O pianista de Chicago, Matt Piet, estabelece para si um duro
desafio para superar um bloqueio criativo e um “colapso mental”, resultante de
problemas acumulados, mas deflagrado diretamente em 2018 pela morte do seu
herói, Cecil Taylor. Tomando emprestada uma estratégia estrutural do inovador
álbum de Bill Evans, de 1963, “Conversations With Myself”, Piet gastou um dia
duplicando a improvisação sobre a improvisação para criar trabalhos no teclado
não apenas como um simples instrumentista—ou mesmo três juntos—que poderia
sempre finalizar.
Sessenta anos atrás, Evans gravou majoritariamente canções
familiares, mas Piet utilizou apenas instruções conceituais, tais como “quinta
abertas”, “inserção no piano” e “dentro de uma oitava” como a base para cada
uma das 15 estruturas em pentimento (NT:
é um processo artístico no qual uma alteração é executada numa pintura enquanto
sua feitura está em andamento). Ele completou cada peça, que empilha três
passagens sequenciais sem reouvir as faixas já inscritas, contando com a memória
e instinto por reações imediatas.
Não há edição pós-improvisação. Estes são eventos discretos
e com variedade sonora, antes de temas desenvolvidos ou conectados, e a música
de Piet, aqui (ele liderou ou participou de uma dúzia de álbuns desde 2014), é
mais frequentemente gestual, aventurosa e exploratória que autorreflexiva e
sistemática. Porém, seu imaginativo alcance é cativante. “To Elijah” é quase,
convencionalmente, bela e “Plod On As One” é como um templo, ainda que outras
músicas sejam misteriosas sob a tampa da correria, reorientando o piano como se
fosse uma harpa, dedos nos pratos ou balafon (NT: é um instrumento musical comum na África subsaariana e precursor do
xilofone).
Espontaneidade é o lema deste álbum e sua disciplina é o
autoenvolvimento, ainda que algumas destas improvisações tenham momentos que
poderiam ser destilados, suas implicações sugerem o trabalho que está por vir.
Faixas:
Only A Phase; Alt-Man; Swipe Left; Hands Of Time; A(Whole)Nother Thing; Fluster
Cuck; 750 ML.; Held Hostage; Danse Macabre; Insense; To Elijah; Say On; The
Power And The Freedom; Momento Mori; Plod On As One. (29:07)
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=KUXEjXcRNx4
Nota: Este álbum foi considerado, pela DownBeat, como um dos
melhores lançados em 2021 com a classificação de 4 estrelas.
Fonte: Howard Mandel (DownBeat)
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