Um dos inconvenientes de ser um acompanhante consumado é que
pode ser difícil encontrar tempo para os próprios projetos como líder. Este é
certamente o caso do baixista Harvie S que, com uma longa carreira, tem se
distinguido com um soberbo trabalho de apoio a Sheila Jordan, Don Friedman,
Alan Broadbent e muitos outros. No entanto, a quantidade absoluta destas iniciativas
possibiita realizar seus próprios lançamentos aproveitando as brechas. Esperançosamente,
este não será o caso com “Wondering”, um álbum fino envolvendo um trio com o guitarrista
(e colíder) Roni Ben-Hur e a baterista Sylvia Cuenca. Preenchida com charme
subestimado, e compreendendo algumas ótimas escolhas de repertório, a dez
faixas oferecem uma abundância de inteligência. É jazz bem tocado do início ao
fim.
Harvie e Ben-Hur gravaram uma vez anteriormente, em “Introspection
(Jazzheads)” em 2018, assim foi uma escolha natural para fazer um
acompanhamento, desta vez com Cuenca assumindo as funções de bateria de Tim
Horner. Os três possuem uma harmonia simpática que é completamente convincente,
particularmente nas faixas com inflexão latina tais como "A Vontade
Mesmo" de Raul de Souza, um samba espirituoso que traz o grupo tocando a
partir do baixista e do guitarrista, e a maravilhosa "Ligia" de Antônio
Carlos Jobim, uma vitrine para a maestria de Ben-Hur na nova forma de bossa
nova. Os cortes diretos de jazz também são bastante eficazes, com uma
interpretação memorável do clássico de Miles Davis & Gil Evans,
"Boplicity", e tomada altamente suingante de "For Duke P"
de Bobby Hutcherson. "Some Wandering Bushmen" de Herbie Nichols tem
um apelo sinuoso graças ao trabalho cristalino de Cuenca nos tambores (para não
mencionar seu solo pulsante), e "The Forks" de Kenny Wheeler dá a Harvie
a oportunidade para demonstrar seu lirismo com um solo, que habilmente reflete a
marca registrada melódica do compositor.
O baixista e o baterista apresentam, individualmente, uma
composição. "Ray" é um tributo a Ray Brown, e o comum solo de bolso
de Harvie há uma homenagem para seu predecessor, enquanto "What Was" de
Ben-Hur fica em modo latino mais uma vez para destacar a sensibilidade do guitarrista
com uma melodia encantadora. Através de tudo, Cuenca é a força que mantém o
grupo junto, seu instinto veterano permitindo seu controle sobre a música para avançar
com sutileza e graça. Ela também recebe o que merece na produção do álbum, agradavelmente
ocupando o canal direito junto ao baixista e o guitarrista na esquerda,
permitindo uma completa apreciação do temperamento igualitário deste trio
excelente.
Faixas:
Boplicity; For Duke P; Ligia; A Vontade Mesmo; The Gentle Art of Love; Ray;
Some Wandering Bushmen; The Forks; What Was; Menage Blue.
Músicos: Harvie S: baixo acústico; Roni Ben-Hur: guitarra;
Sylvia Cuenca: bateria.
Fonte: Troy Dostert (AllAboutJazz)
Nenhum comentário:
Postar um comentário