Agora, na metade dos seus oitenta anos, o compositor, arranjador,
multi-instrumentista e visionário versátil, Hermeto Pascoal, celebrou um acordo
com a maravilhosa Far Out Recordings da
Inglaterra. O projeto original da gravadora com ele foi o lançamento estelar de
“Viajando Com o Som: The Lost '76 Vice-Versa Studio Sessions”, em 2017 (NT: Resenha publicada neste blog em 27/07/2017). Ele estava
observando o relançamento pela Far Out
do seu “Airto Moreira/Flora Purim” produzido em 1970, autointitulado álbum de
estreia, e providenciou-lhes esta fita: o primeiro lançamento de “Planetário da
Gávea” de 1981. Está entre os primeiros concertos de Pascoal, ao vivo, com um
supergrupo, que viria a ser conhecido, simplesmente, como "O Grupo."
Pascoal toca saxes, flautas, instrumentos de sopro baixo, piano, e ele
juntou-se aos bateristas/percussionistas, Pernambuco, Marcio Bahia e Zé Eduardo
Nazário, ao baixista Itiberê Zwarg, ao tecladista Jovino Santos Neto e ao
saxofonista soprano/flautista Carlos Malta. Este ocorreu no Planetarium, em
1981, no Rio. Foi uma apresentação festiva. A banda passou meses praticando
sete dias por semana, e não gravaria em estúdio até o ano posterior. Muito do
material, aqui, não foi lançado anteriormente.
Esta fita é uma caixa de ressonância de mais de 40 anos. A
restauração de Daniel Maunick é notável. Enquanto alguns instrumentos estão um
pouco desequilibrados, a fidelidade está excelente. Ele teve grande confiança
para preservar a atmosfera rude dos trabalhos e a dramaticidade afiada da
banda. A abertura do medley de
"Paz Amor e Esperança" e "Homônimo Sintróvio" dura mais de
meia hora. O criador, que apareceu em “Cerebro Magnético” de 1980, inicia com
improvisação espectral de escaleta, instrumentos de sopro e zumbidos nos teclados,
antes de Zwarg, o instrumento de sopro baixo de Pascoal e os bateristas
entrarem em ação. Flui através do samba, free
jazz e fusion pelos próximos 18
minutos, criando uma tapeçaria de interação espirituosa. Após flauta e solos de
teclado, a não lançada anteriormente, "Homônimo Sintróvio", sussurra
com linhas simples do sax soprano, Rhodes
piano e uma percussão sincopada antes de explodir em uma orgia de ritmo. "Samba
do Belaqua" oferece instrumentos de sopro agudos em uma pegada post-bop à frente, balançada por um
ritmado Rhodes piano, integrando uma
maravilhosa improvisação melódica e citações de da era de Bob James na CTI. O
solo do tenor de Pascoal é ressonante, colorido e complexo. Ele apresenta a
previamente não lançada "Bombardino", um elegante exercício em um jazz fusion improvisado dentro de um
samba eletrificado. A famosa, frequentemente, interpretada composição do autor,
"São Jorge", aparece em um excepcional medley com a funkeada, uma
jam não gravada, "Ilza na
Feijoada", ofertando um espantoso solo de sax soprano de Malta. O trabalho
encerra com "Jegue", que inicia como um estonteante samba em 7/4, justapondo
complexo lírico e dissonantes harmonias dentro de um acompanhamento melódico
improvisado, sugerindo a era do Weather Report de Heavy Weather e Mr. Gone. A invenção interativa polirrítmica e
interação é labiríntica. Envolve a linha de frente e os banham em pulsações
jubilosamente sincopadas. Pascoal e Malta oferecem importante conversação em
chamada-resposta antes de se mover através de suingante post-bop. “Planetário
da Gávea” é um Santo Graal para fãs de Pascoal e do jazz clássico brasileiro. Esta
música é apresentada como vaga, crua, jubilosa e virtuosa. Esta banda não
apenas despejou em todos os cilindros aqui, eles criaram extremamente inventivas
novas direções para um samba eletrificado, jazz-funk brasileiro e fusion dos anos 80.
Faixas
Disco 1
2 Samba Do Belaqua 13:45
3 Vou Prá Lá e Pra Cá 13:53
4 Bombardino 09:13
Disco 2
1 Era Prá Ser e Não Foi 12:39
2 São Jorge / Ilza na Feijoada 15:02
3 Duo de Bateras 07:24
4 Duo de Bateras II 01:24
5 Ferragens 04:31
6 Jegue 10:34
Fonte: Thom Jurek (AllMusic)
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