Com mais de cento e vinte e cinco anos de concertos e
gravações entre eles, poder-se-ia legitimamente argumentar que a pianista Marilyn
Crispell, o baixista Joe Fonda e o baterista Harvey Sorgen falaram, tocaram, atuaram
e ouviram todas as coisas que necessitavam ser ditas, tocadas, interpretadas e
ouvidas. A argumentação poderia continuar sobre o que o trio— Dreamstruck—
tem, individual e coletivamente, contribuído com alguns dos melhores
companheiros de viagem como Anthony Braxton, Karl Berger, Carla Bley, Archie
Shepp, Paul Motian e Pauline Oliveros. Porém, como todos estão ansiosos para
dizer estas coisas, dias difíceis, nós estamos em tempos sem precedentes. O que,
por omissão, faz de “With Grace In Mind” uma gravação singular.
O que é pela sua natureza. Sem interferência de coisas
reluzentes que nos distraia — meios de comunicação social de guerra, notícias
por cabo, tumulto de celebridades—"With Grace In Mind” resolve os seus
estados de espírito não com banalidades, mas com firmeza, compromissos
conscientes. Das ansiosas, quase cautelosas notas de abertura (a composição do
grupo "A Moment In the Shade"), o trio move-se com graça—difícil, conquistada,
reconfortante—conduzindo as sutis ações de Sorgen através de cada momento
abrangente conforme a graciosa, ainda que estranhamente sinistra, "We All
Make Mistakes" de Fonda (seu solo vem de um lugar profundamente caloroso).
"GS#2", especialmente vindo sobre os calcanhares da tranquila
reflexão de Crispell em "Midnight", (mais sobre isto depois), que
serve como um despertar para chamar a geração, que está deixando o mundo pior,
configura que eles encontraram e nós temos algo melhor a fazer em relação ao
inferno que está sobre nós. Agora!
Crispell, mesmo nos seus momentos mais livres, tem uma
tendência de classicismo romântico, que pode compelir e fascinar até ela
concluir seu pensamento. Sua animada "Transits", que sucede à desequilibrada
faixa título, lidera "Midnight", uma ária luminosa, se é que alguma
vez existiu. "Gary's Tune", indubitavelmente composta em tributo ao
seu querido amigo, o falecido Gary Peacock, deleita em memória, conforme a
pianista desenha as notas, que harmonizam suas memórias e adormece nas mais
ligeiras sugestões e respirações de "Somewhere Over the Rainbow". Uma
performance verdadeiramente singular. Uma verdadeiramente audição única.
Faixas: A Moment in the Shade; For Ornette; MGJ; We All Make
Mistakes; Drum(s); With Grace In Mind; Transits; Midnight; GS#2; Speak Up;
Gary's Tune.
Músicos: Marilyn Crispell: piano; Joe Fonda: baixo acústico;
Harvey Sorgen: bateria.
Fonte: Mike Jurkovic (AllAboutJazz)
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