Em 2010, um escritor britânico viajou a Paris para
entrevistar o pianista Martial Solal. O endereço que ele forneceu foi o
afluente subúrbio Chatou. Na chegada, ao chegar à casa de Solal, o escritor encontrou
algo completamente distinto de qualquer músico de jazz, que ele já tinha
visitado, uma sofisticada vila burguesa rodeada por um jardim ornamental repleto
de árvores maduras, completamente circundada por uma alta cerca de metal. O
francês toma seus artistas seriamente e, na evidência desta casa, a mentalidade
do escritor apareceu para recompensar os músicos de jazz generosamente. Outros
antes dele ficaram, provavelmente, surpresos. "Jean-Luc Godard can be
thanked for this – NT: Jean-Luc Godard pode ter o agradecimento por isto, em
tradução livre" disse Solal com um sorriso, referindo-se ao diretor do filme,
que o contratou para escrever a trilha sonora para o diretor para seu clássico
experimental de 1960, “A Bout De Souffle (Sem Fôlego).
Solal, que em 2010, fez 82 anos, ainda recebia royalties do
filme de Godard, e foi como ele disse, tivesse ocorrido uma oferta de um prêmio
vencedor da loteria, que naquela época, modestamente, lhe assegurou o lugar de
pianista da casa do clube de jazz St
Germain des Prés, em que vivia uma vida financeiramente precária como
qualquer músico de jazz em degrau baixo, em qualquer lugar do mundo. Um
pianista tão singular e assimétrico, quanto compositor, como Thelonious Monk,
Solal não tinha expectativas em ter dinheiro no banco, muito menos uma casa requintada
em Chatou. O incremento da renda em “A Bout De Souffle” ajudou-o a continuar
com sua integridade artística antes de considerações comerciais. Para aqueles
que são amantes do jazz pode ser tão gratificante quanto foi para ele.
“Coming Yesterday—Live At Salle Gaveau 2019” é, diz Solal, em
2021, seu álbum final. Ele não sabe se seria desta vez, imaginando, em vez
disto, que deve ser o início de uma nova trajetória, no qual ele se
concentraria nos standards, oito dos
quais ele transforma neste álbum (as outras duas faixas, "Coming
Yesterday" e "Sir Jack" são inéditas). Porém, agora que está com
93 anos, Solal decidiu se aposentar, embora ele ainda esteja à frente. O álbum é
um discurso de despedida elegante e peculiar no qual "Lover Man",
"My Funny Valentine" e "Have You Met Miss Jones" estão
entre músicas com tratamento tão modernos quanto o dia em que deixou as mãos do
compositor. Solal tem sucesso em realizar "Happy Birthday", que soa
interessante e invulgar para quatro minutos e meio. Boa viagem, maestro. Desfrute sua aposentadoria.
Faixas : I
Can’t Get Started; Coming Yesterday: Medley Ellington; Sir Jack; Tea For Two;
Happy Birthday; Lover Man: I’ll Remember April; My Funny Valentine; Have You
Met Miss Jones.
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=LyMVT40PySk
Fonte: Chris
May (AllAboutJazz)
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