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sábado, 3 de dezembro de 2022

JON BALKE - SIWAN: HAFLA (ECM Records)

Uma ampla atratividade da ECM Records esteve sempre encorajando a colaboração transcultural. Através de países e gêneros, ouvintes e críticos similares têm se deleitado em gravações de “Codona (1979) ” a “Le Pas du Chat Noir (2001) ”, “Chants, Hymns and Dances (2004) ” a “Arco Iris (2011) ”.  Há prazer em ver músicos de diversas formações estarem juntos para ter suas composições tratadas como marca registrada, que é a qualidade de suas gravações.

O projeto Siwan do compositor, tecladista e percussionista norueguês Jon Balke, agora em sua terceira corporificação, registrou múltiplos arranjos dos instrumentistas nestas classificações. O primeiro lançamento “Siwan (2009)”, notavelmente apresentou a vocalista marroquina, Amina Alaoui, e o trompetista Jon Hassell. Para “Nahnou Houm (2017)”, Alaoui foi substituída por Mona Boutchebak, uma oudista e vocalista argelina, que reprisa seu papel no último “Siwan, Hafla”. A orquestra vai além com a utilização do baterista norueguês Helge Norbakken, do mestre turco do kemençe (NT: Kemenche ou Lyra é um nome usado para vários tipos de instrumentos musicais de arco de cordas originários do Mediterrâneo Oriental, particularmente na Armênia, Grécia, Irã, Turquia e Azerbaijão e regiões adjacentes ao Mar Negro), Derya Türkan; o iraniano, que toca tombak, Pedram Khavar Zamini e o violinista barroco Bjarte Eike. Dado o tamanho desta banda, é, talvez, surpreendente que “Hafla” se desenvolva com tal sutileza, uma qualidade compartilhada com outros lançamentos de Balke. Alguém que tem o senso de andar suavemente através de um palácio ornamentado conforme o período Otomano, tão profundamente imerge na instrumentação e timbres. A música de Balke também tem uma tendência cerebral e experimental (veja “Warp on ECM” de 2016), nunca deixa de cativar. “Hafla” providencia vislumbres das habilidades composicionais de Balke, enquanto mantém uma atmosfera de misticismo e aventura. 

Um determinante aspecto do álbum é o glissando de cordas ao fundo, que chicoteia como se fustigado por ventos do deserto e traz à mente "Orient & Occident" de Arvo Pärt.  Como predecessores de “Hafla”, os humores principais, aqui, são um mistério, curiosidade, sinceridade e paixão, e os vocais de Boutchebak providenciam a batida do coração do álbum. Às vezes, ela fala suavemente, mas firmemente, como recitando um encantamento esotérico (as letras de “Hafla” são extraídas dos escritos de Wallada bint al-Mustakfi, uma princesa omíada e poetisa do século XI). Em outras ocasiões ela canta alegremente e insuperavelmente graciosa. Em "Mirada Furtiva", ela é mais vigorosa e forte, sua voz arrebatadora supera uma melodia frugal de oud e pulsações eletrônicas abstratas até que seja gradualmente superada em turbulento ambiente do mar (veja também “Being Dufay”, de 2009, de encontro inovativo entre John Potter e Ambrose Field, também pela ECM).

Há muitos momentos em que estão em boa companhia com o lastimoso jazz árabe de Anouar Brahem em “Barzakh (ECM, 1991)” ou “Astrakan Café (ECM, 2000)”, ou a colaboração pan-mediterrânea mencionada acima, Arco Iris. As melodias lancinantes do kemençe de Türkan, também tendo uma certa similaridade com a lira do artista, companheiro da ECM, Sokratis Sinopoulis.

“Hafla” é um documento cativante de uma colaboração transcultural de distintas vozes culturais, apresentando uma visão singular e envolvente.

Faixas: Tarraquab; Enamorado de Jupiter; Mirada Furtiva; La Estrella Fugaz; Arrihu Aqwadu Ma Yakunu Li-Annaha; Dialogo en la Noche; Linea Oscura; Saeta; Uquallibu; Wadadtu; Visita; Is There No Way.

Músicos: Jon Balke: piano; Mona Boutchebak: vocal; Derya Türkan : kemençe; Bjarte Eike: violino; Helge Norbakken: bateria; Pedram Khavar Zamini: percussão; Per Buhre: viola.

Fonte: David Bruggink (AllAboutJazz)

 

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