Hulk Hogan?
Harry Houdini? Hugh Hefner? Tão tentador quanto é imaginar Lionel Loueke,
animadamente, seguindo algo paradoxal, o “HH” do título, sim, homenageia Herbie
Hancock—um mentor e uma fonte de inspiração do guitarrista nascido no Benin. Um
jurado na audição do painel que selecionou Loueke para o Thelonious Monk Institute of Jazz, Hancock, consequentemente, convidou
os serviços das seis cordas de Loueke em “Possibilities (Hear Music, 2005) ”, “River:
The Joni Letters (Verve,2007)” e “The Imagine Project (Herbie Hancock Music,
2010)”. Um músico regular nas apresentações da banda da legenda dos teclados, Loueke
é, portanto, bem colocado para reinterpretar a música de Hancock, o que ele
faz, aqui, com seu estilo inimitável.
Loueke visita onze composições de Hancock de 1962 a 1983, indiscutivelmente,
seu período mais criativo, quando ele pulou do post-bop e hard-bop ao
jazz influenciado pelo soul, jazz-funk e hip-hop eletro-funk/instrumental. Abordagem
despojada da voz e guitarra de Loueke—com laços adicionando texturas e
profundidades— toques do terreno comum dentro da música, isto para dizer, melodia
pronunciada, lirismo e sofisticação harmônica. Músicas da lavra de Hancock,
"Cantaloupe Island" e "Watermelon Man"—um imenso sucesso
com Mongo Santamaria—são talvez alvos fáceis, retrabalhados aqui como exercício
de funk lento. A primeira é um pouco simplória, mas na segunda, as
improvisações influenciadas pelo kora (NT: instrumento musical de cordas originário
do oeste africano) e balanço percussivo, trabalham a magia delas, modernizando
o som familiar.
A sobreposição, ocasionalmente, empresta um sentimento
pequeno do grupo aos procedimentos, mas a habilidade de Loueke, simultaneamente,
predigita as linhas do baixo e padrões da guitarra rítmica, exploração da
percussão e lidera os embelezamentos —ou qualquer combinação disto —frequentemente
acompanhado pelo seu vocalise
tonificado — que interpretam tal manipulação, em estúdio, largamente
desnecessária. Dito isto, o feitiço etéreo e notas em circuitos cintilantes que
pontuam seu toque comovente na assombrosa "Tell Me A Bedtime Story" ou
a contramelodia pictoricamente eletrificada, que pisoteia levemente em
"Voyage Maiden"—uma das suas duas composições—e adiciona subtítulos
emocionantes para arranjos básicos diferentes. A outra composição de Loueke,
"Homage to HH", evita tais armadilhas, com o toque de Loueke e arrulhos,
principalmente ternos, suavemente vindo do coração em uma oferta.
Há uma elegância pastoral na tomada encantadora de Loueke
para "Dolphin Dance", onde sua turma matiza o entrelaçamento da
melodia, notas de baixo e arpejos sedutores, um par de músicas, onde Loueke repousa
seu vocalise, é tudo muito
impressionante com restrição. O balanço galopante de "Actual Proof" é
o principal aceno para o original jazz-funk
de Hancock, que Loueke reimagina através de um prisma folclórico africano. "Butterfly",
que toma como seu ponto de início e fim a melodia encantadora de Hancock, e "Come
Running To Me", vagamente abrasileiradas, são processadas com duetos
sedosos entre guitarra e voz. Loueke assume liberdades fascinantes com "Rockit"
e revela virtuosismo em entonação com flocos, uma, assumidamente, versão moderna
de "One Finger Snap", post-bop para o século XXI.
Homenagem aos grandes do jazz é parte da linguagem
codificada do Idioma jazzístico, mas com este, primordialmente, trabalho acústico,
Loueke homenageia Hancock, que, seguramente, apreciaria, pela construção
daquilo que ficou para trás. Do lirismo de ternura carinhosa e do dançável funk
africano às contemporâneas paisagens sonoras, “HH” transporta a música de Hancock
a um singular e cativante hibridismo, que poderia apenas ser a saudação de
Lionel Loueke.
Faixas: Hang
Up Your Hang Ups; Driftin’ Tell Me A Bedtime Story; Actual Proof; Cantaloupe
Island; Butterfly; Dolphin Dance; Watermelon Man; Come Running To Me; Voyage
Maiden; Rockit; Speak Like A Child; Homage to HH; One Finger Snap.
Músicos: Lionel Loueke: guitarra elétrica e acústica, loops.
Fonte: Ian
Patterson (AllAboutJazz)
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