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segunda-feira, 16 de maio de 2022

CÉCILE McLORIN SALVANT - GHOST SONG (Nonesuch)

Há uma diversão intelectual em todas as coisas que a voz aveludada de Cécile McLorin Salvant toca. Ela cresce e decresce com autoridade, admiráveis agudos que flutuam e graves que murmuram e ribombam. Seu jogo de palavras, provocações, piadinhas e ensaios de modo a forçar não apenas o canto de uma letra, mas mergulhar em papeis como o zelo do método de um ator. Toma, por instante, “Wuthering Heights” de Kate Bush, a faixa de abertura da nova gravação de Salvant, “Ghost Song” pela Nonesuch. Quando ela canta, “How could you leave me/ When I needed to possess you / I hated you / I loved you, too – NT: Como você poderia me deixar/ Quando eu necessitei tê-lo/Eu o odiei/ E o amei, também, em tradução livre” ela veio a ser Catherine Earnshaw, o protagonista da clássica novela de Charlotte Brönte do mesmo nome. De lá, ela flui em um medley de “Optimistic Voices/No Love Dying”, sendo assim uma invulgar, ainda que satisfatória combinação. O anterior, uma clássica cantiga de The Wizard Of Oz com traços de avant garde dobrada nesta última, uma lenta e uma das mais belas baladas de 2000 composta por Gregory Porter. “Ghost Song” é um álbum embalado com tais canções que fantasmas e sonhos apenas alcançam. Sua faixa título com o blues de amor perdido: “I cried the day you decided to go/ I cried much more than you’ll ever know. NT: Eu chorei no dia que você decidiu ir / Eu chorei muito mais do que você saberá, em tradução livre”. A quebra da sua dança com “o fantasma do nosso longo amor perdido”, e se não é bastante para ela cantar estas letras, ela coloca um ponto de decisão no tema com um coro infantil cantando as palavras, não obstante conclua. A beleza de McLorin Salvant e seu mundo musical vem da sua curiosidade, sua profundidade e os artistas que ela traz para o mundo. A musicalidade ao longo do trabalho é impecável, às vezes desafiando a calmaria, sempre verdadeiro para a profundidade de cada canção. Tome, por instante, “Until”, a mais longa deste trabalho com 12 músicas. Que inicia como um tranquilo dueto entre a vocalista e o pianista Sullivan Fortner, que é uma força em si mesma quando solando, desenvolve em uma tomada em forma de tango apresentando um solo exuberante de flauta de Alexa Tarantino com James Chirillo dedilhando o banjo e Keita Ogawa dançando belamente na percussão. Salvant é uma vocalista pensante, que apresenta “Ghost Song” como uma um complete trabalho de arte, onde cada canção constrói a conclusão, como um grande divertimento. A sacudida “I Lost My Mind” é logicamente seguida pela adorável “Moon Song”. Em “Trail Mix”, entrega sua voz (sem mencionar os pianistas Fortner e Aaron Diehl), como de resto ela admiravelmente controla as tarefas do piano neste instrumental. “The World Is Mean” de Three Penny Opera de Kurt Weill derrama-se em puro teatro debochado. “Dead Poplar” estabelece a música para uma carta do fotógrafo Alfred Stieglitz ao pintor Georgia O’Keefe com verdadeira tristeza. “Thunderclouds” tem a intensidade de algo composto por Norah Jones e cantado por Joni Mitchell. Salvant encerra com “Unquiet Grave” um giro à cappella nesta balada tradicional e trágico bluegrass. Sua tranquila maestria, perfeitamente, ofusca as luzes conforme as cortinas baixam.

Faixas

A1 Wuthering Heights 2:43

A2 Optimistic Voices 7:24

A3 Ghost Song  3:23

A4 Obligation1:33

A5 Until 6:32

B1 I Lost My Mind 3:41

B2 Moon Song  3:05

B3 Trail Mix 2:24

B4 The World is Mean 4:49

B5 Dead Poplar 2:36

B6 Thunderclouds 3:37

Músicos - Cécile McLorin Salvant: vocal, piano; Paul Sikivie: baixos acústico e elétrico, sintetizador; Sullivan Fortner: piano, Fender Rhodes, vocal; Alexa Tarantino: flauta; Aaron Diehl: piano, pipe organ; Marvin Sewell: guitarra; James Chirillo; banjo; Daniel Swenberg: alaúde; Burniss Travis: baixo; Kyle Poole: bateria; Keita Ogawa: percussão.

Fonte: Frank Alkyer (DownBeat) 

 

 

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