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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

DREAMSTRUCK – WITH GRACE IN MIND (FSR)

Com mais de cento e vinte e cinco anos de concertos e gravações entre eles, poder-se-ia legitimamente argumentar que a pianista Marilyn Crispell, o baixista Joe Fonda e o baterista Harvey Sorgen falaram, tocaram, atuaram e ouviram todas as coisas que necessitavam ser ditas, tocadas, interpretadas e ouvidas. A argumentação poderia continuar sobre o que o trio— Dreamstruck— tem, individual e coletivamente, contribuído com alguns dos melhores companheiros de viagem como Anthony Braxton, Karl Berger, Carla Bley, Archie Shepp, Paul Motian e Pauline Oliveros. Porém, como todos estão ansiosos para dizer estas coisas, dias difíceis, nós estamos em tempos sem precedentes. O que, por omissão, faz de “With Grace In Mind” uma gravação singular.

O que é pela sua natureza. Sem interferência de coisas reluzentes que nos distraia — meios de comunicação social de guerra, notícias por cabo, tumulto de celebridades—"With Grace In Mind” resolve os seus estados de espírito não com banalidades, mas com firmeza, compromissos conscientes. Das ansiosas, quase cautelosas notas de abertura (a composição do grupo "A Moment In the Shade"), o trio move-se com graça—difícil, conquistada, reconfortante—conduzindo as sutis ações de Sorgen através de cada momento abrangente conforme a graciosa, ainda que estranhamente sinistra, "We All Make Mistakes" de Fonda (seu solo vem de um lugar profundamente caloroso). "GS#2", especialmente vindo sobre os calcanhares da tranquila reflexão de Crispell em "Midnight", (mais sobre isto depois), que serve como um despertar para chamar a geração, que está deixando o mundo pior, configura que eles encontraram e nós temos algo melhor a fazer em relação ao inferno que está sobre nós. Agora!

Crispell, mesmo nos seus momentos mais livres, tem uma tendência de classicismo romântico, que pode compelir e fascinar até ela concluir seu pensamento. Sua animada "Transits", que sucede à desequilibrada faixa título, lidera "Midnight", uma ária luminosa, se é que alguma vez existiu. "Gary's Tune", indubitavelmente composta em tributo ao seu querido amigo, o falecido Gary Peacock, deleita em memória, conforme a pianista desenha as notas, que harmonizam suas memórias e adormece nas mais ligeiras sugestões e respirações de "Somewhere Over the Rainbow". Uma performance verdadeiramente singular. Uma verdadeiramente audição única.

Faixas: A Moment in the Shade; For Ornette; MGJ; We All Make Mistakes; Drum(s); With Grace In Mind; Transits; Midnight; GS#2; Speak Up; Gary's Tune.

Músicos: Marilyn Crispell: piano; Joe Fonda: baixo acústico; Harvey Sorgen: bateria.

Fonte: Mike Jurkovic (AllAboutJazz)
 

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