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segunda-feira, 17 de julho de 2023

IVO PERELMAN – REED RAPTURE IN BROOKLYN (Mahakala Music)

"Let's play two", a linha Cubs Hall-of-Fame formada pelo jogador de beisebol Ernie Banks em 1969, dita quando a temperatura em Chicago alcançou 40,5 graus celsius e seus companheiros de grupo estavam exaustos, pode encontrar sua analogia com este enorme empreendimento do saxofonista Ivo Perelman. Às onze horas de duração do jogo, as duas partidas citadas de Banks não são simples partidas, porém mais como duas frentes duplas. Como o defensor interno do baseball, Perelman tem energia ilimitada e um apetite infindável por criatividade, seja na música ou em artes visuais. Sua vasta discografia (onde ele frequentemente cria a arte das capas) é uma prova positiva. Começando no final dos anos 1980, o saxofonista veio a ser um dos artistas mais documentados em atividade em música improvisada. Desde a virada do século, ele lançou mais de 100 discos.

A história de Perelman é de imersão no processo criativo, alguém que inicia na música folclórica do seu nativo Brasil, onde ele estudou violão clássico antes de passar para o saxofone. Migrando para os Estados Unidos, ele participou brevemente da Berklee College of Music antes de abrir seu próprio caminho. Sua investigação o conduziu à música de Albert Ayler e as explorações do final da carreira de John Coltrane. Esta conversão pode ser ouvida em “Live (Zero In, 1997)” uma sessão tosca com William Parker e Rashied Ali. Avanço rápido de uma dúzia de anos e sua música progrediu para um som único e totalmente distinto. Evitando compor material sem pré-planejamento ou discussão, ele entra com a gravação de estúdio para realizar música espontânea. Na metade das sessões, ele está acompanhado pelo pianista Matthew Shipp, que compartilha das mesmas opiniões, e Perelman também pode ser encontrado na companhia de instrumentistas de cordas tais como Mat Maneri, Hank Roberts, e Mark Feldman ou pianistas conforme documentado na caixa “Brass And Ivory Tales (Fundacja Słuchaj!, 2021)”.

Com “Reed Rapture in Brooklyn”, ele junta-se a doze músicos de palhetas (vários saxofones e clarinetes) de diferentes gerações—Joe Lovano, Tim Berne, David Murray, Lotte Anker, James Carter, Vinny Golia, Jon Irabagon, Joe McPhee, Roscoe Mitchell, Colin Stetson, Dave Liebman e Ken Vandermark para gravar música em duo em estúdio. Embora, cada sessão pudesse ter sido lançada como um álbum independente, juntos eles revelam apenas como distinta a voz do saxofonista é.

O encontro de Perelman com Joe Lovano, que é talvez o mais tradicional instrumentista desta coletânea, resulta em catorze relativamente curtas performances. Joe, filho da legenda do bop Tony "Big T" Lovano em Cleveland, Ohio, é correntemente artista da ECM Records. Seu som hoje é eternamente doce. Se, embora, alguém seguisser sua carreira desde os dias iniciais e seu trabalho com Paul Motian e John Scofield, suas conexões com a liberdade sonora de Perelman são aparentes. Lovano com a melodia em Dó e os saxofones soprano aqui, com polvilhamento de frases no bebop e acompanhamentos improvisados do blues que equilibram registros animados de explorações de Perelman conforme Lovano acende um tom bastante romântico.

O saxofonista alto Tim Berne mantém um ar de intransigência e Perelman está finíssimo. Quase satisfatório. Berne, um discípulo declarado de Henry Threadgill, forjou sempre seu próprio caminho na música. Aqui seu som é combativo, espicaçando Perelman a escalar as mesmas alturas de registro superior. Esta agressão inflama uma resplandecência sonora que que continua até nas passagens mais silenciosas.

O início das carreiras de Perelman e David Murray foram quase intercambiáveis. Ambos encontram sua base na música de Albert Ayler. Como Perelman neste século, os resultados da gravação de Murray foram prolíficos e transbordando no final 1980 e 90. Ele foi um membro fundador do World Saxophone Quartet e desde então se tornou um estadista mais velho do jazz. Aqui, ele estabelece a troca do seu saxofone tenor por um clarinete baixo. Os sons alternam-se entre temperamental e exuberante. O som de Murray majoritariamente mantém a parte inferior com voos pós-Eric Dolphy empolgantes inseridos ao longo do trabalho.

A saxofonista dinamarquesa, Lotte Anker, deve ser doppelgänger (NT: segundo as lendas germânicas de onde provém, é um monstro ou ser fantástico que tem o dom de representar uma cópia idêntica de uma pessoa que ele escolhe ou que passa a acompanhar) de Perelman. Uma mestra de múltiplos saxofones, incluindo o tenor, ela adere ao alto e ao soprano. Talvez a razão seja o desejo de não replicar o tenor de Perelman. Os saxofonistas engajam-se em um contínuo entrelaçamento de sons, envolvendo linhas em torno de linhas. Isto cria bordas desgastadas que são cruzadas e tecidas de volta neste diálogo.

Ken Vandermark, como Murray, é outro saxofonista tenor que coloca ao lado seu principal instrumento e o troca por um clarinete. Embora, também proficiente no clarinete baixo, ele    adere a este instrumento. Seu som chama à mente as abstrações de Jimmy Giuffre. Embora, Vandermark seja um compositor talentoso, arranjador e líder, ele é também um formidável instrumentista free. As doze breves interações entre os instrumentistas trocam uma abordagem de chamada e resposta com a agressividade da música de associação livre, cadência para um compromisso satisfatório.

Ao contrário de todas as músicas gravadas no Brooklyn, Perelman viajou para Wisconsin para capturar este duo com Roscoe Mitchell. O legendário saxofonista foi um cofundador do Art Ensemble of Chicago e da Association for the Advancement of Creative Musicians (AACM). Suas explorações iniciais em performance solo e sua expansão de singular expressão lançou as bases para a aceitação do som e da carreira de Perelman. Mitchell escolhe ficar apenas com um tipo de instrumento, o saxofone baixo, e sua escolha controla o negócio. a entrega rápida usual é restrita a Perelman cinge-se à deliberada abordagem de Mitchell. O espaço aberto entre os músicos e entre as notas é em si fascinante.

Fora de Anthony Braxton e Vinny Golia, James Carter atua em maior variedade de saxofones. Ele é um omnívoro do som com interesses distintos. Aqui ele se limita o saxofone barítono. Ainda que, fronteiras não sejam possíveis para Carter. Mesmo que o barítono provoque pensamentos da extremidade inferior do som, ele segue Perelman nos registros mais altos, quando ele não está ludicamente aplicando as profundidades do seu instrumento. Este emparelhamento pode ser o mais espirituoso e de fato, mas divertido. Carter e Perelman dão cambalhotas, brinca e regozija-se nesta folia.

Se o beisebol de quintal é um esporte de pais e filhos, o futebol é sobre todos os irmãos. Ivo Perelman e Jon Irabagon jogam futebol em seu encontro. Suas sete faixas são uma exploração dos limites e capacidades do saxofone. Irabagon escolhe dois, o sopranino e o slide soprano. Estes saxofones atípicos efetuam sons não convencionais e inspiram músicos para explorar novos e frequentes patamares perturbadores.

O cartão de chamada para Joe McPhee teria "toque bem com outros". O multi-instrumentista octogenário tem uma imensa discografia atuando com gente que vai de Evan Parker e Steve Lacy a Cato Salsa Experience e The Thing. Este deve ser o seu primeiro encontro com Perelman, mas soam como amigos reunidos. McPhee utiliza o saxofone tenor, que faz a música sair como uma espécie de dança suave entre instrumentos de sopro. As viagens dos registros altos de Perelman são encorajados pelo baixo registro de McPhee. Em outro lugar, McPhee engaja-se em algumas vocalizações, alternando entre instrumento de sopro e voz. Isso por sua vez extrai  as expressões vocais de Perelman.

O som do saxofone baixo de Colin Stetson é análogo a um caminhão de dezoito rodas. É grandioso, não é um equipamento enorme. Com ele o saxofonista esteve criando fascinantes paisagens sonoras, frequentemente solo. Ele pode invocar texturas de outros músicos, que exigem um pequeno quadro de parceiros e engenheiros para fabricar. Stetson traz estes sons para a órbita de Perelman, gerando entonações trovejantes e reverberantes, rosnados, cliques e estalos. A gravidade de Stetson inspira Perelman a voar em registros altos do seu tenor e explorar aqueles mais baixos.

O eternamente subestimado saxofonista Vinny Golia chega nesta sessão com o saxofone pequenino soprilho, mais um clarinete e um trompa de basset, que também está na família do clarinete. Esta gravação foi próxima à sua casa na Costa Oeste, ele poderia ter trazido mais uns trinta instrumentos. Ele prefere alternar os instrumentos frequentemente, ainda aqui Golia se contenta em mudar de abordagem. Há passagens de chamada e resposta, fontes de alta intensidade, interlúdios blueseiros, o chilreio dos pássaros e ao equivalente musical de poemas  haiku.

O encontro com Dave Liebman, que atua no saxofone soprano, é o mais estruturado dos encontros reunidos aqui. O saxofonista tem um jeito próprio de organizar os sons, mesmo em um ambiente puramente improvisado. Isto para não dizer que Liebman depende de um baú cheio de tropos musicais, mais como se ele fosse fluente em vários idiomas e pode passar confortavelmente para qualquer vernáculo que ele seleciona. Novos ouvintes do mundo de Ivo Perelman devem querer se iniciar já que as onze faixas curtas com Liebman são as mais acessíveis.

Faixas: Ivo - Lovano - 01; Ivo - Lovano - 02; Ivo - Lovano - 03; Ivo - Lovano - 04; Ivo - Lovano - 05; Ivo - Lovano - 06; Ivo - Lovano - 07; Ivo - Lovano - 08; Ivo - Lovano - 09; Ivo - Lovano - 10; Ivo - Lovano - 11; Ivo - Lovano - 12; Ivo - Lovano - 13; Ivo - Lovano - 14; Ivo - Berne - 01; Ivo - Berne - 02; Ivo - Berne - 03; Ivo - Berne - 04; Ivo - Berne - 05; Ivo - Murray - 01; Ivo - Murray - 02; Ivo - Murray - 03; Ivo - Murray - 04; Ivo - Murray - 05; Ivo - Murray - 06; Ivo - Murray - 07; Ivo - Murray - 08; Ivo - Murray - 09; Ivo - Murray - 10; Ivo - Anker - 01; Ivo - Anker - 02; Ivo - Anker - 03; Ivo - Anker - 04; Ivo - Anker - 05; Ivo - Anker - 06; Ivo - Anker - 07; Ivo - Anker - 08; Ivo - Vandermark - 01; Ivo - Vandermark - 02; Ivo - Vandermark - 03; Ivo - Vandermark - 04; Ivo - Vandermark - 05; Ivo - Vandermark - 06; Ivo - Vandermark - 07; Ivo - Vandermark - 08; Ivo - Vandermark - 09; Ivo - Vandermark - 10; Ivo - Vandermark - 11; Ivo - Vandermark - 12; Ivo - Mitchell - 01; Ivo - Mitchell - 02; Ivo - Mitchell - 03; Ivo - Carter- 01; Ivo - Carter- 02; Ivo - Carter- 03; Ivo - Carter- 04; Ivo - Carter - 05; Ivo - Carter - 06; Ivo - Carter - 07; Ivo - Carter - 08; Ivo - Carter - 09; Ivo - Irabagon - 01; Ivo - Irabagon - 02; Ivo - Irabagon - 03; Ivo - Irabagon - 04; Ivo - Irabagon - 05; Ivo - Irabagon - 06; Ivo - Irabagon - 07; Ivo - McPhee - 01; Ivo - McPhee - 02; Ivo - McPhee - 03; Ivo - McPhee - 04; Ivo - McPhee - 05; Ivo - McPhee - 06; Ivo - McPhee - 07; Ivo - Stetson - 01; Ivo - Stetson - 02; Ivo - Stetson - 03; Ivo - Stetson - 04; Ivo - Stetson - 05; Ivo - Stetson - 06; Ivo - Golia - 01; Ivo - Golia - 02; Ivo - Golia - 03; Ivo - Golia - 04; Ivo - Golia - 05; Ivo - Golia - 06; Ivo - Golia - 07; Ivo - Golia - 09; Ivo - Golia - 09; Ivo - Golia - 10; Ivo - Golia - 11; Ivo - Liebman - 01; Ivo - Liebman - 02; Ivo - Liebman - 03; Ivo - Liebman - 04; Ivo - Liebman - 05; Ivo - Liebman - 06; Ivo - Liebman - 07; Ivo - Liebman - 08; Ivo - Liebman - 09; Ivo - Liebman - 10; Ivo - Liebman - 11.

Músicos:Ivo Perelman: saxofone tenor; David Murray: saxofone tenor; Joe Lovano: saxofone; James Carter: saxofone tenor; Tim Berne: saxofone alto; Roscoe Mitchell: saxofone alto; Joe McPhee: palhetas; Vinny Golia: palhetas; Jon Irabagon: saxofone alto; Ken Vandermark: saxofone; Colin Stetson: palhetas; Lotte Anker: saxofone.

Fonte: Mark Corroto (AllAboutJazz) 



 

 

 

 

 

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