Há algo tentadoramente fora de alcance no “The Sound Of
Listening” de Mark Guiliana Jazz Quartet. Não é uma música “difícil", mas
é enigmática. Após múltiplas reproduções o código permanece intacto. Parece que
algo importante está a acontecer, mas... o que exatamente? É um pouco como
encontrar o colega novaiorquino de Guiliana, o saxofonista tenor Oded Tzur pela
primeira vez. A música não é estrangeira, mas há algo profundamente diferente
em relação a ela.
Coincidentemente, o pianista neste primeiro álbum do Jazz
Quartet, desde 2017, é Shai Maestro, um membro da banda de Tzur. Maestro foi
substituído por Fabian Almazan no segundo álbum do Jazz Quartet, “Jersey
(Motema, 2017)”, mas ele foi o pianista na estreia do grupo, “Family First
(Beat Music, 2015)”, cuja formação—completada pelo baixista Chris Morrissey e
pelo saxofonista tenor Jason Rigby—retorna para “The Sound Of Listening”. Todos,
exceto Morrissey atuam em outros instrumentos. Maestro toca principalmente
piano acústico, mas adiciona mellotron, Ampli-Celeste (outro
teclado eletromecânico clássico) e Fender Rhodes. Rigby toca, principalmente, saxofone
tenor, porém adiciona clarinete baixo, clarinete e flauta. Guiliana toca a
bateria regular, sintetizadores e percussão.
Com Tzur, o código musical é fácil de quebrar: é o jazz tocado
através do paradigma da raga clássica indiana, liderado pelo saxofonista cuja
influência formativa primária foi o grande Dexter Gordon. Uma vez que se tenha
isso, obtém-se tudo. Com Guiliana não é tão simples. Há algo sobre as batidas, algo
sobre a paleta sonora, alguma coisa sobre a forma como o grupo interage. Há um
pouco de minimalismo, um pouco de clássico contemporâneo, um pouco de eletrônica.
Há um suave lirismo e há urgência, às vezes, tudo na mesma faixa. Tudo isto combina
tomar a música em outro lugar. Porém... onde exatamente?
A melhor arte, seja visual ou musical, está frequentemente
acima e além da descrição verbal ou análise cognitiva. O que você vê ou o que
você ouve, é o que se obtém. Caso se sinta bem, assume como verdade—e Guiliana,
se, por nenhuma outra razão que não seja a de usar um distintivo na lapela com
uma foto de John Coltrane na sua jaqueta, é de confiança. É melhor deixar ir e
desfrutar “The Sound Of Listening” pelo que ele é: cativante, misterioso jazz.
Faixas :The Path To Bliss; The Most Important Question; A
Way Of Looking; Our Essential Nature; The Courage To Be Free; Everything
Changed After You Left; The Sound Of Listening; Under The Influence; Practicing
Silence; Continuation.
Músicos: Mark Guiliana: bateria, sintetizadores (3, 5, 7),
programação de bateria (7), percussão (10); Chris Morrissey: baixo acústico;
Shai Maestro: piano, mellotron (1, 5, 7), Ampli-celeste (1, 5, 7), Fender
Rhodes (2); Jason Rigby: saxofone tenor, clarinete baixo (1, 3, 5, 7),
clarinete (1, 5), flauta (5).
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo;
https://www.youtube.com/watch?v=nWougERgnrE
Nota: Este álbum foi considerado,
pela DownBeat, um dos melhores lançados em 2022 com a classificação de 4 ½
estrelas.
Fonte: Chris May (AllAboutJazz)
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