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domingo, 3 de setembro de 2023

JOHN BEASLEY, MAGNUS LINDGREN, SWR BIG BAND – BIRD LIVES

Em 2017, aproximadamente, houve um encontro de mentes. Compositores e músicos, Beasley e Magnus Lindgren, reuniram-se como almas gêmeas e resolveram trabalhar em um projeto, envolvendo compartilhamento de algo apreciado por eles, no caso, Charlie Parker. Este tributo para o homem que veio a ser conhecido simplesmente como Bird, teve dificuldade em alçar voo. Obstáculos, nada maior que a Covid, vieram juntos no caminho. Dedicado à sua completude, a dupla junto com a SWR Big Band, têm agora prazerosamente apresentado esta produção magistral para, merecidamente, entusiasmar a crítica. Pessoas geniais não podem ser apressadas, mas podem ser alcançadas. Primeiro por Parker, claro, e agora por Beasley e Lindgren, onde esta celebração atrasada dos 100 anos do nascimento de Parker, ocorrida em 1920. A estreia foi em 2020, ao vivo, no The Hollywood Bowl. Agora, “Bird Lives” reestreará, aproximadamente, dois anos depois com a Knoxville Jazz Orchestra em 04 de Abril de 2023. “Bird Lives” teve sua estreia europeia em Stuttgart, a casa da SWR Big Band, e também em Estocolmo no outono de 2021.

Com a música selecionada de Bird with Strings, Live At the Apollo (Columbia, 1977) e Charlie Parker Plus Springs (Mercury Records, 1950), a visão não foi simplesmente para homenagear Parker, mas lançar nova luz em sua música com ouvidos, olhos e recursos do século XXI. É um balanço delicado de uma retribuição, sem sacrificar intencionalmente a luminosidade de uma era passada. Faz senso usar o popular/bem conhecido material. O clássico de big band "Cherokee" iniciou a gravação. A canção composta por Ray Noble foi tocada, antigamente, por muitas bandas. Não foi incomum, então, para sucessos de big bands sua interpretação. "Cherokee", entretanto, é provavelmente melhor recordada por uma versão do saxofonista tenor e alto Charlie Barnet e sua Big Band.

Beasley e Lindgren habilmente conectaram a composição de Parker, "Koko", a esta tomada. "Koko" foi a primeira incursão de Parker no bebop e veio a ser uma canção popular. Mesclando o estilo de big band com bebop no princípio desta gravação, expressando volumes conceituais. O crepitante sax tenor de Chris Potter foi apresentado dentro de um suíngue aquecido de uma big band explosiva, após uma entrada improvisada de Camille Bertault. Encrespada e multifacetada, o a seção de sopros constrói um frenesi mercurial. A seção rítmica prepara tudo e arrasa, antes de permitir a condimentada sucessão de notas para deslizar para um balanço ao piano, e apenas conforme impulsiona perfeitamente juntos para memorável e marcante melodia de "Cherokee". A familiar, e agora aquecida e aconchegante lembrança, foi o pulsante e espirituoso solo moderno de Potter. Se esta primeira faixa foi indicativa do que estava disponível nas restantes sete faixas, então nós estamos presos a algo especial. E assim se provou.

"Summertime" é outro clássico do jazz que foi interpretado e/ou gravado por uma pletora de diferentes artistas em uma variedade de gêneros ao longo dos anos. George Gershwin e Ira Gershwin criaram a canção, que pode ser tão facilmente alegre ou sufocante ou apenas, a depender do humor, aquilo que você quer que seja. Os doces acordes melódicos do guitarrista Klaus-Peter Schopfer capturaram a essência de Parker para o século XXI, junto a uma expressiva e objetiva vibração da saxofonista Tia Fuller. Em 1947, Parker, agora completamente engajado no bebop, tomou como sua "Scrapple from the Apple"" da grande cidade e do estrangeiro. Beasley disseca a percussão, abrindo uma nova ordem para o crepitante sax tenor de Lindgren. Tudo perpetuado pelas cordas firmemente feridas ainda que tocada agradavelmente. Também, referenciada como simplesmente "Scrapple", Parker singularmente usou dois contrafatos ("Honeysuckle Rose" e "I Got Rhythm") em sua composição. Deu-lhe, e agora Beasley e Lindgren, um amplo parque para diversões. Beasley tomou o agrupamento do poder das ferramentas para furtivas paisagens e constrói um arranjo robusto concebido para desenvolvimento. O brilhantemente fluido arranjo foi  destacado pela assinatura de Beasley compreende paradas e seguimentos, que foram bem ajustados para o trompetista Martin Auer.

Voltando a outro precioso standard, Joe Lovano batizou esta viagem de "I'll Remember April", graciosamente sentindo e mantendo cada nota com a destreza similar a Parker. As cascatas do tenor de Lovano sobre a fusão magnífica de instrumentos de sopro e cordas. O delicado balanço criou aberturas melódicas para a criativa barragem de suntuosas seleções de notas para Lovano. Uma SWR Big Band, poderosa e marcante a partir do ataque, teve uma oportunidade a chance para se estender e agitar em "Confirmation" de Parker. O robusto arranjo de Lindgren entrelaçou a furtividade da big band com o brilhante êxtase da flauta de Lindgren. A banda foi firme e saltitante, mas, agradavelmente, não em uma corrida. Fortemente pulsante pelos balanços do baixista. Não foi uma corrida para o final. Em vez disto, uma exibição de breves solos apimentados emergindo do suingue multifacetado de uma big band. Os oito minutos mais a explosão fez Parker ficar orgulhoso da sua intensidade e magia, enquanto o céu é o limite.

Muitas das composições de Parker viraram standards na indústria musical. Talvez, nada mais que "Donna Lee". Aqui, nós temos a familiaridade anteriormente mencionada de standards com os quais Parker nos presenteou, ao lado de novas visões, embora a amplitude de um moderno escopo e ouvido por um gênio coletivo do século XX e XXI. Beasley tinha apenas vencido um Grammy de 2021 por "Donna Lee". O melhor arranjo, a instrumental ou A Cappella, foi concedido a Beasley por "Donna Lee" reimaginado em seu álbum “Monk'estra Plays Beasley (Mack Records, 2020) ”. Isto não dissuadiu Beasley de convidar a popular senhorita "Donna Lee" para o baile outra vez. Depois de tudo, é uma composição de Parker e, claro, esta interpretação tem uma vida própria. Aqui a percussão suave prontamente suínga no movimento com a seção completa de instrumentos de sopro, envolvendo o saxofonista alto Miguel Zenón e as criativas explorações do saxofonista tenor Andi Maile. Uma inteligente mudança de direção desliga a banda, antes de uma vez mais irromper atrás do baixista Decebel Badilla e, uma vez mais, as seleções elegantes de notas da flauta de Lindgren.

"Laura" se espalha muito bem, e não estava indo para perder este cintilante afazer instrumental. O veterano saxofonista alto Charles McPherson, não estranho aos trabalhos de Parker, e bem familiarizado com "Laura", belamente encontrou um caminho para nos manter enraizados na era Parker, ainda com rarefeitas cintilações das coisas a vir. "Overture to Bird" é o que foi pretendido ser. Um grande final exibe os vastos e variados elementos que fazem, e continuam a fazer, Parker um singular e épica voz no gênero. Lindgren, talvez, reservou sua pulsação para o final com este estonteante e sensacional arranjo. A melodia rodopiando e compartilhando o espaço com o suíngue e adornos superiores, dá um amplo nascimento para o talento dos saxofonistas Mathias Erlewein e Klaus Graf para sobressaírem, livremente, no momento.

“Bird Lives” é sedutor e excitante do início ao fim. Musicalidade estelar, o melhor dos compositores do passado e atuais, todos aproveitados juntos, como se fossem um.

Faixas : Cherokee/Koko; Summertime; Scrapple From The Apple; I'll Remember April; Confirmation; Donna Lee; Laura; Overture to Bird.

Músicos: John Beasley: piano; Magnus Lindgren: saxofone tenor, flauta; SWR Big Band: banda/orquestra; The SWR Big Band: banda/orquestra; Chris Potter: saxofone; Joe Lovano: saxofone; Tia Fuller: saxofone; Charles McPherson: saxofone alto; Camille Bertault: vocal; Pedrito Martinez: percussão; Munyungo Jackson: percussão.

Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=zQGv-kYrso0

Fonte: Jim Worsley (AllAboutJazz) 

 

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