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domingo, 30 de outubro de 2022

LIONEL LOUEKE – HH (Edition Records)

Hulk Hogan? Harry Houdini? Hugh Hefner? Tão tentador quanto é imaginar Lionel Loueke, animadamente, seguindo algo paradoxal, o “HH” do título, sim, homenageia Herbie Hancock—um mentor e uma fonte de inspiração do guitarrista nascido no Benin. Um jurado na audição do painel que selecionou Loueke para o Thelonious Monk Institute of Jazz, Hancock, consequentemente, convidou os serviços das seis cordas de Loueke em “Possibilities (Hear Music, 2005) ”, “River: The Joni Letters (Verve,2007)” e “The Imagine Project (Herbie Hancock Music, 2010)”. Um músico regular nas apresentações da banda da legenda dos teclados, Loueke é, portanto, bem colocado para reinterpretar a música de Hancock, o que ele faz, aqui, com seu estilo inimitável.

Loueke visita onze composições de Hancock de 1962 a 1983, indiscutivelmente, seu período mais criativo, quando ele pulou do post-bop e hard-bop ao jazz influenciado pelo soul, jazz-funk e hip-hop eletro-funk/instrumental. Abordagem despojada da voz e guitarra de Loueke—com laços adicionando texturas e profundidades— toques do terreno comum dentro da música, isto para dizer, melodia pronunciada, lirismo e sofisticação harmônica. Músicas da lavra de Hancock, "Cantaloupe Island" e "Watermelon Man"—um imenso sucesso com Mongo Santamaria—são talvez alvos fáceis, retrabalhados aqui como exercício de funk lento. A primeira é um pouco simplória, mas na segunda, as improvisações influenciadas pelo kora (NT: instrumento musical de cordas originário do oeste africano) e balanço percussivo, trabalham a magia delas, modernizando o som familiar.

A sobreposição, ocasionalmente, empresta um sentimento pequeno do grupo aos procedimentos, mas a habilidade de Loueke, simultaneamente, predigita as linhas do baixo e padrões da guitarra rítmica, exploração da percussão e lidera os embelezamentos —ou qualquer combinação disto —frequentemente acompanhado pelo seu vocalise tonificado — que interpretam tal manipulação, em estúdio, largamente desnecessária. Dito isto, o feitiço etéreo e notas em circuitos cintilantes que pontuam seu toque comovente na assombrosa "Tell Me A Bedtime Story" ou a contramelodia pictoricamente eletrificada, que pisoteia levemente em "Voyage Maiden"—uma das suas duas composições—e adiciona subtítulos emocionantes para arranjos básicos diferentes. A outra composição de Loueke, "Homage to HH", evita tais armadilhas, com o toque de Loueke e arrulhos, principalmente ternos, suavemente vindo do coração em uma oferta.

Há uma elegância pastoral na tomada encantadora de Loueke para "Dolphin Dance", onde sua turma matiza o entrelaçamento da melodia, notas de baixo e arpejos sedutores, um par de músicas, onde Loueke repousa seu vocalise, é tudo muito impressionante com restrição. O balanço galopante de "Actual Proof" é o principal aceno para o original jazz-funk de Hancock, que Loueke reimagina através de um prisma folclórico africano. "Butterfly", que toma como seu ponto de início e fim a melodia encantadora de Hancock, e "Come Running To Me", vagamente abrasileiradas, são processadas com duetos sedosos entre guitarra e voz. Loueke assume liberdades fascinantes com "Rockit" e revela virtuosismo em entonação com flocos, uma, assumidamente, versão moderna de "One Finger Snap", post-bop para o século XXI.

Homenagem aos grandes do jazz é parte da linguagem codificada do Idioma jazzístico, mas com este, primordialmente, trabalho acústico, Loueke homenageia Hancock, que, seguramente, apreciaria, pela construção daquilo que ficou para trás. Do lirismo de ternura carinhosa e do dançável funk africano às contemporâneas paisagens sonoras, “HH” transporta a música de Hancock a um singular e cativante hibridismo, que poderia apenas ser a saudação de Lionel Loueke.

Faixas: Hang Up Your Hang Ups; Driftin’ Tell Me A Bedtime Story; Actual Proof; Cantaloupe Island; Butterfly; Dolphin Dance; Watermelon Man; Come Running To Me; Voyage Maiden; Rockit; Speak Like A Child; Homage to HH; One Finger Snap.

Músicos: Lionel Loueke: guitarra elétrica e acústica, loops.

Fonte: Ian Patterson (AllAboutJazz)

 

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