Há uma diversão intelectual em todas as coisas que a voz
aveludada de Cécile McLorin Salvant toca. Ela cresce e decresce com autoridade,
admiráveis agudos que flutuam e graves que murmuram e ribombam. Seu jogo de
palavras, provocações, piadinhas e ensaios de modo a forçar não apenas o canto
de uma letra, mas mergulhar em papeis como o zelo do método de um ator. Toma, por
instante, “Wuthering Heights” de Kate Bush, a faixa de abertura da nova
gravação de Salvant, “Ghost Song” pela Nonesuch. Quando ela canta, “How could
you leave me/ When I needed to possess you / I hated you / I loved you, too –
NT: Como você poderia me deixar/ Quando eu necessitei tê-lo/Eu o odiei/ E o
amei, também, em tradução livre” ela veio a ser Catherine Earnshaw, o
protagonista da clássica novela de Charlotte Brönte do mesmo nome. De lá, ela
flui em um medley de “Optimistic
Voices/No Love Dying”, sendo assim uma invulgar, ainda que satisfatória
combinação. O anterior, uma clássica cantiga de The Wizard Of Oz com traços de avant
garde dobrada nesta última, uma lenta e uma das mais belas baladas de 2000
composta por Gregory Porter. “Ghost Song” é um álbum embalado com tais canções que
fantasmas e sonhos apenas alcançam. Sua faixa título com o blues de amor perdido: “I cried the day you
decided to go/ I cried much more than you’ll ever know. NT: Eu chorei no
dia que você decidiu ir / Eu chorei muito mais do que você saberá, em tradução
livre”. A quebra da sua dança com “o fantasma do nosso longo amor perdido”, e
se não é bastante para ela cantar estas letras, ela coloca um ponto de decisão
no tema com um coro infantil cantando as palavras, não obstante conclua. A
beleza de McLorin Salvant e seu mundo musical vem da sua curiosidade, sua
profundidade e os artistas que ela traz para o mundo. A musicalidade ao longo
do trabalho é impecável, às vezes desafiando a calmaria, sempre verdadeiro para
a profundidade de cada canção. Tome, por instante, “Until”, a mais longa deste
trabalho com 12 músicas. Que inicia como um tranquilo dueto entre a vocalista e
o pianista Sullivan Fortner, que é uma força em si mesma quando solando, desenvolve
em uma tomada em forma de tango apresentando um solo exuberante de flauta de Alexa
Tarantino com James Chirillo dedilhando o banjo e Keita Ogawa dançando
belamente na percussão. Salvant é uma vocalista pensante, que apresenta “Ghost
Song” como uma um complete trabalho de arte, onde cada canção constrói a
conclusão, como um grande divertimento. A sacudida “I Lost My Mind” é
logicamente seguida pela adorável “Moon Song”. Em “Trail Mix”, entrega sua voz
(sem mencionar os pianistas Fortner e Aaron Diehl), como de resto ela admiravelmente
controla as tarefas do piano neste instrumental. “The World Is Mean” de Three Penny Opera de Kurt Weill derrama-se em puro teatro debochado.
“Dead Poplar” estabelece a música para uma carta do fotógrafo Alfred
Stieglitz ao pintor Georgia O’Keefe com verdadeira tristeza. “Thunderclouds” tem
a intensidade de algo composto por Norah Jones e cantado por Joni Mitchell.
Salvant encerra com “Unquiet Grave” um giro à cappella nesta balada tradicional
e trágico bluegrass. Sua tranquila maestria,
perfeitamente, ofusca as luzes conforme as cortinas baixam.
Faixas
A1 Wuthering
Heights 2:43
A2 Optimistic
Voices 7:24
A3 Ghost
Song 3:23
A4 Obligation1:33
A5 Until
6:32
B1 I
Lost My Mind 3:41
B2 Moon
Song 3:05
B3 Trail
Mix 2:24
B4 The
World is Mean 4:49
B5 Dead
Poplar 2:36
B6 Thunderclouds
3:37
Músicos - Cécile McLorin Salvant: vocal, piano; Paul Sikivie: baixos acústico e elétrico, sintetizador; Sullivan Fortner: piano, Fender Rhodes, vocal; Alexa Tarantino: flauta; Aaron Diehl: piano, pipe organ; Marvin Sewell: guitarra; James Chirillo; banjo; Daniel Swenberg: alaúde; Burniss Travis: baixo; Kyle Poole: bateria; Keita Ogawa: percussão.
Fonte: Frank
Alkyer (DownBeat)
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