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sábado, 21 de janeiro de 2023

ANDRÉ B. SILVA - MT. MERU (Clean Feed)

Depois da revelação com os The Rite of Trio e da afirmação com as guitarras de “The Guit Kune Do”, André B. Silva volta a surpreender com uma irreverente música de câmara neste novo “Mt. Meru”.

Primeiro, foi a surpresa. Com o disco “Getting All the Evil of the Piston Collar!” (Carimbo Porta-Jazz, dezembro 2015) ficamos a conhecer os portuenses The Rite of Trio e o seu jazz-rock fascinante, atrevido, enérgico, desafiante; o seu segundo disco, “Free Development of Delirium” (Clean Feed, outubro 2021), e as consequentes atuações ao vivo (verdadeiro elogio da loucura), elevaram ainda mais a franquia.

Pelo meio, André B. Silva, guitarrista do trio, apresentou o seu primeiro trabalho em nome próprio: “The Guit Kune Do” (Carimbo Porta-Jazz, novembro 2020), juntando cinco guitarras elétricas com baixo e bateria, numa exploração sônica muito original. O grupo mostrou-se ao vivo no Festival Porta-Jazz 2021, uma atuação onde tivemos oportunidade de testemunhar aquela música original que tem prazer em provocar o ouvinte.

Músico, compositor e professor, André B. Silva vem do Porto. Viveu em Nova Iorque durante dois anos, onde fez um mestrado em estudos de jazz na Queens College. Além dos referidos projetos, o guitarrista lidera ainda um outro grupo em nome próprio, André B. Silva 4tet, onde pratica uma exploração mais assumida (e subversiva) do universo do jazz – esta formação ainda não editou nenhum registro, apenas se apresentou ao vivo.

Agora, para algo completamente diferente, e pela mão da Clean Feed, chega-nos este “Mt. Meru”. A formação é novamente inusitada: a par da guitarra de B. Silva estão José Soares (saxofone), Raquel Reis (violoncelo), Sophie Bernado (fagote), Paulo Bernardino (clarinete baixo), André Carvalho (contrabaixo) e Ricardo Coelho (bateria, percussão e vibrafone). O septeto explora composições originais de André B. Silva e o resultado é uma amálgama de jazz e música de câmara, uma música contemporânea que cruza universos e referências.

A base dos temas assenta na composição, mas abre-se espaço para a improvisação e, nesta mescla, a música vai resultando fluída. O autor, guitarrista e compositor apresenta este trabalho como “uma viagem espiritual e introspectiva através de um universo feito de montanhas, corpos celestes e pó de sonhos”. A música apresentada certamente reflete essa mistura de referências, pela diversidade de ambientes sonoros que são explorados.

“Caronte em chamas”, o tema inaugural, abre o disco numa toada paisagística, minimalística, em desenvolvimento lento, quase soando a banda-sonora de filme de terror, até no final se assumir uma estrutura rítmica. “O retorno de Saturno” é um bom exemplo do trabalho do grupo: começamos em minimalismo, segue-se um solo atípico de guitarra, em registro pontilhístico, e o tema desemboca num inesperado melodismo clássico, em tom jovial, com o envolvimento coletivo. E “Expurgo e catarse”, ao longo dos seus dezesseis minutos, atravessa diferentes ambientes, indo do pequeno detalhe da melodia, passando por momentos quase orquestrais até à expansão catártica (fazendo jus ao título).

É música nova, fresca, inédita. Depois da revelação com os The Rite of Trio e da afirmação com as guitarras de “The Guit Kune Do”, André B. Silva volta a surpreender com uma irreverente música de câmara neste novo “Mt. Meru”. Esperamos que no futuro continue sempre a trazer surpresas.

Faixas: Caronte em Chamas; 5:06; O Retorno de Saturno; Oleka; Expurgo e Catarse; Meditação da Montanha.

Músicos: André B. Silva (guitarra, composição); José Soares (saxofone); Raquel Reis (violoncelo); Sophie Bernado (fagote); Paulo Bernardino (clarinete baixo); André Carvalho (contrabaixo); Ricardo Coelho (bateria, percussão e vibrafone)

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=_a8F8GMHRcY

Fonte: Nuno Catarino (jazz.pt)



 

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