O trompetista John Daversa assume o maior desafio artístico
de sua carreira com “All Without Words: Variations Inspired by Loren”. É uma peça
para uma orquestra ampla—um caso de "jazz com cordas", caso se
necessite de um rótulo—que segue bem o estilo do seu antecessor dentro da
sagacidade do par de álbuns,”Charlie Parker With Strings” (ambos com o mesmo
título), inicialmente lançados pela EmArcy, e lançados juntos, posteriormente,
em uma compilação em CD (mais faixas extras) em 1995 pela Verve e o álbum do
trompetista Clifford Brown, “ Clifford Brown With Strings (EmArcy, 1955)”.
Os trabalhos de Brown e Parker pareceram ser uma tentativa
de fazer "música agradável", apresentando, majoritariamente, canções
populares familiares, enfeitadas e suavizadas com cordas para tornar o som mais
palatável, talvez, para aqueles que não devem mergulhar em gravações de
pequenos grupos de jazz de Parker com Dizzy Gillespie ou Clifford Brown com
Richie Powell e Max Roach. Este não bate nos álbuns de “cordas” de Parker e
Brown; o de Parker é excelente, essencial mesmo, enquanto o de Brown é muito
bom. Porém, em retrospecto, vê-se que estes trabalhos iniciais tem um pouco de
ausência de “carne nos ossos” das mais modernas gravações no estilo “com
cordas”, tais como “Misteriosos (Warner Brother, 1994” do trompetista Wallace
Roney e “Black Dahlia (Blue Note, 2001)” de Bob Belden.
Uma grande parcela da substância que alimenta “All Without
Words: Variation Inspired By Loren” vem do conceito e composições do guitarrista
Justin Morell. Daversa colocou a bola para rolar no projeto, quando ele pediu a
Morell— seu amigo e antigo companheiro musical —para escrever, em larga escala,
peças orquestrais de jazz. Morell veio com uma peã para seu filho autista não
verbal, Loren, um trabalho que veio a ser um exame exuberante das provações e atribulações—
e os prazeres— do crescimento de uma criança especial.
Além das dificuldades que Justin Morell se deparou, o que a música
manifesta, acima de tudo— com sua orquestra de cordas e instrumentos de sopro
completa, percussão e coro— é puro e incondicional amor, que encara e cuida bem
dos desafios associados a Loren.
As doze músicas apresentadas, aqui, são maravilhosamente
arranjadas. O trabalho orquestral nunca subjuga a mensagem ou som, e o trompete
Daversa, à frente, é comovente e empático,servindo como narrador de Loren e da
jornada de Justin Morell.
Houve grandes álbuns orquestrais de jazz no passado: o tiro
de aviso de Charlie Parker no início dos anos 1950, claro, e o previamente
mencionado Wallace Roney e discos do Bob Belden; o disco do saxofonista Art
Pepper, “Winter Moon (Galaxy Records, 1981)” , “Desmond Blue (RCA Victor, 1962)”
do saxofonista alto Paul Desmond e a colaboração de Claus Ogerman/Michael
Brecker em “Cityscape (Warner Brothers, 1982)”. “All Without Words: Variations
Inspired By Loren” eleva o nível do trabalho artístico e beleza.
Faixas: Loren's
Theme; Searching But Never Finding; Two Steps Forward; Seeing It Again For The
First Time; The Urgency Of Every Moment; Invisible Things; Walking In Our Own
Footsteps/The Circle Game; The Smallest Thing; A Day Is Forever/Like Any Other;
Three Roads Diverged; Learning What It Means To Be; It's Enough To Be Here,
Now.
Músicos : John Daversa: trompete; Justin Morell: guitarra;
Tai Cohen: piano; Dion Kerr: baixo; David Chiverton: bateria.
Instrumentação Adicional: Scott Flavin, maestro; Amanda
Quist, condutor do coro; Abby Young, primeiro violino. Conrad Fok: piano; Lev
Garfein: violino; Violino I :Abby Young; Sheena Gutierrez; Karen Lord-Powell;
Steffen Zeichner; Ashley Liberty; Gregory Carreno; Violino II : :Svetlana
Salminen; Yuhao Zhou; Orlando Forte; Katarina Nazarova; Julia Jakkel; Viola:
Matt Nabours; Vishnu Ramankutty; Ross DeBardelaben; Cello: Brent Charran; Shea
Kole; Tadao Ito; Baixo: Brian Powell; Ethan Olaguibel; Palhetas: Jennifer Grim:
flauta; Alyssa Mena: flauta; Troy Roberts: saxofones tenor e soprano; Melvin
Butler: saxofones tenor e soprano; Matt Clarke: clarinete; Frankie Capoferri:
clarinete, clarinete baixo; Gabriel Beavers: fagote; Melanie Villarreal: fagote;
Richard Todd: horn; Stan Spinola: horn; Antoni Olesik: tímpano, vibrafone,
carrilhão, marimba; Coro: Emily Finke: soprano; Safia Zaman: soprano; Alexandra
Colaizzi: alto; Kate Reid: alto; Sidney O’Gorman: tenor; Noah Zaidspiner:
tenor; Thandolwethu Mamba: baixo; Dylan Melville: baixo.
Fonte: Dan
McClenaghan (AllAboutJazz)
Nenhum comentário:
Postar um comentário