Depois da revelação com os The Rite of Trio e da
afirmação com as guitarras de “The Guit Kune Do”, André B. Silva volta a
surpreender com uma irreverente música de câmara neste novo “Mt. Meru”.
Primeiro, foi a surpresa. Com o disco “Getting All the Evil
of the Piston Collar!” (Carimbo Porta-Jazz, dezembro 2015) ficamos a conhecer
os portuenses The Rite of Trio e o seu jazz-rock fascinante, atrevido,
enérgico, desafiante; o seu segundo disco, “Free Development of Delirium”
(Clean Feed, outubro 2021), e as consequentes atuações ao vivo (verdadeiro
elogio da loucura), elevaram ainda mais a franquia.
Pelo meio, André B. Silva, guitarrista do trio, apresentou o
seu primeiro trabalho em nome próprio: “The Guit Kune Do” (Carimbo Porta-Jazz,
novembro 2020), juntando cinco guitarras elétricas com baixo e bateria, numa
exploração sônica muito original. O grupo mostrou-se ao vivo no Festival
Porta-Jazz 2021, uma atuação onde tivemos oportunidade de testemunhar aquela
música original que tem prazer em provocar o ouvinte.
Músico, compositor e professor, André B. Silva vem do Porto.
Viveu em Nova Iorque durante dois anos, onde fez um mestrado em estudos de jazz
na Queens College. Além dos referidos projetos, o guitarrista lidera ainda um
outro grupo em nome próprio, André B. Silva 4tet, onde pratica uma exploração
mais assumida (e subversiva) do universo do jazz – esta formação ainda não
editou nenhum registro, apenas se apresentou ao vivo.
Agora, para algo completamente diferente, e pela mão da
Clean Feed, chega-nos este “Mt. Meru”. A formação é novamente inusitada: a par
da guitarra de B. Silva estão José Soares (saxofone), Raquel Reis (violoncelo),
Sophie Bernado (fagote), Paulo Bernardino (clarinete baixo), André Carvalho
(contrabaixo) e Ricardo Coelho (bateria, percussão e vibrafone). O septeto
explora composições originais de André B. Silva e o resultado é uma amálgama de
jazz e música de câmara, uma música contemporânea que cruza universos e
referências.
A base dos temas assenta na composição, mas abre-se espaço
para a improvisação e, nesta mescla, a música vai resultando fluída. O autor,
guitarrista e compositor apresenta este trabalho como “uma viagem espiritual e
introspectiva através de um universo feito de montanhas, corpos celestes e pó
de sonhos”. A música apresentada certamente reflete essa mistura de
referências, pela diversidade de ambientes sonoros que são explorados.
“Caronte em chamas”, o tema inaugural, abre o disco numa
toada paisagística, minimalística, em desenvolvimento lento, quase soando a
banda-sonora de filme de terror, até no final se assumir uma estrutura rítmica.
“O retorno de Saturno” é um bom exemplo do trabalho do grupo: começamos em
minimalismo, segue-se um solo atípico de guitarra, em registro pontilhístico, e
o tema desemboca num inesperado melodismo clássico, em tom jovial, com o
envolvimento coletivo. E “Expurgo e catarse”, ao longo dos seus dezesseis
minutos, atravessa diferentes ambientes, indo do pequeno detalhe da melodia,
passando por momentos quase orquestrais até à expansão catártica (fazendo jus
ao título).
É música nova, fresca, inédita. Depois da revelação com os The
Rite of Trio e da afirmação com as guitarras de “The Guit Kune Do”, André
B. Silva volta a surpreender com uma irreverente música de câmara neste novo
“Mt. Meru”. Esperamos que no futuro continue sempre a trazer surpresas.
Faixas: Caronte em Chamas; 5:06; O Retorno de Saturno;
Oleka; Expurgo e Catarse; Meditação da Montanha.
Músicos: André B. Silva (guitarra, composição); José Soares
(saxofone); Raquel Reis (violoncelo); Sophie Bernado (fagote); Paulo Bernardino
(clarinete baixo); André Carvalho (contrabaixo); Ricardo Coelho (bateria,
percussão e vibrafone)
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=_a8F8GMHRcY
Fonte: Nuno Catarino (jazz.pt)
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