Uma ampla atratividade da ECM Records esteve sempre encorajando a colaboração transcultural.
Através de países e gêneros, ouvintes e críticos similares têm se deleitado em
gravações de “Codona (1979) ” a “Le Pas du Chat Noir (2001) ”, “Chants, Hymns
and Dances (2004) ” a “Arco Iris (2011) ”.
Há prazer em ver músicos de diversas formações estarem juntos para ter
suas composições tratadas como marca registrada, que é a qualidade de suas
gravações.
O projeto Siwan do
compositor, tecladista e percussionista norueguês Jon Balke, agora em sua
terceira corporificação, registrou múltiplos arranjos dos instrumentistas
nestas classificações. O primeiro lançamento “Siwan (2009)”, notavelmente
apresentou a vocalista marroquina, Amina Alaoui, e o trompetista Jon Hassell. Para
“Nahnou Houm (2017)”, Alaoui foi substituída por Mona Boutchebak, uma oudista e
vocalista argelina, que reprisa seu papel no último “Siwan, Hafla”. A orquestra vai além com a utilização do baterista
norueguês Helge Norbakken, do mestre turco do kemençe (NT: Kemenche ou Lyra é um nome usado para
vários tipos de instrumentos musicais de arco de cordas originários do
Mediterrâneo Oriental, particularmente na Armênia, Grécia, Irã, Turquia e
Azerbaijão e regiões adjacentes ao Mar Negro), Derya Türkan; o
iraniano, que toca tombak, Pedram Khavar Zamini e o violinista barroco Bjarte
Eike. Dado o tamanho desta banda, é, talvez, surpreendente que “Hafla” se desenvolva
com tal sutileza, uma qualidade compartilhada com outros lançamentos de Balke. Alguém
que tem o senso de andar suavemente através de um palácio ornamentado conforme
o período Otomano, tão profundamente imerge na instrumentação e timbres. A
música de Balke também tem uma tendência cerebral e experimental (veja “Warp on
ECM” de 2016), nunca deixa de cativar. “Hafla” providencia vislumbres das habilidades
composicionais de Balke, enquanto mantém uma atmosfera de misticismo e aventura.
Um determinante aspecto do álbum é o glissando de cordas ao
fundo, que chicoteia como se fustigado por ventos do deserto e traz à mente "Orient
& Occident" de Arvo Pärt. Como
predecessores de “Hafla”, os humores principais, aqui, são um mistério, curiosidade,
sinceridade e paixão, e os vocais de Boutchebak providenciam a batida do
coração do álbum. Às vezes, ela fala suavemente, mas firmemente, como recitando
um encantamento esotérico (as letras de “Hafla” são extraídas dos escritos de Wallada
bint al-Mustakfi, uma princesa omíada e poetisa do século XI). Em outras
ocasiões ela canta alegremente e insuperavelmente graciosa. Em "Mirada
Furtiva", ela é mais vigorosa e forte, sua voz arrebatadora supera uma
melodia frugal de oud e pulsações eletrônicas abstratas até que seja gradualmente
superada em turbulento ambiente do mar (veja também “Being Dufay”, de 2009, de
encontro inovativo entre John Potter e Ambrose Field, também pela ECM).
Há muitos momentos em que estão em boa companhia com o lastimoso
jazz árabe de Anouar Brahem em “Barzakh (ECM, 1991)” ou “Astrakan Café (ECM,
2000)”, ou a colaboração pan-mediterrânea mencionada acima, Arco Iris. As
melodias lancinantes do kemençe de Türkan, também tendo uma certa similaridade
com a lira do artista, companheiro da ECM, Sokratis Sinopoulis.
“Hafla” é um documento cativante de uma colaboração transcultural
de distintas vozes culturais, apresentando uma visão singular e envolvente.
Faixas: Tarraquab; Enamorado de Jupiter; Mirada Furtiva; La
Estrella Fugaz; Arrihu Aqwadu Ma Yakunu Li-Annaha; Dialogo en la Noche; Linea
Oscura; Saeta; Uquallibu; Wadadtu; Visita; Is There No Way.
Músicos: Jon Balke: piano; Mona Boutchebak: vocal; Derya
Türkan : kemençe; Bjarte Eike: violino; Helge Norbakken: bateria; Pedram Khavar
Zamini: percussão; Per Buhre: viola.
Fonte: David
Bruggink (AllAboutJazz)
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