
encontra a floresta”, de “Cazumbá” à simples cordialidade do tributo a Milton
Nascimento no encerramento.
A primeira das duas gravações de Freitas, “Sangue
Negro and Rasif”, teve uma aclamação quase universal, porém Amaro e seus
companheiros não estão contente, meramente, em surfar na aprovação crítica. Esta
gravação, igual e pacientemente elaborada, voa de costas para a tempestade, com
calma inefável, força inconfundível e determinação.
Faixas: Sankofa; Ayeye; Baquaqua; Vila
Bela; Cazumbá; Batucada; Malakoff; Nascimento. (56.20)
Músicos: Amaro Freitas, piano; Jean Elton,
baixo; Hugo Medeiros, bateria, percussão.
Nota : Este álbum foi considerado, pela DownBeat, como um dos melhores lançados em 2021 com a classificação de 4 estrelas
Fonte: Brian
Morton (DownBeat)
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