Em todas suas gravações, Ivo Perelman, um improvisador
consumado e saxofonista, é conhecido por construir concordância sem emenda com
os músicos que o acompanha, indiferentemente se têm um longo relacionamento ou é
um colaborador recente dele. O estimulante e frequentemente suave “Magic Dust”
demonstra, soberbamente, esta sinergia e perfis individuais inovativos dos
membros da banda. Os 101 minutos de música são divididos em quatro cativantes
segmentos, que fluem entre si com elegância apaixonada.
"Impromptu", por instante, inicia com rítmicos
acompanhamentos improvisados e no estilo bop. O vigoroso tenor de Perelman flui
com agilidade através dos refrões intricados e dinâmicos do trio. Fora deste
cenário emerge os acordes cristalinos do pianista Christopher Parker. A peça,
rapidamente, abraça deliciosa dissonância com paixão fervilhante. A conversação
coletiva balança emoções rústicas com improvisação inteligente. O baterista
Chad Anderson contribui com uma cadência propulsiva com vivacidade entusiasmada
e o excepcional baixista William Parker persuade com modelos melancolicamente vibrantes,
angulares fora das suas cordas reverberantes. O quarteto conclui com uma nota
ansiosamente melancólica que se encaixa perfeitamente nos compassos de "The
Way of The Magician".
As linhas esperançosas com o arco de William Parker, os
pratos e guizos dispersos de Anderson, tão bem quanto as notas em cascata de Christopher
Parker constroem uma tensa ambiência. Perelman toca uma melodia melancólica e
contemplativa. Gradualmente ele e seu acompanhante engajam-se em uma espirituosa
réplica com controlado abandono. O resultado da improvisação coletiva, repleta
com grasnados, lamentos, carrilhões e batidas estrondosas, é tão dolorosamente
poética quanto alternativa, com mais passagens introspectivas. O solo com arco
de William Parker é expressivo, comovente e embebido com lirismo sereno, que
espelha as próprias reflexões blueseiras de Perelman.
Como Perelman, William Parker é também um artista prolífico
e versátil. Ele inicia "Cardician" com tema Oriental, com ressonância
serena da flauta japonesa, a shakuhachi.
Envolvendo Perelman em dueto, William Parker entrelaça suas expressivas frases
com aquelas melancólicas do saxofonista. Os outros membros da banda incrementam
a atmosfera Zen com a manipulação ocasional das cordas do piano, cuidadosamente
com notas sincronizadas e bateria rumorejante.
Retumbantes polirritmos de Anderson iniciam a faixa título
com uma energia extrovertida. Perelman lança um solilóquio intrigante e
erudito, que, soberbamente, incorpora ideias mais tradicionais dentro de
irrestrita e feérica espontaneidade. Similar ao restante deste lançamento, aqui,
igualmente, há períodos de quietude melancólica. Por exemplo, a meio caminho,
há um diálogo solene e sereno constituído com entonações curtas e afiadas e
fragmentos sonoros. A canção encerra com uma balada sobrenatural, que é
assustadoramente bonita e talvez seja o som mais "mainstream" deste
singular e inovador coletivo.
O mais marcante traço desta música é que o grupo,
simultaneamente, atua com uma unidade singular tão bem quanto quatro distintas,
ainda que interconectadas, vozes. Provocativo, comovente e requintado “Magic
Dust” é ainda outro ponto alto na discografia de Perelman.
Faixas : Impromptu;
The Way Of The Magician; Cardician; Magic Dust.
Músicos : Ivo
Perelman: saxofone tenor; Christopher Parker: piano; William Parker: baixo;
Chad Anderson: bateria
Fonte: Hrayr
Attarian (AllAboutJazz)
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