Bill Evans, como perito (e como perito em seu próprio modo),
emergiu em seu caráter distinto plena e fundamentalmente formado. Parte da
liberdade com artistas tais como Miles, Coltrane ou Ornette encontra-se em suas
eras Darwinianas, examinando pontos evolucionários entre as eras, talvez escolhendo
uma era como sua. Evans está mais próximo de uma vela queimando na escuridão. Você
deve iluminar seu calendário e concentrar-se na chama conforme cintila, abranda
um microssegundo pelo estímulo, por oxigênio e, quase instantaneamente, brota
de forma ascendente mais uma vez. Pouco a pouco impulsiona a chama. Passeia
onde ela vai, ainda que conectada sempre com seu pavio. Na vida real, a flama gotejou
antes do tempo certo, porque Evans, mantenedor da música, deixou tristemente desacompanhado
o estímulo do seu próprio corpo, sua própria manifestação polida do corpo.
Desde que ele morreu aos 51 anos, nós veneramos cada nota
gravada que ele deixou. O lançamento de mais duas gravações arquivadas (junto
com cinco CDs da carreira retrospectiva, “Craft’sEverybody Still Digs Bill
Evans”, o quinto disco, tem o conteúdo idêntico a “On a Friday Evening”) deixa
o pianista quase tão atarefado, 40 anos após seu sepultamento em Louisiana, quanto
estava em vida. “On a Friday Evening” nos presenteia com uma noite no agora
extinto OilCanHarry’s, Vancouver,
British Columbia, 1975. O baixista é Eddie Gomez (que se juntou a Evans em 1966
e permaneceu até 1977) e o baterista Eliot Zigmund. O trio mantém-se relativamente
disperso, mas com ricas construções. Gomez trabalha com lógica sonora com
linhas simples para seus solos, em vez do furiosos e complicadas manchas
ouvidas em “Behind the Dikes”. Mesmo “TTT (Twelve Tone Tune)”, um exercício de
construção harmônica não convencional parece segura em seus fundamentos,
abordado com uma segurança coletiva nestas águas inexploradas ainda no prumo
dos seus próprios conhecidos arranjos de maremoto.
Por trás de “Dikes” reúnem-se dois trabalhos em Hilversum, Holanda,
em 1969. Gomez a bordo, Marty Morell na bateria. Nenhum trio de Evans pareceu
sem sintonia, mas a flama está, decididamente, com ângulos singulares aqui.
Gomez conecta os pontos das estrelas para modelar novas constelações. Morell encontra
um sistema solar ou dois em seus apêndices de metal— deixando o timbau cair
pesadamente e derrama abertamente, fechando-o para tiques de estalidos, tentando
os toques mais luminosos no passeio e toque dos pratos para comparação/contraste.
Evans deixa cada companheiro com sua voz distinta e dá-lhes locais de honra em
toda conversa. Para ele mesmo, ele deixa os acordes na mão esquerda tocar,
quando ele os sente, acopla estes acordes às pegadas da mão direita, nunca se
exibindo, nunca excedendo, mantendo-se, sublimemente, seguro.
“É realmente um documento esplêndido”, o pianista Vijay Iyer
disse, especificamente de “Behind the Dikes”, mas, de qualquer forma, é uma
sessão ao vivo de Evans em espírito. “Especialmente desde que seja ao vivo, ela
está tentando alcançar o público.… Eles estão tentando construir algo consistente,
esculpir uma experiência para todos na sala, e este é o desafio”. Isto é o que Evans
realizou em cada noite, 10 flamas cintilantes construídas por 10 dedos.
Fonte: ANDREW HAMLIN (JazzTimes)
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