Espen Eriksen revela uma surpresa ao final deste memorável
álbum ao vivo. Para a faixa final, seu trio toma o tema da canção de Krzysztof
Komeda sobre a pancada do terror urbano de Rosemary's
Baby (O bebê de Rosemary) de 1968. Inicia com o martelar gótico do piano e
os arranhões lúgubres do baixo repondo o vocal da fala feminina "la-la"
de Komeda. De novo, ao final, o teclado genial de Eriksen varre a região de uma
melancolia abafada, lançada em algum lugar entre o pavor e a contemplação. Vem
a ser uma peça que parece articular os muitos mistérios da vida e da morte.
Porém, isto não surpreenderia qualquer um familiarizado com
o suspense das gravações assombrosas de Eriksen. Sua música deve bem ser uma
trilha sonora de um verão sem fim, mas este apenas ouve sua angelical musa no
toque que estão ausentes no ponto. O melhor trabalho de Eriksen teve sempre uma
tensão no fio da navalha, onde uma manhã preguiçosa de domingo acena para a obscuridade
da noite. Para este lançamento gravado em Oslo e Poland, o trio de Eriksen está
unido pelo antigo associado, Andy Sheppard, no saxofone. As sete faixas ampliam
suas versões em estúdio em diversos minutos, permitindo espaço extras por estados
de espírito para clarear e escurecer ou corações a quebrar e cicatrizar. Sobre
uma batida clássica de arrastar aos pés em "1974", Sheppard estabelece
a maioria de melodias lentas de Eriksen. Porém, fiel à forma, tudo vira
irregular e misterioso com tons menores fluindo através dos dedos de Eriksen,
enquanto Sheppard causa o tumulto. "Anthem" então encontra Sheppard brincando
com a faixa inédita e com a melodia no baixo em uma performance alegremente
impertubável.
Atrelado ao ritmo agressivo em "Suburban Folk Song",
Eriksen segue no êxtase de alguém que tem uma natural afinidade com ragas (NT: é como se chamam os modos usados na música clássica
indiana. Trata-se de um conjunto de sete svars; nome pelo qual as notas musicais
são conhecidas na música clássica indiana. Elas são aplicadas em suas formas
"natural", "bemol" ou "sustenido") e o
miraculoso. Meio caminho através da qual a audiência pode não se conter e
explode em aplauso. Sheppard tocou no estúdio, mas não retrata aqui. Pela
primeira vez, ele está comedido. "In The Mountains" Sheppard estrela na
forma emocionante ainda que, suportado por uma batida melancólica na conga, que
tem mais balanço e granulação do que a contraparte do álbum. Sheppard está ausente
do seu estúdio na atuação em "Perfectly Unhappy", assim Eriksen gira
ternamente em torno da principal canção. Esta deve ser a performance mais
impulsiva do álbum, mas permanece identificável a Eriksen em cada acorde.
"Dancing Demons" tem uma melodia de abertura de
clareza tropical, que descende de algo misteriosamente oposto com sua interação
do baixo e notas penetrantes. Então, vem um retorno para a pureza aquecida, deixando-nos
extasiados na coda como um sonho. Depois disso, esta arrepiante inclinação em "Rosemary's
Baby" serve como recordação sobre se o mundo cotidiano de Eriksen venha a
ser estranhamente alterado. Finalmente, uma menção especial segue a gravação
aqui, onde cada instrumento estronda com verve e agudeza. Tal ressonância orquestral
tem sentimento similar a estar na primeira fila.
A música de Eriksen trabalha em algum lugar abaixo da superfície,
pesquisando as emoções interiores. E ainda assim, permanece ambíguo o bastante
para permitir a cada ouvinte suas próprias visões ou sentimento. Este
irresistível álbum ao vivo merece colocá-lo no panteão de grandes.
Faixas: 1974;
Anthem; Suburban Folk Song; In The Mountains; Perfectly Unhappy; Dancing
Demons; Rosemary’s Baby.
Músicos: Espen Eriksen: piano; Lars Tormod Jenset: baixo;
Andreas Bye: bateria; Andy Sheppard: saxofone (nas faixas 1, 2 &4)
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=zBmh1gZt3Ug
Fonte: Gareth
Thompson (AllAboutJazz)
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