Toda a obra de John Scofield pode ser dividida em gravações
baseadas em balanço ou em gravações diretas. No entanto, mesmo na propulsão
máxima do balanço, como em “A Go Go (Verve, 1998)”, para citar um exemplo
estelar, a base de Scofield no jazz direto nunca está longe da superfície. Por
outro lado, seu jazz mais convencional é sempre ritmicamente vital. “Uncle
John's Band”, o terceiro disco do guitarrista para a ECM como líder, seguindo “Swallow
Tales (2020)” e “John Scofield (2022)”, cai diretamente na última categoria. É
uma jóia.
Embora este álbum duplo apresente sete composições de Scofield
e sete reinterpretações, não é um álbum conceitual de raízes. Longe disto. Nas
mãos de Scofield as pontes entre o bebop dos anos 40 e a improvisação
contemporânea ou entre o folk dos anos 60 e brincadeiras malvadas baseadas em balanço
são suaves, ajudadas em pequena medida pela agilidade e verve do baterista Bill
Stewart e do baixista Vicente Archer. Poucos conhecem tão bem o toque de Scofield
como Stewart, um colaborador intermitente desde o início dos anos 1990. Com Archer,
a dupla tem sido a referência de Scofield desde “Combo 66 (Verve, 2016)”. Não é
à toa que isso soa como uma banda de irmãos experientes na estrada.
Das reinterpretações, "Mr. Tambourine Man" de Bob
Dylan, "Old Man" de Neil Young e "Uncle John's Band" do
Grateful Dead providenciam as peças mais suculentas para uma improvisação
coletiva com som moderno, tão distantes elas estão, ao menos ritmicamente, do
jazz tradicional. Circuitos percorrem o clássico de Dylan como um drone e uma
quase indiana qualidade da dobra de notas, que é apenas uma das cores que
filtram os solos de Scofield.
O básico do bebop "Budo"— Contrafato de Miles Davis
para "Hallucinations” de Bud Powell —e a composição do líder, "How
Deep", seguem um padrão de baixo ambulante. O ímpeto do trio parece mais
programático nessas peças estilizadas, embora não haja como negar o fogo no
jogo coletivo. Scofield está em uma forma hipnotizante por toda parte, combinando
paixão corajosa e elegante habilidade. Stewart e Archer também tecem o tipo de
magia rítmica que poderia funcionar como uma trilha sonora independente.
A interação intensa do trio é indiscutivelmente mais intensa
nos originais de Scofield, como na suingante "TV Band", com toque
folk "Back in Time" (com seus ecos de "When Johnny Comes
Marching Home") e a irresistível, com toque funk, "Mo Green" sendo
destaques. Mas em meio a toda agitação e flexão, "Stairway to the Stars"
e "Somewhere" emprestam um crédito silenciosamente sedutor à noção
raramente expressa de que Scofield é um baladeiro tão bom quanto qualquer outro
por aí.
Em uma entrevista para All About Jazz, em 2020, Scofield pondera
sobre a dicotomia do jazz: "Jazz é melhor quando é completamente
despreocupado. O único problema é quando você se preocupa com a música mais do
que com qualquer coisa no mundo, como ficar despreocupado?" Intuitivamente,
Scofield sabe como e o tem feito por anos. “Uncle John's Band” prova isso com
firmeza.
Faixas: Mr.
Tambourine Man; How Deep; TV Band; Back in Time; Budo; Nothing Is Forever; Old
Man; The Girlfriend Chord; Stairway to the Stars; Mo Green; Mask; Somewhere;
Ray's Idea; Uncle John's Band.
Músicos: John
Scofield (guitarra); Vicente Archer (baixo); Bill Stewart (bateria).
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=ugTEBmGdrMw
Fonte: Ian Patterson (AllAboutJazz)
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