“Wild Tapestry” é um trabalho contratado, composto pelo
saxofonista Travis Laplante e baseado em “On the Corner” de Miles Davis, que em
si fez parte da homenagem a Karlheinz Stockhausen. Foi gravado ao vivo no The
Yellow Barn Music Festival em 2021 com a seguinte linha de frente: Antonina
Styczen na flauta, Ansel Norris no trompete, Oliver Barrett no trombone, Steve
Mackey na guitarra elétrica, Charles Overton na harpa, Marcus Elliot Gaved no
baixo acústico, Eduardo Leandro e Matthew Overbay na percussão e Laplante no
saxofone.
O resultado é uma pequena obra-prima. Inicia com um sopro de
vento, como se limpando o ar ou abertura para algo especial, espaço transmundano.
Então, uma flauta saltita sobre uma seção rítmica tocando imaculadamente no
passo. A próxima vem com os instrumentos de sopro providenciando uma vasta
cortina tonal e convidando a flauta, seguido por um acompanhamento do sax para
explorar além da melodia. Após poucos minutos, a peça converge em si mesmo e, com
a adição da harpa e uma guitarra algo sonhadora, inicia de novo, lentamente desdobrando-se
em uma paisagem bucólica. A peça sobe por poucos momentos e volta, novamente, a
ser soporífera. Esta é tão moderna quanto neorromântica. É a terceira via para
a contemporaneidade. Tem direção, mas foca mais nos clássicos tropos de
harmônicos orquestrais, brilhantes temas palpitantes e movimentos do que
liberação de energia ou construções típicas de solos. Apenas ouve passagens
estendidas no meio do caminho, que belamente mistura entonações dobradas e
acompanhamentos improvisados de jazz com afiadas linhas neoclássicas do
trompete, então cai em um número de dança polirrítmico. Sobre três quartos do
caminho, a peça inicia um majestoso e movente momento de ascensão. Sem aviso, entretanto,
esta seção abruptamente quebra em cacarejos e variações fragmentadas na melodia,
como se o sonho, ou o momento sagrado, esteja quebrando, mas ainda lutando para
existir. Esta passagem conclui como a peça iniciou, mas com uma seção mais
ampla e contemplativa de bufos e assobios e uma harpa fascinante, que
gentilmente dissipa a fantasia, enquanto insinuando que esse outro mundo
idílico pode realmente persistir de alguma forma, mesmo depois de ter caído
fora da percepção. Esta música permanece com você.
Esteticamente, “Wild Tapestries” relembra-me mais os
arranjos de Gil Evans para Miles Davis e “Eternal Voyage” de Markus Stockhausen,
do que o trippy funk de On the Corner ou, às vezes, as
composições inescrutáveis de Stockhausen mais velho. Ainda, eu escuto ecos da fusion
de Miles e Stockhausen o mais idoso nas transições e alternativamente com
momentos dançáveis e discordantes. É, depois de tudo, mais uma homenagem do que
reprodução. E é transcendente nisso.
Músicos : Travis Laplante – saxofone;Antonina Styczen –
flauta;Ansel Norris – trompete;Oliver Barrett – trombone;Steve Mackey –
guitarra elétrica;Charles Overton – harpa;Marcus Elliot Gaved – baixo
acústico;Eduardo Leandro – percussão;Matthew Overbay – percussão.
Nota: Este álbum foi
considerado, pela DownBeat, um dos melhores lançados em 2022 com a
classificação de 4 estrelas.
Fonte: Nick Ostrum (The Free Jazz Collective)
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