Talvez o dano mais insidioso que a COVID-19 provocou na
humanidade é a negação de nossa capacidade de estar plenamente presente com o outro.
O tratamento com este trauma tem sido um desafio singular e existencial para a
criatividade dos improvisadores, e , no início da pandemia, estes dois mestres
da música e amigos buscaram-se para remediar suas condições. Interpretado e
gravado inteiramente em isolamento, conectado apenas via internet, Bloom e
Helias manejaram para entrar nos sagrados espaços da conexão e comunhão, provando
que elas existem fora do tempo e locação física.
Para a melhor parte de uma hora, o duo embarca em uma ampla
jornada através de vários paisagens sonoras e texturas. A amplitude inicial da
faixa título revela uma elegância familiar da entonação do saxofone soprano de
Bloom e o calor abrasador do baixo de Helias. “Roughing It” inicia divertida e exploratória
até Bloom citar o refrão de abertura da perene “I Remember You” de Victor
Schertzinger/Johnny Mercer, que parece transportá-los para a idade do jazz do
passado, conforme Helias deriva para um modo de passeio do baixo e Bloom suínga
alegremente no topo, finalmente sedimentando uma coda blueseira. Às vezes, eles
empenham-se um pouco no papel reverso, como em “Far Satellites”, quando Helias,
através do seu hábil uso de harmonias, usa as melodias acima das entonações
sustentadas por Bloom em uma surpreendente inversão da cor tímbrica.
Apesar de tudo, o que é aparente é que Bloom e Helias estão em
processo de recuperação da redescoberta de cada outro através dos sons deles,
abraçando a escala musical completa de expressividade, que poderia, facilmente,
ser interpretada, no conjunto, como um prazer.
Faixas:
Some Kind Of Tomorrow: Some Kind Of Tomorrow; Magic Carpet; Early Rites;
Willing; Traveling Deep; Roughing It; Far Satellites; Pros And Cons; Drift;
Star Talk; First Canvas. (57:56)
Músicos: Jane Ira Bloom, saxofone soprano; Mark Helias,
baixo.
Nota: Este álbum foi considerado, pela DownBeat, como um dos
melhores lançados em 2021 com a classificação de 4 estrelas.
Fonte: Gary Fukushima (DownBeat)
Nenhum comentário:
Postar um comentário