Houve apenas um lento gotejamento de gravações de Anthony
Braxton, mais todas de uma vez, que ele constituiu por um tempo desperdiçado em
dois grandes lançamentos. Um é uma caixa de CD com 13 performances de
standards. O outro é uma coletânea de gravações de composições inéditas, que
forma parte do seu último conceito musical, ZIM
Music, doze trabalhos que atinge um total de mais de 11 horas e são
lançados em um simples disco Blu-Ray.
ZIM Music é
embasada no princípio que Braxton chama "lógica gradiente", que essencialmente
se resume à música que constantemente muda sua mente. No folheto que acompanha
o Blu-Ray, o próprio Braxton descreve
ZIM Music como "um planador que
circula em uma espiral descendente e/ou ascendente". Esta música constantemente
muda o tempo, volume e conduta, mas em um passo gradual, permitindo-lhe,
graciosamente, variar sua forma e foco com diferentes instrumentos ou te juntas
ou cai fora da mistura e vem para a frente ou retrocede para o segundo plano.
As performances destas doze composições vêm de concertos ao
vivo em 2017 e 2018 e estão em seis, sete e nove formações. Todos têm uma
configuração majoritariamente de instrumentos de sopro e cordas, com o núcleo
dos músicos em cada peça tendo o próprio Braxton nas palhetas, Taylor Ho Bynum nos
instrumentos de sopro, Dan Peck na tuba e Jacquline Kerrod na harpa. Eles estão
unidos a um grupo selecionado de instrumentistas adicionais, que variam de
unidade a unidade, principalmente Shelley Burgon, Miriam Overlach ou Brandee
Younger como uma segunda harpista, Adam Matlock no acordeón e aerofone (NT: Um aerofone ou
aerófono é qualquer instrumento musical em que o som é produzido principalmente
pela vibração do ar sem a necessidade de membranas ou cordas e sem que a
própria vibração do corpo do instrumento influencie significativamente no som
produzido), e Tomeka Reid no cello ou Jean Cook no violino. Para as
peças em noneto, dois instrumentistas extras são adicionados, Ingrid Laubrock no
saxofone e Steph Richards no trompete.
Esta música é, inicialmente, potencializada, mas conforme
alguém escuta as peças diferentes, o sentido começa a aparecer. Cada composição
é uma longa jornada fascinante. Os músicos tocam linhas, ambos notadas e
improvisadas, que são, para a maior parte, muito musicais. A coisa é que eles não
as tocam juntas aos mesmo tempo. Há algumas bandas massivas varrendo as
audiências, mas majoritariamente os instrumentos tocam melodias entrelaçadas,
que às vezes estronda e tritura contra cada outro. Passagens solo geralmente duram
muito tempo o bastante para uma impressão no ouvido, mas então a música
lentamente se transforma em outra configuração, como um caleidoscópio transformador.
O próprio Braxton é frequentemente a voz líder mais impressionante, tocando
belamente solos melodiosos no sax alto e soprano, que brilha através do redemoinho
em toda a parte. Ocorreram, também, seções de duetos, onde Braxton e Bynum,
Peck e Matlock, os dois harpistas, e outras combinações, comprometem-se em
conversação eloquente. Em seu acordeón, Matlock entrelaça através da mistura, frequentemente
trazendo a coesão musical para vários estouros, grunhidos e trinados de outros
instrumentos, enquanto o dedilhar de duas harpas trazem uma incandescência de
liberdade celestial sonora em toda a parte. O cello de Tomeka Reid adiciona
granulosidade e profundidade, e, quando Jean Cook assume sua cadeira em Compositions 418 através do 420 em violino, ela traz uma textura
mais leve e emoção à música. As configurações de sexteto e septeto que
compreendem oito das doze peças se sentem relativamente claras e ordenadamente
comparadas às quatro peças do noneto, Compositions
413 através das 416. Nestas, a
adição de Laubrock e Richards criam um som mais denso, onde os instrumentos de
sopro são frequentemente dominantes. Estes especialmente ocorrem quando Laubrock
e Richards explodem nas suas próprias tangências, completamente separadas do
que Braxton e Bynum estão fazendo.
Anthony Braxton produziu um bocado de música divertida em
sua distinta carreira, porém isto é algo da sua complexidade e brilho. É constante
a atividade desta música cativante, mas é impossível abarcar tudo com um par de
audições. É melhor para simplesmente absorver de primeira sem tentar analisar
muito. Os detalhes revelam mais a si mesmo em cada audição.
Faixas : Composition
No. 402; Composition No. 408; Composition No. 409; Composition No. 410;
Composition No. 412; Composition No. 413; Composition No. 414; Composition No.
415; Composition No. 416; Composition 418; Composition No. 419; Composition No.
420.
Músicos : Anthony
Braxton: palhetas; Taylor Ho Bynum: cornet; Dan Peck: tuba; Jacquline Kerrod:
harpa; Shelley Burgon: harpa; Tomeka Reid: cello; Adam Matlock: acordeón; Jean
Cook: violino; Steph Richards: trompete; Ingrid Laubrock: saxofone; Brandee
Younger: harpa; Miriam Overlach: harpa.
Nota: Este álbum foi considerado, pela DownBeat, como um dos
melhores lançados em 2021 com a classificação de 4 estrelas.
Fonte: Jerome
Wilson (AllAboutJazz)
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