Há momentos nesta vida para sentar, refletir e banhar-se em
puro respeito. Com “Ella At The Hollywood Bowl: The Irving Berlin Songbook” os
ouvintes alcançam um pouco do sabor de absoluta perfeição: uma grande ideia apresentada
com tal graça e elegância, que parece simples, pura e divina. Esta música não
lançada anteriormente veio da coleção privada de Norman Granz, notável produtor e fundador da Verve
Records. O artista vencedor do Grammy e produtor Gregg Field, adoravelmente,
mesclou esta coleção diretamente de fitas de um quarto de polegadas, gravadas durante
este elaborado concerto de 1958. Como elaborar? O concerto inclui uma orquestra
completa, com arranjos conduzidos e elaborados por Paul Weston, todos
providenciam uma nuvem emplumada para, talvez, a maior cantora do jazz flutuar.
E ela flutua. A voz de Fitzgerald é uma maravilha. A gravação do cancioneiro (que
inclui o cancioneiro de Irving Berlin) é frequentemente considerada o melhor
trabalho dela, ou que qualquer outro vocalista no jazz, já criou. Porém ouvir
ao vivo, no venerável Hollywood Bowl, demonstra como espantosos estavam
todos os músicos no palco e como maravilhosa veio a ser a capacidade artística
de Ella conforme ela iniciava os seus 40 anos. Da batida suave de “The Song Is
Ended” a “How Deep Is The Ocean”, “Cheek To Cheek”, “Let’s Face The Music And
Dance”, “Putting On The Ritz” e “Alexander’s Ragtime Band” a voz e a música são
atemporais. Então há as baladas. As cordas em “How Deep Is The Ocean” derramam-se
direto na alma. Em “Russian Lullaby”, o vibrato de Fitzgerald flutua quase como
um violino que quer fazer você chorar. “Get Thee Behind Me Satan” oferece uma
lembrança pitoresca da tentação do amor. Tudo isto é feito mais requintadamente
pela deslumbrante limpidez desta gravação. Antes do verão acabar, é ótima para
se aconchegar no quintal em uma cadeira confortável e imaginar que está em Los
Angeles nos anos 1950, há uma suave brisa soprando através de uma das maiores
arenas da música, que a humanidade já criou, e naquele palco há uma voz que
aparece apenas uma vez na vida.
Fonte: Frank Alkyer (DownBeat)
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